Pratos sem carne serão cada vez mais comuns em restaurantes
Em visita a um conceituado restaurante em São Paulo, André Mafra mostra que até os lugares conhecidos pelos cortes e sabores da carne estão abertos a oferecer pratos vegetarianos com ingredientes naturais.
Outro dia, estava em um restaurante na capital paulistana e pensei em quantas vezes se repetiu a cena de um ou uma adolescente reclamando com os pais junto à mesa, da falta de pratos sem carne no cardápio do restaurante de domingo escolhido pela família. Você conseguiu imaginar a cena?
Sabe que eu consigo até ver o pai bufando e praguejando que o mundo está ficando muito chato. Já a mãe, desesperada com o “climão” gerado e aflita, pensando como seu filhote vai sobreviver sem as vitaminas essenciais… Mas, fora os clichês sobre jovens ou pais e até mesmo sobre restaurantes, o fato é que o mundo está mudando. Não apenas os aborrecentes embarcam em modinhas gastronômicas, mas os adultos também estão mais ligados nas tendências e os estabelecimentos estão bastante atentos às ondas do mercado e do consumo.
Se você me acompanha nesta coluna há algum tempo deve ter visto o artigo que escrevi na Vida Simples sobre o assunto. Tratei sobre o possível fim dos restaurantes vegetarianos, devido à grande adaptação dos comuns a uma dieta mais diversificada.
Muito pratos depois, uma certeza
Após almoçar por repetidas vezes em companhia da companheira e dos sogrões, em alguns restaurantes cujo forte é claramente o preparo de carnes, senti um senso de urgência para escrever as sacadas que estava tendo. Devido a uma demanda de saúde naquele período, um dos comensais estava vivenciando uma restrição na ingestão de carnes.
Por isso, tivemos que recorrer aos acompanhamentos do cardápio e talvez, para sua surpresa, mas não para minha, o que ocorreu foi que, em 100% das vezes, o resultado foi excelente. O que notei é que cada vez mais os acompanhamentos recebem tratamento de prato principal. A consequência são delícias com muita qualidade, variedade e, principalmente, sabor.
Resolvi bater um papo com a chef de uma dessas casas, a competente Daniela França Pinto, do Cortés Asador, em um shopping de São Paulo, que muito educadamente me foi apresentada pela equipe e gerência do local. Senti que causei surpresa quando cheguei com a pauta de pratos sem carnes para a chef. Afinal, o local é sempre roteiro do público ou de jornalistas pela tradição de entregar excelência nos pratos com carnes.
O fato é que olhar com atenção para o mercado e enxergar as tendências de consumo não se trata de uma questão de ideologia, mas sim de inteligência. Virou condição básica, já esperada pelo cliente, que aquele bom restaurante tenha um cardápio variado. Além disso, espera-se que ele agrade a muitos paladares e novos hábitos, não necessariamente modinhas.
Cozinhando na floresta
Daniela França, com poucos minutos de conversa, me confessou que seu espaço na cozinha está cercado de ervas aromáticas, como tomilho-limão (se você não conhece, tem que conhecer), manjericão, dill e muitas outras. Além das ervas, também ressaltou que não consegue cozinhar sem um bom azeite.
Ela ainda me relatou que a palavra “asador” no nome do restaurante ocorreu por sua insistência, porque sua arte na condução da cozinha não cabia no tradicional rótulo da tradicional churrascaria, mas sim de um assador, um local de cozinha à brasa, onde tudo – inclusive vegetais e outros – poderiam ser por lá preparados.
Achei também muito curioso algo que me disse sobre um forte movimento de mulheres chefs de cozinha. Elas gerem as grelhas e assadores dos bons restaurantes de carnes do país e estão revolucionando o jeito de tratar as carnes e, claro, o entorno, os acompanhamentos.
Segundo ela, esses acompanhamentos sempre se repetem em quase todas as casas. Faltava criatividade, mais variedade, mais colorido na comida. E por lá, notei que o olhar está para além das carnes, afinal, a família, o casal, o jovem, o solteiro descolado, o faria limer, entre outros clãs de hoje em dia, precisam ser abraçados por novas tendências que estão chegando, e um gestor inteligente tem que saber como agradar a esse paladar exigente e diverso.
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Hora de falar menos e comer mais
Após falarmos sobre tudo e todos e do meu desabafo sobre a truculência de alguns que ainda não perceberam que quem não come carne, apenas quer seguir comendo bem, com qualidade e com sabor, sem coisas esquisitas ou da moda do momento, resolvemos almoçar e assim chegamos à parte mais saborosa da conversa e do texto.
Pude me refestelar com o queijo coalho e compota de figo e pimenta, mais uma polentinha frita sequinha de entrada. O banquete foi seguiu-se de um espetacular arroz primavera com legumes, cogumelos, amêndoas torradas, cebola frita na medida, finalizado com ervas frescas e limão siciliano. Não é assim que um arroz merece ser tratado?
É possível comer bem com pratos sem carne
Continuando o banquete, serviu-se uma parrillada de legumes macios, um palmito pupunha bem molinho feito na brasa, é claro; também um respeitoso creme de milho e, ainda, uma farofa da casa bem temperadinha com ovos. Tudo sem carnes, mas com ótimo aspecto e muito sabor.
Para finalizar, uns churritos com doce de leite argentino, mas, por pouco, não pedi a laranja tostada com mel de laranjeira, tomilho e iogurte. Afinal, quem não come carnes pode e merece se deleitar com uma deliciosa sobremesa, não é mesmo? Tá bom ou faltou algo?
Insisto que comer bem é um direito de todos os adeptos dos diferentes tipos de alimentação. Hoje em dia, se você não come carnes, por exemplo, não deixe de entrar naquele estabelecimento em que você acha que não vai ter nada para comer.
Tente, converse com o garçom, peça alternativas, e você vai se surpreender. No mínimo, vai mostrar para os donos do lugar que não ter um cardápio com alguma opção sem carnes está fora de moda. Uma moda que não volta atrás, porque está mais do que consolidada.
*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.
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