O que a floresta tem a nos ensinar sobre o vazio
Preencher um vazio é um processo que pode ser inspirado pela floresta, que é rica em diversidade e tem toda uma sucessão ecológica
Marina Xavier, da comunidade Vida Simples, enviou para o blog Você + Simples um texto sobre a sucessão ecológica da floresta, que pode nos ensinar a preencher o vazio com diversidade e abundância. Boa leitura!
Quando surge uma clareira numa floresta, as novas árvores a repovoarem aquele espaço vazio potencial seguem uma hierarquia de habilidades. As primeiras habitantes são aquelas de crescimento rápido e ávidas por luz solar. São chamadas pioneiras.
Elas criam e modificam o contexto inicial. Ora veja, já não é mais apenas um grande espaço vazio de ocupação. Desse modo, as novas moradoras já conseguiram alterar minimamente o solo e microclima, com suas raízes e com a ciclagem dos nutrientes.
Seus galhos e copas já servem de poleiros para pássaros descansarem e, até mesmo, morarem. De repente, um cocozinho ali; outro lá. E as sementes de árvores, tão preciosas vindas de lugares distantes, caem no solo daquele ambiente em formação. Oxalá encontrem o contexto ideal para crescerem, frutificarem e se reproduzirem.
Novos microambientes vão, pouco a pouco, diversificando e criando cenários onde milhares de seres conseguem explorar e colonizar.
Todos os espaços desse vazio vão sendo preenchidos com o que há de melhor e mais equilibrado em termos de aproveitamento funcional daquele ambiente. E é assim que, de forma muito simplificada, uma floresta madura se estabelece.
Preencher o vazio exige energia
Agora façamos a analogia. Depois de encontrarmos ou identificarmos um vazio, não é possível tornar esse vazio um sucesso da noite para o dia.
O vazio em questão pode ser um nicho de mercado pouco explorado, um espaço físico ideal para a construção de uma escola ou uma emoção/ideia fervilhante em você. Nem mesmo um gênio seria capaz de fazer sucesso rápido nessas condições.
Em concordância com a natureza, vamos pouco a pouco habitando o vazio com os elementos compatíveis com o contexto. A diferença é que muitas vezes não temos consciência disso.
É possível, contudo, que a gente encontre o cocozinho e tire ele de lá depressa, sem saber a enorme contribuição que ele carrega.
Ou que a gente cultive nosso vazio colocando a “árvore de sombra” em sol pleno só porque ela nos parece perfeita e bonita.
É necessário dar tempo ao tempo. Cada etapa do processo é valiosa e sobretudo imprescindível para outras se tornarem evidentes, numa sucessão majestosa de acontecimentos férteis.
Agora veja. Não é só sobre pular fases, é sobre cultivar a “planta” errada, vê-la morrer ou não prosperar e colher uma grande frustração nesse processo.
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O processo exige paciência
Lembre-se, os espaços estão sendo preenchidos e transformam o ambiente para que novas oportunidades surjam. A frustração (ou qualquer outra emoção paralisante) pode impedir a trajetória natural da transformação em curso e, neste caso, deliberadamente atrasar ou, até mesmo, aniquilar a chegada a fase madura.
Mesmo que a sucessão pareça estar fluindo, e que haja consciência das minúcias e desafios do processo, ainda assim não podemos controlar os passarinhos… E o que eles estão trazendo em seus cocozinhos.
Pronto! Quando se tem consciência de que é desnecessário limpar todos os dejetos e que os passarinhos vão e vem; estará bem próximo de uma transformação mais genuína e bem-sucedida.
Na natureza, portanto, é inútil tentar controlar a sucessão. Dito de outra forma, apenas lance mão das pioneiras e conte com a ajuda dos passarinhos e de tudo que descontroladamente aparecer no processo. Ele está em curso!
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Marina Xavier da Silva (@mari_xavierdasilva) é bióloga pelo Mackenzie e mestre em Ecologia pela USP. Atou durante 13 anos no Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná. Mãe da Lia e da Cléo, segue apaixonada pela natureza e seus encantos.
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