Como será o futuro das pessoas e do mundo no ano de 2100
Já imaginou o que precisa fazer no presente para chegar em um futuro possível? Proponho pensarmos hoje em como será o mundo daqui a uns anos para saber o que podemos fazer desde já para alcançá-lo.
Como seria sua versão de mundo em 2100? Eu já fiz o exercício de tentar imaginar uma resposta para essa pergunta. Meu inconformismo aliado ao otimismo me faz acreditar numa enorme evolução da humanidade, do planeta e da nossa sociedade.
Apesar de a evolução ser um processo individual, a caminhada para ela é conjunta. Acredito muito na união e numa enorme rede de colaboração mundial para partilhar conhecimento e aprendizados.
Daqui 78 anos
No fim desse século, a capacidade de amar e ser amado do ser humano será desbloqueada de fato. Amor será fluído, e não obtuso como é para quase a totalidade — me incluo, claro — das pessoas hoje. O novo poder estará ao redor de amar e ter consciência, e não mais ao redor de posses materiais. Essa será a maior instituição (culto ao amor) que o ser humano vai ter construído em sua existência.
Talvez não tenhamos uma clareza total de onde viemos, para onde vamos e o nosso papel nesse planeta. Porém, creio que iremos descobrir a vida fora da Terra e essa descoberta específica ampliará e muito os campos da espiritualidade humana, e as instituições religiosas passarão por profundas transformações.
Acredito que teremos um poder baseado no amor e na consciência e não em posses. O amor será a maior instituição que o ser humano vai ter construído em sua existência.
A ciência e espiritualidade andarão de mãos dadas, de uma vez por todas. Experimentos científicos terão (também) premissas e conclusões com base em fé, e a fé (também) será experimentada e corroborada com preceitos empíricos científicos. Deus será quase provado. Mais ainda teremos muitas dúvidas a seu respeito e sobre nossa existência.
O ser humano conseguirá lidar com a vulnerabilidade e a incerteza de forma muito melhor. O sentimento de que a vida faz completo sentido, incluindo o profundo mistério essencial dela própria, será pleno e amplamente aceito. E isso aquietará o coração e erguerá a espinha dorsal de quase todas as pessoas.
Não haverá mais apatia política, muitos talentos se interessarão pelo setor público, além dos que já se interessam hoje. E quem estiver no comando político terá de fato objetivos públicos, e não de interesse pessoal. A corrupção estará praticamente extinta, em museus. Os sistemas políticos serão absolutamente reformados para se adequarem à nova era. Os novos políticos colocarão a eficiência e os resultados do sistema público à altura da entrega das melhores iniciativas privadas, regulando e criando incentivos corretos para o florescimento e/ou fortalecimento das instituições e políticas públicas corretas.
Do lado privado, o impacto, assim como o risco e o retorno, será um critério natural do processo decisório, mainstream para toda e qualquer empresa. Não existirá consumo para empresas que não se responsabilizam 100% pelos seus impactos e externalidades. As grandes e tradicionais empresas se reinventarão, 100% delas. As novas já nascerão com esse DNA de cara.
A renda básica universal será uma realidade difundida em mais de 90% dos países. Essa renda será mais do que suficiente para que todos os seres, absolutamente todos, tenham não somente os itens de dignidade básica — alimentação, saúde, educação, moradia, saneamento, energia, conectividade -, mas também conforto material. Muito tempo livre sobrará para investimento em hobbies, cultura, relações diversas, e (auto)cuidado. Não haverá pobreza e nem prisão. Teremos muita abundância, infinita como a vida em si, a ser distribuída.
A saúde será preventiva — alimentação saudável, cuidado emocional/mental e do corpo — e tônica da vida. As indústrias farmacêuticas passarão por profundas transformações para se adequarem a esse novo mote — prevenir, e não mais remediar. Manipulação perversa não existirá mais na saúde. Modulação genômica e microbioma serão os mestres ‘darwinísticos’.
O novo cérebro será o intestino, e a nova racionalidade será a emoção, a intuição e os sentimentos individuais. O intelecto será um aparato a serviço do coração, e não vice-versa.
A alimentação será 98% a base de plantas, personalizada, orgânica, alcalina, com muito sabor e nutrição, e para todos os gostos. A expectativa de vida estará entre 150–200 anos de idade, com qualidade. Ferramentas terapêuticas, plantas de poder e atividades físicas serão extremamente difundidas e aplicadas em 100% das crianças desde sempre, como parte da cultura natural de cuidar de si mesmo.
O sistema educacional se transformará radicalmente também. No futuro, aprenderemos o que é relevante de fato. Além dos assuntos técnicos necessários, aprenderemos sobre saúde do planeta, saúde preventiva, poder e uso das plantas. Crianças serão ensinadas que vivemos num sistema integrado à natureza. Somos parte dela. Aprenderão sobre tribos e civilizações milenares, suas culturas e formas de ver a vida.
Consumo será ensinado como a principal ferramenta de transformação, quando oriundo da consciência.
As escolas irão ensinar também como cozinhar o próprio alimento ou como saber escolher bem quem cozinha. Irão também lecionar sobre empreender projetos verdadeiros e necessários para o planeta e tudo que é vivo. Teremos aulas de respeito e liberdade individual, além da importância da vila para educar uma criança (“it takes a village to raise a child” – “é preciso uma aldeia para se educar uma criança”, já diz o ditado).
Imagine uma aula sobre a paz, um estado de espírito que se compartilha e exercita. Ensinaremos desde cedo que a alegria, a diversão e a leveza são de extrema importância para as relações humanas de aprendizado; e a customização do aprendizado será a máxima educacional desse planeta transitório.
As nossas energias masculinas e femininas internas, da alma, estarão conciliadas de uma vez por todas, acabando com quaisquer conflitos, tabus e crenças que podemos ter sobre a sexualidade — raiz de muitos problemas hoje, consciente ou inconscientemente. Quando menciono sexualidade estou indo além da escolha afetiva de uma pessoa — estou falando da harmonização das relações maternais, paternais e fraternais, e da base da formação primária do amor que aprendemos na educação familiar. A instituição casamento passará por uma profunda revisão, estabelecendo seus reais objetivos e necessidades, assim como as relações familiares tradicionais. Os ouvidos serão tão ou mais ativos do que a fala nessas novas relações.
Falando nelas, todas as relações terão acordos customizados e que respeitam, em primeiro lugar, a liberdade individual das pessoas envolvidas, com a máxima do amor e do crescimento. Esses serão temas predominantes, eliminando moralismos, convenções e condicionamentos sufocantes em muitos campos da vida.
O modelo social decorrente do patriarcado tradicional será completamente desconstruído e as mulheres ocuparão a maior parte dos principais postos de liderança pública e privada da sociedade. A força feminina será motriz e decisória na era em que a fluidez, flexibilidade, cooperação, transparência e acolhimento se sobreporão ao estático, rígido, competitivo, obscuro e excludente.
Os homens estarão adaptados ao novo modelo, e servindo a essa causa com toda a força e complemento que trazem.
PARA LER DEPOIS: Somos reféns ou criadores do futuro?
Machine learning (aprendizado de máquina, em tradução livre) será uma realidade aplicada e visível a todos em todos os campos da vida. Máquinas inteligentes liderarão e executarão mais de 70% das profissões atuais, em sintonia e empatia com o ser humano e com todas as formas de vida no planeta. As máquinas serão reflexos de consciências mais elevadas e trabalharão por causas nobres que constroem e incluem, e não que destroem e excluem. A logística e a burocracia da vida será resolvida por robôs. Entre milhares (talvez milhões) de outros exemplos.
O aquecimento global vai ter sido administrado e a crise climática chegará ao fim.
A temperatura no planeta será condizente com a necessidade da vida aqui residente. Não sem profundas marcas e aprendizados — dor que gera consciência individual e tecnologia decorrente desse estado. Os meios de produção e fabricação, as fontes de cultivo e de criação, o transporte, o aquecimento e o resfriamento terão opções sustentáveis com custo igual ou menor. Nossas fontes de energia serão 100% renováveis.
O mundo será amplamente reflorestado, com cidades verdes, inteligentes e mais descentradas. Ecovilas autossustentáveis e integradas serão lar para mais de 50% da população mundial, com o restante das pessoas vivendo em smart & cibercities integradas e sustentáveis. As fronteiras dos países serão ínfimas, e existirão apenas para fins de organização e eficiência.
Os animais serão libertados em todos os campos — alimentação, entretenimento, companhia doméstica, transporte, vestimenta, trabalho físico, testes farmacêuticos, esportes e hobbies diversos. O ser humano vai entender o animal como um ser absolutamente sagrado e digno e, aí criará sistemas inteligentes para integrar a convivência, respeitando a cadeia natural desses seres. Teremos tecnologia substituta para transformar os processos das indústrias que atuam nessas cadeias em processos empáticos e sem dor. Cada utilidade remanescente junto ao mundo animal será em prol de uma causa necessária e nobre.
De volta para 2022
Eu vivo a dor interna, eterna e divina de sentir profundamente a diferença do mundo que eu vislumbro e ajudo a criar todos os dias, vis a vis o atual mundo que vivo hoje, e ajudo a manter, por outro lado. E isso não é sofrimento; é uma dor inevitável absolutamente necessária. É a ferramenta para minha transformação positiva, assim como para a transformação da sociedade. Bem humano, sou. Bem, humano sou.
Os seres humanos estão em diferentes pontos de consciência desses ciclos. E isso não faz ninguém melhor do que ninguém, mas cria uma responsabilidade de difundir a essência da consciência evolutiva na prática e não apenas no discurso. Celebro e sou grato a todas as pessoas de nossa espécie, e nosso brilhante futuro que está sendo construído.
Que assim seja, porque assim é.
*PEDRO VILELA é CEO e fundador da Rise Ventures, gestora de fundos focados apenas em investimentos em empresas de impacto positivo, que tentam construir um mundo melhor por meio de seus negócios e que podem, aos poucos, contribuir para a criação de um modelo de sociedade possível para todos no futuro.
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