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Não adianta tentar se esconder da depressão: é preciso aceitá-la
Aceitação é fundamental para tratamento da depressão. Nikko Macaspac/ Unsplash
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Neste mês, nosso conselheiro anônimo respondeu à carta de Lucas. O rapaz está passando por dificuldades com sua saúde mental e pede ajuda para lidar melhor com a situação. Caro Estranho aponta que aceitar e encarar a depressão é a melhor forma de tratar a situação.

Lucas pede ajuda para lidar com a depressão

Caro Estranho,

O motivo pelo qual escrevo talvez seja o mesmo de muitas outras pessoas. Eu me sinto solitário e não consigo falar com ninguém próximo a mim. Sempre me considerei extrovertido e brincalhão, porém, quando tudo fica mais sério, essa personalidade some por completo. Fico introspectivo ao extremo, de uma maneira que sei que é prejudicial. Passo a remoer tudo de ruim que já aconteceu comigo e me culpo até mesmo pelo que não está ao meu alcance.

Já procurei ajuda profissional. A psicóloga que me atendeu me encaminhou a um psiquiatra, como “potencialmente depressivo”. Algo que, mais tarde, foi confirmado por ele. Não demorou muito para que ele me prescrevesse uma medicação, o que me afugentou logo na primeira consulta. Na época, eu ainda acreditava em mim e pensava que seria capaz de vencer o que quer que fosse sozinho, sem a utilização de qualquer remédio, pois sei que eles têm efeitos desagradáveis.

Somado a tudo isso, sempre houve o receio de ser julgado. Nunca quis ser o “doente” ou, pior ainda, o “louco” da turma. Não sei o quanto você pode me ajudar, mas esta é uma tentativa válida. Ter com quem conversar de maneira anônima e poder mostrar quem eu realmente sou. Mesmo que você não me responda, agradeço o alívio momentâneo que escrever esta carta me trouxe.

Muito obrigado,
Lucas

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Caro Lucas,

Certa vez, a caminho do trabalho, fui tomado por um pensamento não muito comum. “Se eu bater o carro em um poste qualquer, talvez consiga resolver tudo isso sem desapontar ninguém.” Foi o que passou pela minha cabeça em plena avenida Sumaré, em São Paulo, antes de eu pegar o próximo retorno e voltar o quanto antes para casa.

Algumas horas depois, tentava explicar a um psiquiatra da urgência como tudo na minha vida, de repente, havia perdido o sentido. Nada mais me interessava e tudo tinha se tornado trabalhoso demais. Meu único companheiro, àquela altura, era um medo constante e sem qualquer fundamento. Foi naquela tarde de 2005 que comecei a me envolver com a depressão.

Aprendendo com os momentos difíceis

Ao longo das últimas décadas, eu e ela vivemos um relacionamento conturbado, porém necessário. Como você pode imaginar, consultei outros médicos, tomei muitos medicamentos, aprendi a lidar com um ou outro efeito colateral e fui apresentado a mais de um terapeuta. Não foi bonito, tampouco legal, mas foi o período da minha vida em que mais aprendi.

O que tenho a dizer a você, Lucas, é que não adianta lutar contra a depressão. Todas as vezes em que tentei me esconder ou fugir dela, ela se tornou mais forte. É uma doença sobre a qual muito pouco sabemos, mas que tem tratamento. Então, por que não o fazer? O segredo, meu caro, é aceitá-la. Como uma companheira indesejada, que estará sempre por perto.

Aceitar que tem depressão é a melhor forma de começar a tratá-la

Assumir que tenho depressão foi como sair do armário pela segunda vez. Digo isso, pois também há, em torno dela, uma série de ideias equivocadas e que precisam ser superadas. Não é frescura. Não é preguiça. Não é fraqueza. Não é loucura. Não é errado. Não é mentira. Esqueça todos os rótulos, Lucas. A vida é curta demais para ser limitada por qualquer um deles.

Sabe o que mais? Sou muito grato por tudo que vivi até hoje. Por favor, não reduza esta carta a um papo de autoajuda, nem pense que faço um elogio à depressão. Nada poderia estar mais errado do que isso. No entanto, aceitá-la foi o que me permitiu estar aqui com você hoje. Apesar de indesejada, nunca uma companheira me ensinou tanto sobre o amor e a empatia.

Um grande abraço,
Estranho

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