Para muitas pessoas, uma demissão é um corte inesperado em uma parte de quem somos. De repente, a rotina que dava sentido ao dia e as certezas sobre o futuro parecem desmoronar. O trabalho mexe com os alicerces da nossa vida como um todo, e lidar emocionalmente com isso também pode ser um processo longo e dolorido.
O impacto por vezes é tão forte que uma pessoa pode se descontrolar e até tomar atitudes extremas. Um exemplo foi testemunhado recentemente em uma das avenidas mais movimentadas de São Paulo, em plena luz do dia, em que um homem simplesmente ficou pelado após ser demitido num ato de revolta e desespero.
Mas claro que esse é um caso extremado, e é possível usar esse momento tão delicado de maneiras mais ponderadas, superar e recomeçar algo novo.
O luto profissional
O impacto emocional da demissão é muitas vezes subestimado. Não é apenas o susto financeiro ou a perda de um benefício que está em jogo, mas de um processo psicológico que pode envolver sentimentos de rejeição, frustração e até uma crise de identidade sobre quem somos sem o cargo que antes ocupávamos. É comum que a pessoa comece a se questionar e encontre um vazio.
Nem todo luto profissional está ligado à perda de emprego. Mudança inesperada de função, uma promoção esperada que não vem e até uma incompatibilidade de valores com a empresa podem ser motivos para perder o propósito.
Para a psicóloga e especialista em felicidade pessoal e profissional Juliana Rodemel, assim como em qualquer tipo de luto, o gerado pela demissão envolve um processo que requer uma adaptação emocional. Segundo ela, muitas pessoas passam por um ciclo que pode ser dividido em várias fases, similares ao luto por uma perda afetiva.
- Negação: a primeira reação é a dificuldade em aceitar o que aconteceu. Pode haver uma sensação de incredulidade, como se o emprego tivesse sido tirado de maneira injusta ou errada: “Isso não pode estar acontecendo comigo”;
- Raiva: a frustração e o sentimento de injustiça são comuns nessa fase. Muitas vezes, as pessoas se perguntam por que foram demitidas e questionam se fizeram algo de errado ou se mereciam o que aconteceu: “Por que fizeram isso comigo? Eu não merecia”;
- Barganha: essa terceira fase é marcada por um desejo de encontrar soluções rápidas, como “se eu tivesse feito de maneira diferente, talvez tivesse conseguido manter o emprego”.
- Tristeza: quando finalmente a realidade se instala, os sentimentos de desânimo surgem e o indivíduo pode se sentir perdido: “Não sei o que fazer agora”;
- Aceitação: por fim, a fase da aceitação chega e a pessoa começa a olhar para o futuro, criando espaço para que o novo chegue: “Foi um ciclo que se encerrou, mas posso recomeçar”.
Como superar a demissão de forma saudável
De acordo com o estudo da psicologia positiva, um dos pilares da felicidade é o propósito e o pertencimento. Quando o indivíduo perde seu trabalho, é como se ele não tivesse mais o seu “lugar no mundo”. Mas superar isso exige tempo e a especialista traz estratégias para lidar com as emoções nesse processo de recuperação emocional:
- Respeite seu tempo de adaptação;
- Ative sua rede de apoio;
- Reformule sua história profissional (no lugar de se perguntar “Por que isso aconteceu comigo?”, pergunte-se: “O que posso aprender com essa experiência?”);
- Pratique a gratidão ativa (a gratidão não nega a dor, mas amplia a perspectiva. Anotar três coisas boas que aconteceram no dia, mesmo que pequenas, ajuda o cérebro a focar no que ainda está funcionando);
- Cuide do corpo para equilibrar a mente (fazer exercícios físicos aumentam os níveis de dopamina e serotonina, que ajudam a reduzir a sensação de tristeza e ansiedade).
Transformando a crise em oportunidade
A demissão pode parecer um ponto final, quase que um término de relacionamento – o que, em tese, não deixa de ser. E toda crise oferece duas possibilidades: paralisia ou reinvenção. Mudar a chavinha para transformar isso em uma oportunidade para crescer abre portas para um novo caminho. “É o momento de perguntar: qual é o próximo capítulo que quero escrever para minha vida?”, reflete Juliana.
A especialista também complementa que “ao enxergar a demissão como um ‘despertador’, o momento da perda pode se transformar em um espaço para reavaliar a trajetória profissional. Talvez a rotina que parecia segura não fosse, de fato, a ideal para alcançar os objetivos pessoais e profissionais.”
E sempre é bom recordar que a profissão é apenas uma parte da vida de uma pessoa. Então, aprenda novas habilidades, realize cursos, aprenda um novo idioma, tenha projetos pessoais e mais conexão com as pessoas ao seu redor. Isso tudo vai te expandir para novos ares que antes não eram nem imaginadas e vai te diferenciar no mercado e na sua identidade pessoal.
O cérebro precisa de direção para sair do luto. Quando criamos pequenos hábitos positivos, estamos ensinando a mente a seguir em frente de forma mais saudável.
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