Quanto vale a companhia do seu pet?
Estudo aponta que vínculo com um animal de estimação é como ganhar R$ 530 mil por ano. Para especialista, pesquisas do gênero nos lembram que afeto é uma 'moeda mais transformadora que qualquer valor financeiro'

Se você tem um cãozinho, provavelmente é recebido em casa após um dia cansativo de trabalho com ele abanando o rabo sem parar e cheio de brilho no olhar de saudade. Caso trabalhe em modelo home office e tenha um gato, a chance é muito alta de ele subir no seu colo para dormir ou derrubar algum item da mesa do escritório em busca de atenção para brincar. Esses momentos em companhia do seu pet possuem um valor afetivo difícil de comparar com qualquer outra situação.
No entanto, o estudo britânico “The value of pets: the quantifable impact of pets on life satisfaction” – “O valor dos animais de estimação: o impacto quantificável na satisfação com a vida”, na tradução livre –, publicado na revista Social Indicators Research, mostra que a companhia de um pet é como ganhar £ 70.000 por ano, o equivalente a R$ 530 mil. Um bom dinheiro, né?
A pesquisa se debruçou sobre as seguintes situações: pessoas que costumam cuidar das casas de vizinhos durante períodos de viagem e ficam responsáveis também pelos animais de estimação. Esse “evento externo” ou “variável instrumental” foi a base usada pelos pesquisadores para medir o efeito direto da convivência com animais no bem-estar emocional.
É possível comparar?
Essa comparação pode parecer estranha à primeira vista. Isso porque dinheiro e vínculo afetivo ativam regiões diferentes do cérebro e despertam emoções distintas.
“O dinheiro, por exemplo, estimula áreas ligadas à recompensa imediata, gerando sensações de prazer e excitação. Já os vínculos afetivos, como os que construímos na companhia do nosso pet, envolvem a liberação de ocitocina, substância relacionada à sensação de segurança, pertencimento e conexão”, explica Rodrigo de Aquino, especialista em desenvolvimento humano e bem-estar.
“A comparação faz sentido quando consideramos que tanto o dinheiro quanto os vínculos emocionais influenciam diretamente nossa percepção de bem-estar. A diferença está na profundidade e na duração desses efeitos. O vínculo com um pet ativa camadas emocionais mais profundas, associadas à memória afetiva, ao senso de pertencimento e à construção de uma relação duradoura. O dinheiro, por sua vez, tende a atuar em níveis mais imediatos e circunstanciais”, afirma.
Moedas afetivas transformadoras
Ou seja, o efeito é diferente, mas a comparação é totalmente válida e ainda passa uma mensagem necessária no momento atual que vivemos. Aquino ressalta que estudos como esse, focados em comparar impactos emocionais com o efeito do dinheiro, são importantes para nos lembrar de algo essencial: afeto, cuidado e conexão são “moedas afetivas mais transformadoras do que qualquer valor financeiro”.
Dinheiro é necessário para sobrevivermos e tem a sua importância na sociedade. No entanto, não podemos esquecer dos demais aspectos da vida que são fundamentais para nosso bem-estar. Nutrir o que nos faz bem é necessário, inclusive dar e receber todo o afeto que um animal de estimação pode proporcionar.
A pesquisa pode ser classificada no campo da economia do bem-estar. De acordo com Aquino, o termo se refere a uma ética do “cuidado e da interdependência”, na qual governos, cidadãos e empresas compartilham a responsabilidade de construir um sistema econômico que valorize o bem-estar humano e ambiental. “O verdadeiro progresso ocorre quando todas as pessoas têm condições de prosperar juntas, em uma sociedade mais justa e equilibrada”, ressalta.
“Em vez de medir o progresso apenas pelo crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), essa abordagem propõe que indicadores como felicidade, saúde mental, equidade e qualidade de vida sejam os verdadeiros parâmetros de sucesso. O foco deixa de estar exclusivamente no desempenho econômico e passa a considerar o impacto real na vida das pessoas e no equilíbrio ambiental.”
Melhores amigos
O cachorro pode ser o “melhor amigo do homem”, como diz a famosa frase. O gato, com sua personalidade diferente, combina mais com outros perfis de pessoas. Independentemente do pet, eles são essenciais na vida de diversas formas.
Professora do curso de psicologia da UNG (Universidade Guarulhos), Alessandra Chrisostomo destaca que o vínculo é “fundamental para o desenvolvimento de uma vida mais equilibrada”.
“Os animais ajudam a superar momentos difíceis com afeto e amor, que são essenciais para o bem-estar biopsicossocial”, afirma. Alessandra também cita os resultados positivos da TAA (Terapia Assistida por Animais) aplicada em hospitais e clínicas.
“As terapias comprovam como os bichinhos promovem melhorias físicas, emocionais e cognitivas em pacientes, o que reforça a importância da convivência com eles no dia a dia.”
A companhia dos animais de estimação também fortalece habilidades emocionais, como empatia, responsabilidade e regulação emocional. Sabe aquele cuidado diário que um pet exige, como limpeza, carinho, alimentação e atenção? Dedicação é fundamental. Ter isso na rotina gera senso de compromisso e compreensão.
“Estudos indicam que a interação com cães e gatos estimula sistemas cerebrais associados ao bem-estar que favorecem a redução do estresse e o equilíbrio emocional. Essa relação se manifesta na rotina: um tutor ansioso pode notar que seu pet se torna mais inquieto, incentivando ajustes no próprio comportamento para transmitir mais calma e segurança”, explica Aquino.
“Dessa forma, os animais de estimação se tornam verdadeiros aliados na construção de uma vida emocionalmente equilibrada. Eles ensinam seus tutores sobre cuidado, comunicação e conexão afetiva de maneira espontânea e genuína”, completa.
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