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Ultraprocessados na alimentação: 5 fatos que todo mundo precisa saber
Pawel Czerwinski | Unsplash
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Boa parte dos alimentos são processados em algum nível. É comum utilizar sal, óleo de cozinha ou alguns itens básicos da despensa, como o macarrão, que passaram minimamente por processos industriais até chegarem à nossa casa. Mas os ultraprocessados se diferenciam desse grupo por conter – na maioria das vezes – substâncias e aditivos que não existem na cozinha.

Muitos não são considerados alimentos, mas sim “produtos alimentícios”, por estarem presentes em sua fórmula aromatizantes, corantes e outros ingredientes químicos artificiais.

Como os alimentos são classificados, no geral?

O sistema de classificação, denominado NOVA, criado em 2009, divide os alimentos em quatro categorias: 1) não processados ou minimamente processados, 2) ingredientes culinários processados, 3) alimentos processados e 4) ultraprocessados.

  • O primeiro grupo abrange frutas e vegetais frescos, congelados e secos; leite e iogurte sem adição de ingredientes; carnes e peixes frescos; grãos e leguminosas; cogumelos; ovos; farinha; nozes e sementes; ervas e especiarias; massa e cuscuz.
  • A categoria dois engloba “ingredientes culinários processados”, como manteiga e óleos vegetais; mel e xarope de bordo; e açúcar, sal e vinagre.
  • Já a categoria três é denominada “alimentos processados”, incluindo pães e queijos recém-preparados; alimentos enlatados, como vegetais, peixes e frutas; carnes curadas e peixes defumados; além de nozes e sementes salgadas ou açucaradas.
  • Alimentos ultraprocessados formam a categoria quatro e são produtos que passaram por múltiplos processos durante a fabricação, sendo geralmente ricos em sal e açúcar e podendo conter aditivos e conservantes. Muitas vezes, esses alimentos possuem baixo teor de fibras e carecem dos nutrientes presentes em alimentos frescos ou minimamente processados

Quadro apresenta o grupo que instegra a categoria NOVA de alimentos. Fonte: Alessandro Fernandes/ Vida Simples

Por que os ultraprocessados fazem mal à saúde?

O consumo frequente e em altas quantidades de produtos ultraprocessados pode levar, na maioria dos casos, ao surgimento de doenças crônicas como diabetes, pressão alta e problemas relacionados à saúde do coração. Além disso, ultraprocessados podem potencializar o surgimento de diferentes tipos de câncer no corpo.

  • Um estudo recente publicado no The Lancet, com participação da pesquisadora Fernanda Rauber, da Escola de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), avaliou a incidência de 34 tipos de câncer e a relação com o consumo de ultraprocessados.
  • Esta pesquisa foi conduzida de 2007 a 2010, e analisou os hábitos alimentares de 500 mil indivíduos com idades entre 40 e 69 anos na Inglaterra. O estudo revelou que um consumo elevado de ultraprocessados aumentou o risco de câncer em geral em 7%, o risco de câncer de pulmão em 25%, o risco de câncer de cérebro em 52%, e o risco de linfoma em 63%, em comparação com indivíduos que consumiam esses alimentos em menor quantidade.
  • Do mesmo modo, um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Universidade de Santiago do Chile, e publicado no “American Journal of Preventive Medicine”, revelou que o consumo de alimentos ultraprocessados é associado a aproximadamente 57 mil mortes prematuras anuais de pessoas com idades entre 30 e 69 anos no Brasil.

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Inforgráfico com informações sobre alimentos ultraprocessados. Foto: Alessandro Fernandes/ Vida Simples

Como reconhecer um produto ultraprocessado?

Se você responder “SIM” às seguintes perguntas, fique atento, pois são sinais característicos de alimentos ultraprocessados.

  • Contém pelo menos um ingrediente que não é familiar para você?
  • Exibe alguma alegação de saúde na embalagem, como “rico em fibras” ou “fonte de proteínas”?
  • Inclui óleo de palma?
  • É produzido por uma empresa multinacional?

Além disso, agora ficou mais simples percebeu quais são esses produtos porque seus rótulos ficaram mais informativos.

Novo padrão de rótulos para ultraprocessados

A partir de outubro de 2022, passou a vigorar o novo padrão de rotulagem para alimentos e bebidas industrializadas, previamente aprovado pela Anvisa em 2020. É obrigatório que as embalagens exibam um selo frontal contendo um símbolo de lupa, com o objetivo de informar sobre elevados teores de açúcar, gordura e sódio.

De acordo com a Opas (Organização Pan-Americana da Saúde), a rotulagem frontal é uma das principais ferramentas políticas para regular os produtos ultraprocessados e evitar o consumo excessivo de ingredientes que fazem mal à saúde.

Uma outra possibilidade é utilizar o aplicativo Desrotulando. Ele escaneia o código de barras dos produtos e dá uma nota de 0 a 100 de acordo com a quantidade de açúcar, sal, gorduras e aditivos presentes.

Novo selo da Anvisa sobre alerta de ingredientes danosos à saúde que estão em excesso nos ultraprocessados. Foto: Divulgação/ Anvisa

O que são os “cosméticos” nos ultraprocessados?

  • O rótulo dos itens no supermercado devem estar presentes em formato de lista, da maior para a menor quantidade. Se, por exemplo, o primeiro ingrediente é o açúcar, ele é predominante e existe em maior quantidade naquele item.
  • Além disso, nos ultraprocessados, há uma lista dos aditivos no final do campo de ingredientes. Aditivos cosméticos, utilizados para tornar o produto mais saboroso ou atraente, englobam realçadores de sabor, corantes, emulsificantes, sais emulsificantes, adoçantes, espessantes, agentes antiespumantes, agentes de volume, carbonatantes, espumantes, agentes gelificantes e agentes de revestimento.

Existe um consumo seguro de ultraprocessados?

Não existe uma resposta final para essa pergunta, mas alguns caminhos indicam que o consumo deve ser moderado ou mesmo evitado:

  • A ciência da nutrição se divide em epidemiologia, que analisa populações, e clínica, que aborda indivíduos. Na vertente clínica, as orientações alimentares variam conforme histórico, cultura e acesso aos alimentos, sem uma diretriz específica para o consumo de ultraprocessados em nível individual.
  • Na epidemiologia nutricional, não há uma quantidade segura para o consumo de ultraprocessados, pois esses alimentos, criados para serem hiperpalatáveis (ou seja, muito agradáveis para o paladar), podem levar a uma ingestão excessiva.

Por que os ultraprocessados são tão comuns no mercado?

Apesar da compreensão sobre os problemas e impactos dos ultraprocessados, a complexidade desse tema vai além. Isso porque a alimentação envolve questões sociais, culturais, políticas e geográficas.

“Além disso, o consumo alimentar sofre uma forte influência do marketing altamente abrangente e persuasivo, principalmente quando direcionado ao público infantil”, explica Sara Ortins, nutricionista e especialista em Nutrição Vegetariana. Para ela, é comum a indústria alimentícia associar os ultraprocessados a alimentos práticos, rápidos e baratos. “Além de estimularem a ideia de que alimentos in natura são trabalhosos e caros”.

E, com o baixo valor nutricional de alimentos ultraprocessados, muitos aditivos podem complicar a absorção de nutrientes no intestino. “Eles podem ser alérgenos, sensibilizadores ou mesmo hepatotóxicos (tóxicos para o fígado), causando também inflamação na microbiota intestinal”, destaca Sara Ortins.

Para a nutricionista, o ideal é reduzir o consumo de ultraprocessados de forma gradativa. Da mesma forma, é importante, também, incluir alimentos in natura na alimentação, como frutas, legumes e vegetais. “Quanto mais colorida e diversificada for a sua alimentação, menos espaço terá para o consumo de industrializados e ultraprocessados.”

Ela recomenda ainda o planejamento alimentar, a fim de organizar as refeições do dia ou da semana.

“É muito mais fácil evitar comprar ultraprocessados quando nos planejamos e cozinhamos as próprias refeições, além de ser mais saudável e mais econômico.”

Sara Ortins defende políticas públicas mais eficientes e combativas. Ela cita, por exemplo, o aumento de tributos para produtos ultraprocessados, rotulagem específica, regulação de propagandas, além da promoção da segurança e soberania alimentar. Programas educativos em escolas e unidades de saúde com base no Guia Alimentar Para a População Brasileira, segundo a especialista, também são importantes.

Como adotar uma alimentação saudável?

Para a professora e nutricionista Driele Quinhoneiro, é preciso sairmos do rótulo de que ultraprocessados fazem mal e partimos para estratégias mais eficientes. Ela destaca que há um movimento atual de compatibilizar os alimentos – em toda sua diversidade – nas caixinhas dos nutrientes. De acordo com o pesquisador Gyorgy Scrinis, o nutricionismo acontece quando visualizamos a comida apenas como números, em calorias ou percentuais de nutrientes. “Desenvolvemos um olhar altamente fragmentado daquilo que se come”, sugere Driele.

Para ela, isso pode até ser útil para estimular o consumo de alimentos com maior incidência de nutrientes. Por outro lado, o nutricionismo é útil também à indústria alimentícia. Assim, é comum ver produtos com informações como “rico em vitaminas” ou “rico em zinco”, mesmo antes de sabermos do que se trata.

Para Driele Quinhoneiro, uma forma de escolher o alimento é optar por aqueles em que a produção é perto de casa. Desse modo, há maiores chances de serem in natura, além de contribuir para a redução do impacto ambiental. “E, quem sabe, você pode até fazer um convite a si mesmo quando comprar algo que venha de pacote. Assim, recomendo escolher um que tenha, no máximo, entre 5 e 10 ingredientes.”

Comeu um ultraprocessado e a culpa pesou? É importante evitar a autopunição

Driele, que é professora de Mindful Eating (comer consciente), sugere que a autopunição não é o caminho mais eficiente. Assim, o movimento esforço → esforço → não aguento mais → como a comida → me sinto culpado é um ciclo frequente na vida de muitas pessoas. “Como nutricionista AntiDieta e pautada na ciência – que sabe o impacto da restrição no nosso cérebro -, noto como isso é pouco efetivo a longo prazo”, explica.

Por isso, ela sugere abordagens focadas na “não proibição”. “Não significa comer o que quisermos, na hora que quisermos, na quantidade que quisermos. Ao invés disso, é reconhecer o que temos feito e que não funciona, além de dar a sua atenção curiosa para o que come”, explica.

Para a nutricionista, é importante encontrar um ritmo para comer com equilíbrio, evitando a lentidão entediante e a rapidez que compromete a apreciação. “Explore texturas, sabores e combinações que agradem seu paladar, confiando na busca natural por saúde do seu corpo”.

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