A fórmula da felicidade: quantos “quero fazer” para cada “tenho que”?
Segundo Tal Ben-Shahar, especialista na ciência da felicidade, a relação entre o que temos que fazer e o que de fato desejamos é um dos fatores mais significativos no nosso índice de bem-estar
Nas últimas décadas, os níveis de prosperidade aumentaram globalmente; os de depressão também. Se na teoria ter melhores condições de vida permitiria uma população mais feliz, na prática nunca houve índices tão altos de ansiedade e outras questões mentais. Não por acaso, a felicidade virou ciência e já é tema de estudos e de um disputadíssimo curso em Harvard, ministrado por Tal Ben-Shahar. Todos, afinal, querem aprender como é possível viver melhor em tempos tão acelerados e, por vezes, cruéis.
O tal curso em Harvard é a origem de Seja Mais Feliz, livro de Ben-Shahar que já foi tema de matérias em (quase) todos os veículos do planeta. Mas, enquanto a grande maioria foca nas passagens sobre hereditariedade, relacionamentos e propósito como bases primordiais para a felicidade, para mim o capítulo que trata da relação entre nossos “tem que” e nossos “quero fazer” foi o que falou mais alto. O autor garante que, cada vez mais, damos atenção para aquilo que devemos cumprir – por obrigação ou por exigências sociais, por exemplo – em detrimento das atividades que de fato nos trazem satisfação pessoal. É quando, além de gastarmos boa parte do dia resolvendo pepinos no trabalho ou desenvolvendo tarefas enfadonhas, evitamos o não para aquele jantar com o amigo mesmo sem nenhuma vontade de ir ou aceitamos atender a um favor apenas para não chatear quem o pede.
Ao contrário do que alguns podem pensar, isso não significa que devemos jogar tudo para o alto – o emprego, o jantar, o favor. As obrigações (profissionais ou sociais) são parte de nossa vida e, sem elas, não crescemos nem nos relacionamos. O ponto crucial na equação é a capacidade de aumentar proporcionalmente o volume de atividades que te dão prazer. Quanto mais duro foi o dia no trabalho, mais importante será aquele ritual de autoconexão com mantras e aromaterapia que te traz sentido; quanto maior o esforço para atender a um pedido de um amigo querido, mais valioso será o tempo dedicado ao recreio que mais tem valor para você.
O autoconhecimento, claro, é peça-chave nesta fórmula: “Não acredito que haja atalhos para mudanças importantes. Deve haver o estudo e o estudo tem que incluir reflexão e ação”, resume o autor no livro. Pessoas diferentes encontram significado em coisas diferentes, afinal. A ida à academia que é o highlight do dia de um pedirá o bônus de uma recompensa para o outro. Mas vale dizer que os rituais, a prática de gratidão, a capacidade de se aproveitar o percurso (e não apenas a meta final) e um senso de finalidade sempre costumam trazer pontos extras nessa receita variável.
Não foi por acaso que esse trecho “quero X tenho que” me chamou a atenção: me identifiquei com a fórmula de Ben-Shahar – levo muito a sério minhas obrigações, mas, mais ainda, o valor dos meus nãos e a escolha dos meus sims. Por infinitas vezes, abro mão de convites que poderiam ser atalhos na vida profissional, mas que desequilibrariam sensivelmente minha relação “quero X tenho que”. Prefiro o caminho mais longo se isso for proteger meu bem-estar e meus valores. E, vale dizer, essa proporção entre desejos e obrigações cabe em muitos exemplos diversos, da lista de perfis que você segue no Instagram a como preenche sua agenda no tempo livre.
É fundamental ter responsabilidades, encarar desafios pouco agradáveis (a ausência deles na infância, aliás, também é apontada pelo autor como algo que leva à depressão na vida adulta) e cumprir com obrigações profissionais. É importante cuidar com carinho na manutenção de seus relacionamentos pessoais, mesmo quando eles exigem abrir mão de algo. É primordial entender que a vida não é feita apenas de recreios. Mas não deixe que nada disso anule o que é mais importante ainda: a proporção que leva a seu bem-estar e a sua felicidade. Ela é – ou deveria ser – nossa maior prioridade.
*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.
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