Como desapegar emocionalmente de alguém?
Desapegar emocionalmente de alguém é um processo longo, mas necessário. Ao adotar estratégias de autoconhecimento, é possível transformar a dor em aprendizado
Penso que dentro de cada pessoa há um vasto universo onde cada estrela representa uma memória, talvez uma experiência ou até alguém que fez parte da sua vida. Algumas dessas estrelas brilham intensamente, mas outras, com o tempo, começam a perder seu brilho, deixando um vazio que parece difícil de ser preenchido. Desapegar emocionalmente é exatamente esse processo de reorganizar o universo interior, e permitir que as estrelas que não iluminam mais seu caminho abram espaço. Mas nem sempre é assim que acontece.
Desapegar de alguém é uma jornada difícil de soltar as amarras emocionais do passado e que pode interferir no dia a dia. Porém, nesta vida aprendemos que não é sobre encontrar uma resposta mágica para tudo, mas reconhecer que, com o tempo, o espaço para novas possibilidades se abre e a fase dessa dependência emocional começa a se transformar em um processo de autoconhecimento e cura.
O que é a dependência emocional e como identificar?
Entre vínculos e conexões, o apego emocional é um sentimento mais interno que uma pessoa desenvolve com a outra onde não interfere totalmente na vida e na rotina. Quando há um equilíbrio, o relacionamento segue sendo saudável, com cada um possuindo a sua autonomia. Mas quando esse apego se torna excessivo, essa emoção pode levar a uma dependência emocional em que a pessoa não consegue viver sem a presença, a aprovação ou o amor do outro. Sentimentos de insegurança, medo da perda e até anulação da própria identidade em prol do outro, podem ser um dos fatores.
A psicóloga Amanda Rosa, especialista em relacionamentos, diz que quando a pessoa percebe que a vida dela está girando em torno de alguém, ela perde o sentido de tudo. “É o momento da pessoa estar se perguntando “Será que isso está me fazendo bem?” ou “Isso está me prendendo e fazendo mal?”.
Para ela, existem alguns sinais de apego emocional em excesso incluem:
- Medo constante de perder a pessoa: a ansiedade de ser rejeitada ou abandonada pode dominar os pensamentos;
- Dificuldade de tomar decisões sozinha: a pessoa passa a depender da opinião do outro para tudo;
- Baixa autoestima: sente que sua felicidade está totalmente ligada ao comportamento ou à presença do outro;
- Falta de equilíbrio nas relações: a relação tende a se tornar desigual, onde um lado oferece mais do que o outro, ou se sacrifica excessivamente.
Uma outra forma de identificar esse apego excessivo é observar como você se sente quando está sozinho. Se a solidão causar um desconforto extremo pode ser uma indicação de que a dependência emocional está tomando conta do corpo e da mente. “Normalmente as pessoas tem dificuldade em se desapegar pois muitas vezes ela fica presa às memórias boas e positivas e uma esperança de que aquela relação melhore, mesmo não mudando nada”, relata.
A diferença entre amor e o apego excessivo
Uma das questões mais abordadas nesse quesito é a distinção entre um amor saudável e o apego patológico. O amor é leve, respeitoso e mútuo, onde o foco é o crescimento de ambos os envolvidos. Por outro lado, o segundo é movido pela insegurança e pelo medo da perda, o que afeta a autoestima e as escolhas pessoais.
Quando o apego for mais intenso do que o amor, é necessário parar e refletir sobre o impacto que essa relação está causando na sua vida. A pessoa deve se questionar: “Será que isso me faz bem?” ou “Estou me prejudicando mantendo essa relação?”.
Além disso, uma curiosidade interessante é que o cérebro humano tem uma tendência natural a criar vínculos emocionais fortes, muitas vezes confundindo apego com amor genuíno. Esse processo ocorre justamente pela liberação de substâncias como dopamina e ocitocina, que geram uma sensação de prazer similar à de um vício.
“Para o nosso cérebro é como se fosse um desprazer ter que encerrar esse ciclo e ao mesmo tempo, ele entra em modo de alerta. A área responsável pelo raciocínio lógico tem dificuldade de agir com clareza e as lembranças boas da relação ficam ainda mais fortes”, conta Amanda.
O caminho para um desapego saudável
Evitar recaídas durante o processo de desapego pode ser um dos maiores desafios. A psicóloga recomenda que, sempre que surgirem pensamentos de que a relação era “perfeita”, a pessoa deve relembrar as razões do fim. Para esse início de processo, é essencial que seja uma jornada de autoconhecimento e com etapas para evitar recaídas. Para isso, a psicóloga sugere algumas estratégias que podem ajudar a superar isso e não se auto sabotar.
- Reconheça o problema: nem todos conseguem logo de cara, mas superar a dependência emocional é reconhecer que ela existe. Pergunte-se se você está nessa relação por escolha ou por medo da solidão;
- Fortaleça a autoestima: trabalhe para aumentar sua confiança e entender o que te mantém presa a essa relação. Invista em atividades que não dependam da validação do outro, como exercício físico, foco na alimentação e hobbies;
- Estabeleça limites saudáveis: aprender a colocar limites nas relações é um passo importante para preservar sua saúde emocional;
- Busque uma rede de apoio: amigos e familiares podem fornecer o suporte necessário para que você se fortaleça e siga em frente;
- Dar tempo ao tempo: quanto mais você se cuida e se dedica ao seu bem-estar, mais fácil será superar a dependência emocional. Por isso, invista em novos hábitos e uma nova rotina para não ficar em um estado de inatividade, pois isso aumenta o risco de uma recaída;
- Evite o contato: a exposição à pessoa deve ser minimizada. Bloquear ou ocultar contatos, parar de seguir nas redes sociais e evitar notícias sobre a pessoa podem facilitar o afastamento.
Lembre-se de que o caminho para o desapego não precisa ser rígido ou doloroso. Ao se permitir sentir, mas também a se reinventar de maneiras inesperadas, você pode finalmente alcançar a liberdade emocional que merece.
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