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Por que o trabalho nas festas de fim de ano fica sempre com as mulheres?
nicoletaionescu | istock
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As festas de fim de ano são famosas por suas ceias fartas, casas decoradas e família reunida. Mas, por trás dos pratos que enchem as mesas e das luzes de Natal, está o esforço de mães, tias, noras, avós, sogras, cunhadas, irmãs e filhas. É nas mãos das mulheres que se concentra a grande carga de trabalho que torna essa época do ano tão “mágica”.

A divisão desigual das tarefas domésticas não é um problema apenas do mês de dezembro. Uma pesquisa de 2022 mostrou que 85% do trabalho relacionado ao cuidado é feito por mulheres, de maneira informal. Os dados foram coletados pela organização Oxfam Brasil.

Quando falamos das celebrações de final de ano, a situação se agrava, já que até os momentos de lazer são trabalho para as mulheres, principalmente as que são mães. Os cuidados para que as festas aconteçam da melhor forma recaem nas mãos femininas da família.

A sobrecarga do trabalho feminino não é só no Natal e Ano Novo

A ideia de que os homens são responsáveis apenas pelo aspecto financeiro da casa e não pelas tarefas domésticas, coloca a mulher, consequentemente, como a “dona de casa”. O que é deixado fora de questão, porém, é que atualmente as mulheres também trabalham fora. Dessa forma nasce a dupla jornada de trabalho apenas para elas.

A advogada especializada em Direito de Família, Andressa Gnann, confirma que, mesmo que hoje a mulher esteja inserida no mercado de trabalho, ainda é preponderante a ideia de que sua principal função é servir a família. “Os anos foram passando, as mulheres ganhando voz e inadmitindo determinadas situações. Porém, o passado, seja ele distante ou não, ainda assombra todas nós”, explica.

“Ainda que não trabalhasse por remuneração, a mulher cuidando da casa possui uma sobrecarga gigantesca” comenta Andressa.

“O trabalho externo tem um horário de início e término, já o trabalho do lar, não tem hora, não tem dia, não tem folga, não tem férias e muito menos bônus, salário ou comissões”.

A situação se agrava ainda mais com a questão de raça e classe, visto que a relação de mulheres negras e de baixa renda com o trabalho é ainda menos favorecida. Mulheres negras sempre trabalharam, e a entrada no mercado não foi conquistada, mas sim imposta.

No trabalho de cuidado, 45% de todos os postos do setor são ocupados por mulheres negras, segundo um levantamento do IPEA. As mulheres brancas ocupam 31% desses cargos. E a legalização dos trabalhos nesse ramo vem caindo desde 2016: em 2021, apenas 25,1% das trabalhadoras domésticas remuneradas possuíam carteira de trabalho assinada.

O excesso de tarefas leva ao adoecimento das mulheres

Cuidar de um lar não é uma tarefa fácil. Na verdade, existem diversos serviços essenciais para que um ambiente familiar funcione: lavar, estender, passar e guardar a roupa, lavar a louça, limpar os quartos, sala, cozinha, banheiro, comprar comida e produtos de higiene, lembrar os filhos de fazer lição de casa, cozinhar e servir café da manhã, almoço e janta, educar, disciplinar, e a lista continua. Cuidar é um verbo que engloba muitos outros dentro de si.

Para a psicologa Ingrid Magalhães, a rotina pesada das atividades domésticas na vida da mulher pode ser prejudicial à sua saúde. “Essa dupla ou até tripla jornada de trabalho vivenciada por muitas mulheres é um fator de risco tanto à saúde física, como à saúde mental. Afinal, quem cuida de quem cuida?”

A profissional reitera que quando a mulher é a única encarregada por todo o planejamento e realização das atividades domésticas e de cuidado, suas próprias demandas de autocuidado deixam de ser prioridade.

“Dessa forma, a família vivencia esse exemplo negativo e ultrapassado de que mulheres não precisam ou devem ter vida própria, e que a mulher deve agir como uma gestora das necessidades de todos”, argumenta.

Sugestões práticas para dividir as tarefas no fim de ano

Você já viu essa cena: várias mulheres juntas preparando as comemorações de Natal e Ano Novo nas famílias, enquanto os homens conversam, os adolescentes dão risada e as crianças brincam. Este ano, podemos fazer diferente.

Que tal repensarmos a divisão de tarefas para as comemorações de fim de ano? Com isso, todos poderão se divertir sem pesar para ninguém.

Essa mudança de atitude não precisa ficar restrita ao Natal. “Isso serve não somente para as festividades de final de ano, mas também para a vida”, finaliza Gnann.

Aqui vão algumas sugestões para melhorar a divisão de trabalho da família:

Combinados são essenciais

Como dizem, o combinado não sai caro. Por isso, é essencial ajustar as tarefas antecipadamente.

Faça uma lista

Para as festas, faça uma lista de todas as atividades envolvidas, tanto na alimentação, quanto na limpeza. Não esqueça o que é necessário para que a celebração aconteça, como lavar a louça, ir ao supermercado, passar pano no chão, tirar o lixo…

Quem faz o quê?

Após listar as tarefas necessárias, identifique o responsável por cada atividade, especificando também os dias e horários. Assim, a informação fica clara para todos. Crianças e adolescentes também podem receber tarefas compatíveis com a idade de cada um.

Autorresponsabilidade

Se uma pessoa recebeu a designação da tarefa, ela deve assumir a responsabilidade por concluí-la, afinal outras pessoas estão contando com isso. Caso não saiba como fazer, é possível perguntar como se faz ou buscar ajuda de tutoriais na internet.

Apoio mútuo

Se necessário, outros membros da família podem reorganizar-se para oferecer ajuda. O essencial é que ninguém fique sobrecarregado e que todos compreendam que é possível desfrutar quando há apoio mútuo.

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