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O que aprendi em dois meses como repórter da Vida Simples
(Foto: Freepik) Neste ano, comecei a presentear pessoas queridas com álbuns de fotografia. Ideia veio de uma reportagem que fiz para o portal
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Nossa vida não segue o script escrito linha por linha dentro da própria cabeça. Quem nos dera! É impossível prever e ter controle de tudo. Geralmente, se adaptar e improvisar nos salva das curvas inesperadas da trajetória. Como jornalista, isso parece muito intenso. 

Tem dias que você não faz ideia do tema que vai cobrir, se debruçar e escrever sobre. A imprevisibilidade, a curiosidade e a adrenalina talvez formem o combo que me move nessa profissão. Inclusive, fui entender o porquê escolhi cursar jornalismo há pouco tempo. Não foi por acaso, como eu imaginava. Início, meio e meio. O autoconhecimento é um processo sem fim.

Mudança na hora certa

Desde o final do ano passado, tive altos e baixos na minha vida. Momento de transformações em uma montanha-russa de sentimentos. Uma das mudanças foi, há dois meses, ser contratado como repórter da revista impressa e do portal Vida Simples.

Tenho nove anos de carreira. A maior parte em redações. Já fui repórter de esportes, cidades, cultura e política. Nas reviravoltas do jornalismo, muitas vezes não escolhemos em qual editoria vamos trabalhar.

Dia 24 de março de 2025. Data que comecei a escrever para a revista sobre saúde mental e bem-estar emocional: um tema tão urgente e atual. Pela primeira vez, mergulhei nessa área profissionalmente. E o melhor: sem ser superficial. A Vida Simples coloca profundidade nas discussões e indica caminhos para lidar com diversas situações da vida. Aqui, a gente tenta ser mais que um veículo de comunicação. Somos amigos.

Escutar, escrever, repassar…

Decidi fazer essa matéria com incentivo do meu editor. Matéria que é meio coluna, meio artigo. Quase um diário. Na rotina como repórter da Vida Simples, o básico da profissão está ali: correr atrás de histórias interessantes, apurar reportagens e, claro, escrevê-las. No entanto, dois processos me transformam quase todos os dias: as reuniões de pauta – que às vezes parecem quase uma sessão de terapia –, e as diversas entrevistas com psicólogos, psicanalistas, neurologistas e demais especialistas da área.

Montagem traz as últimas quatro capas da revista impressa Vida Simples (Foto: Divulgação) Últimas quatro capas da versão impressa da revista Vida Simples

Trabalhar aqui me trouxe visões diferentes sobre detalhes da minha própria vida e da complexidade que é existir e coexistir. Abaixo, compartilho com vocês o que aprendi ou incluí na minha rotina a partir das experiências enquanto repórter na Vida Simples. Afinal, o que transmito aos leitores reflete em mim. Mais do que jornalista e leitores, também somos humanos. Em suas belezas e dificuldades.

Deixar o celular um pouquinho de lado

Atualmente, boa parte das reportagens que escrevemos na Vida Simples esbarra em um grande problema de um mundo hiperconectado: o vício em telas. Foi a partir das dicas de especialistas de matérias que fiz sobre o tema, principalmente a que fala sobre “doomscrolling”, que desapeguei um pouco do celular. 

Aos poucos, diminui aquele tempo que gastava rolando o feed entre uma rede social e outra. E isso me fez muito bem. Tive tempo para tarefas que realmente importam durante a rotina: cultivar laços com familiares e amigos, voltar a fazer exercícios físicos e melhorar a alimentação. Enquanto escrevo essa matéria, por exemplo, coloquei o celular em modo avião para não me distrair com possíveis notificações.

Organizar as demandas da vida

Na montanha-russa dos últimos meses, uma reportagem em específico me ajudou a sentar, me concentrar, listar as pendências e elencar as prioridades da minha vida: “Como deixar de ‘abraçar o mundo’ para organizar objetivos”. A mudança de emprego e essa matéria me tiraram da inércia. Foram como um empurrão que eu precisava: transformaram as preocupações que estavam somente na minha cabeça em ação.

Um exemplo: voltei a fazer as aulas da autoescola para, enfim, tirar a CNH (Carteira Nacional de Habilitação). Processo que estava parado desde dezembro e, uma hora ou outra, aparecia como um fantasma na minha mente. Junto, vinha a ansiedade. Em questão de 30 minutos, marquei todas as aulas que faltavam. Uma preocupação a menos para lidar. A mente um pouco mais calma. E assim por diante.

Viver o presente para construir felicidade

É verdade. Sem clichê. Não dá para ser feliz o tempo inteiro, mas pequenas sensações na rotina nos alegram, motivam e constroem esse sentimento. Peça por peça. Como receber ou dar um bom dia sorridente inesperado no elevador ou na rua. Outro exemplo: cozinhar com calma em uma terça-feira qualquer para alguém que você ama.

Nasci em 21 de maio, no primeiro dia do signo de gêmeos. No outono: minha estação preferida. Sempre que a flor-de-maio de casa começa a brotar lembro que meu aniversário está pertinho. Sabem qual sensação constrói minha felicidade na correria da rotina? O simples fato me espreguiçar no sol de outono bem de manhãzinha enquanto na sombra faz frio. Parece que o tempo para e volto para o presente. Esvazio a cabeça. Fico no aqui e agora. Percebi isso enquanto escrevia a matéria “Cinco sensações do dia a dia que constroem nossa felicidade”.

Registrar momentos e revelar fotos

Você percebe um momento especial ou apenas uma cena bonita esteticamente, e o ato de pegar o celular do bolso para fotografar vem logo em seguida. Esse instante, captado pelo seu olhar, despertou algo em você e, de alguma forma, te marcou. Antes, eu tinha um certo receio de tirar fotos, mas deixei isso para lá. Minhas lembranças não serão eternas. “Nossas memórias não registradas se perderão assim como nós mesmos findaremos um dia”, escutei da psicanalista que entrevistei.

Além disso, comecei a revelar fotografias para elas não se perderem entre as incontáveis que ficam largadas na galeria do celular. Ter a foto física em mãos para tocar, sentir, relembrar. Na matéria “Tirar fotos é um registro de apoio às memórias”, outra frase da psicanalista me marcou: “Um número gigantesco de fotos é quase a mesma coisa que nenhuma. Acabamos por nos perder e não encontrar aquilo que nos motivou a fotografar.” 

Neste ano, comecei a presentear pessoas queridas com álbuns de fotografia. Também tem sido um presente para mim. Uma forma de reviver memórias e fortalecer laços.

Mudar por dentro e por fora

Essa foi uma das primeiras matérias que fiz para o portal: “Quando mudar os móveis de lugar reflete nossas transformações internas”. Acho que coloquei um pouquinho do que acontecia na minha vida na apuração, nas entrevistas e no texto final da reportagem. Muitas mudanças internas e externas ao mesmo tempo. Paralelamente, mudei móveis de lugar e troquei decorações. Ações que representaram o meu eu interno daquele momento.

“Ter essa comunicação com o ambiente é muito importante. De fora para dentro. De dentro para fora. Afinar esse instrumento chamado alma. Nós somos regidos pelo inconsciente, por símbolos e signos, e isso faz total diferença na organização mental.” Durante a entrevista com a psicanalista, essa frase também me marcou. Assim como tantas outras nesses dois meses de Vida Simples.

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