Como se preparar para as ceias de fim de ano?
As diferenças nas crenças e nos hábitos alimentares podem ser um desafio para a convivência nas ceias de fim de ano.
As diferenças nas crenças e nos hábitos alimentares podem ser um desafio para a convivência em datas especiais. Adepta do veganismo, Alana Rox conta um pouco de suas experiências com as ceias de Natal e Ano Novo ao lado da família e dos amigos. Veja como ela lidou com as dificuldades e veja os conselhos que ela dá para tornar esses momentos mais acolhedores e menos hostis.
Comecei a me dar conta que o ano estava acabando quando me percebi mais ansiosa. Também é quando começo a receber mais mensagens dos seguidores me perguntando como lido com as minhas diferenças por conta do veganismo em relação a minha família, grupos de amigos e a sociedade em geral.
A verdade é que os eventos de final de ano nem sempre são sinônimos de alegria para muita gente. Uma pesquisa do Instituto Locomotiva elaborada pela divisão de Estudos Gameficados e Neurociências, que saiu no início de dezembro, apontou que uma a cada quatro pessoas não se sente próxima de ninguém.
A solidão da sensação de não pertencimento que muitas festas de confraternização geram pode ser ainda pior em meio a veganos e gerar mais ansiedade.
Já não é muito atrativa a obrigação social de ter que comparecer a eventos familiares onde a tia vai perguntar “por que você ainda não casou” ou “se finalmente está namorando”. Talvez alguém compare as aquisições do primo bem sucedido a você “que ainda nem entendeu direito o que gostaria de fazer na sua vida mesmo sendo 10 anos mais velho”. Talvez o tio vai comentar “o quanto você perdeu cabelo” e “engordou”.
A mesma pesquisa indicou também que situações presenciais nos fazem mais felizes do que relações virtuais. Quando você é vegano, a sensação de não pertencimento grita ainda mais alto, o sentimento de solidão aperta e nem rabanada vegana tem na mesa pra você comer sozinho no canto da sala.
Quando a gente desperta para a causa animal e muda todos os hábitos que geram sofrimento para o meio-ambiente, para os animais e para a própria saúde, os hábitos de antes parecem muito agressivos e egoístas.
Então, você tenta falar para quem você convive e gosta, mas as pessoas não estão ainda prontas a ouvir, assim como você um dia também não esteve. E aí, quando você insiste, você vira um chato. E então ou você assume a chatice ou você se cala e espera o tempo do outro. Só que o tempo do outro está embasado em falta de informação que você quer dar e ela não quer receber pra não ter que sair do conforto dos hábitos enraizados. Mudar algo exige esforço. E ela está confortável em comer e agir para seu próprio prazer. É a fome do ego.
E, então, passamos os dias exercitando o não julgamento, fingindo que não estamos sentindo dor ao ver as pessoas que você gosta celebrando a vida de Cristo no Natal devorando a morte em cima da mesa. Eu passei todos os Natais da minha vida muito triste e já fui chorar no banheiro escondida por causa da dor da solidão do despertar. Comia o arroz com passas e o pêssego em calda (eu sei, mais comida do que muita gente que passa fome. Mas não é sobre isso neste momento).
Lembrando que se as pessoas reduzissem em 50% o consumo de animais, 2 bilhões de pessoas teriam o que comer, já que mais de 80% da produção de comidas do mundo é destinada aos animais considerados de consumo. Se uma pessoa come em média 700g de comida por dia, um boi come 14kg. Sobremesa pra mim nunca teve. Já me deram uma barra de chocolate enquanto outros comiam os 5 tipos de sobremesa depois do banquete do que chamaram de comida.
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Há quatro anos, enquanto prepararam a ceia e eu ia começar a fazer minha moqueca vegana, descobri que não haveria carne na mesa e que estavam preparando um prato à base de frutos do mar. Ideal? Não. Mas eu chorei emocionada. Porque para eles, era uma linda evolução. Já faz 3 Natais que quase a ceia inteira é vegana na minha família. Porque hoje minha irmã também é vegana, minha sobrinha vegetariana, meu pai reduziu muito o consumo de animais e meu cunhado está mais solidário a nossa causa. Hoje existe entendimento, respeito e consideração.
Neste Natal, meu namorado vegano estará presente também. Ainda não conversamos sobre a ceia, mas talvez, em pouco tempo, teremos a primeira ceia vegana na minha família. Menos expectativa, mais perspectiva.
A gente coloca o peso da nossa expectativa no outro e se frustra porque o outro não vai agir como achamos que deveriam. São outras vivências, realidades, culturas, dificuldades e necessidades. E são também outras consequências. Ser vegano é ser empático ao outro, e por mais doloroso que seja esperar o tempo dele, é o que precisamos fazer. Mas esperar sentado e conformado? Não. Fazendo! E sendo o melhor que puder. SER o melhor que puder é mais eficaz do que dizer ou fazer. Seja o mais saudável, sereno e alegre que conseguir quando falar sobre o assunto.
Quanto melhor você parecer, mais atraente sua forma de viver parecerá. Tenha tanta energia que você acenda lâmpadas por onde passar. Faça comidas deliciosas e leve um prato (ou vários) para sua ceia. Nós não comemos o que a maioria come, mas todos comem o que comemos.
Vibre AMOR. Lembre que não é sobre você, é sobre eles. E quando você estiver sentado à mesa se sentindo sozinho, pense em mim e em todos os que estão na mesma situação. Não estaremos sozinhos, apenas separados. Juntos em pensamento por um amor maior.
ALANA ROX (@alana_rox) é autora dos best-sellers Diário de Uma Vegana e Diário de Uma Vegana 2, além de apresentadora de duas temporadas do primeiro programa vegano de TV do mundo, no canal GNT. Empresária, palestrante, fundadora do premiado restaurante Purana em SP. Também atua como embaixadora da ONG de proteção animal Mercy For Animals e embaixadora da Baims, marca de maquiagens veganas e sustentáveis. Alana é, principalmente, uma ativista através de um discurso amoroso, consciente e coerente.
Leia todos os textos da coluna de Alana Rox em Vida Simples.
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