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Por que as taxas de fertilidade estão diminuindo no mundo inteiro?
Dainis Graveris
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As taxas de fertilidade no mundo inteiro diminuíram cerca de 50% nos últimos 50 anos e acredita-se que continuarão caindo nas próximas décadas. Não só isso, a concentração média de espermatozoides em homens é menor do que gerações anteriores e a fertilidade das mulheres também caiu em relação ao passado. Além dos fatores comportamentais e culturais das sociedades, mudanças no corpo a partir da introdução de químicos e outras substâncias artificiais têm levantado um alerta em pesquisadores e estudiosos sobre o tema.

Embora a população mundial caminhe com um prognóstico de crescimento, espera-se que, no futuro, o número de pessoas idosas passe a ser maior do que hoje e exista, assim, uma crise demográfica. Países como Japão, por exemplo, já sofrem o impacto de um envelhecimento populacional rápido associado à queda da fertilidade. Em 2022, pelo sétimo ano consecutivo, a taxa de fertilidade no país diminuiu, segundo dados do governo local. Agora, estima-se que uma mulher tenha uma média de 1,26 filhos em toda a vida.

Esse é o tema central do livro Contagem Regressiva (Alaúde)*, escrito por Shanna Swan, epidemiologista ambiental e reprodutiva, com Stacey Colino, especialista em saúde ambiental. Juntas, as autoras apresentam dados que buscam investigar as possíveis causas e relações entre a queda na taxa de fertilidade com o estilo de vida adotado no presente.

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Espermatozoides em queda

“Como o mundo moderno está ameaçando a contagem de espermatozoides e alterando o desenvolvimento reprodutivo feminino e masculino […].” Essa é parte da chamada do livro, publicado em 2023 no Brasil, que traz questionamentos e investigações sobre o tema. As pesquisas da epidemiologista ambiental Shanna Swan mostraram, entre 1973 e 2011, que a concentração de espermatozoides caiu mais de 52% entre homens aleatórios nos países ocidentais. Além disso, a contagem total caiu 59%.

O médico Dr. Renato Faietta, professor na Escola Paulista de Medicina – EPM/UNIFESP, explica que há causas multifatoriais que podem explicar o declínio no número de espermatozoides nas gerações atuais e, como consequência, pode haver um impacto também na fertilidade. “De uma maneira geral, o estilo de vida recente contribui muito para isso: produtos químicos que afetam nossos hormônios (chamados de disruptores endócrinos), tabagismo e etilismo”, explica o especialista. Além disso, Faietta acrescenta que a obesidade, sedentarismo, diabetes, infecções, poluição e idade paterna avançada podem ser fatores relevantes.

Por outro lado, a médica ginecologista Dra. Loreta Cavinilo explica que os estudos de Shanna Swan encontram relações, especialmente, entre produtos químicos e a redução no número de espermatozoides. “No entanto, esta causalidade é uma hipótese que deve ser mais estudada“, defende a médica.

Para a também médica ginecologista Dra. Fernanda Floresi, o estilo de vida e práticas consideradas nocivas ao corpo podem representar problemas relevantes à sociedade. “São os grandes responsáveis em aumentar a inflamação corporal e a oxidação celular e diminuir o rendimento das nossas células e, consequentemente, óvulos e espermatozoides.”

Múltiplas causas para o fenômeno

Embora seja comum associar a queda populacional a fatores sociais e culturais, os estudos da epidemiologista não refutam esses argumentos, mas trazem outros elementos que corroboram com o quadro. “O crescimento da infertilidade é de causa multifatorial, incluindo questões genéticas herdadas”, comenta o professor Renato Faietta. Além disso, ele explica que os fatores epigenéticos podem impactar nesse cenário. “Esses fatores representam a maneira como os estímulos ambientais podem ativar determinados genes e silenciar outros, prejudicando o potencial fértil do indivíduo e transmitindo à sua prole”, destaca.

Dessa forma, mudanças na sociedade trazem questões relevantes para serem debatidas. Em Contagem Regressiva, Shanna Swan mostra o caso do Japão, um país que historicamente estimula longas jornadas de trabalho. “A cultura japonesa valoriza tanto o sucesso profissional e longos expedientes de trabalho que, segundo consta, muitas pessoas em idade reprodutiva não se interessam em fazer sexo”, explica autora no livro.

Além disso, há um desprezo, entre um número significativo dos jovens, do contato sexual. Esses casos chamaram tanta atenção que recebeu o nome de “síndrome do celibato“, que é descrita como um declínio no interesse por sexo e pela atividade sexual, ou até mesmo por relações românticas.

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Não estamos nem um pouco próximos da extinção, mas o especialistas explicam que, neste momento, é preciso haver políticas públicas e análises que dimensionem a realidade. Para a ginecologista Dra. Fernanda Floresi, é importante promover campanhas que reduzam os fatores que estão associados à infertilidade. “Sedentarismo, tabagismo, obesidade e outras doenças têm que estar nos planos de combate governamentais para se promover um maior potencial de saúde e automaticamente diminuir a infertilidade”, afirma.

Já Renato Faietta explica que ainda não há uma preocupação tão alta sobre a redução da fertilidade no mundo. Isso porque a humanidade continuará crescendo nas próximas décadas, especialmente em países mais empobrecidos. “Essa progressiva baixa taxa de filhos(as) por família pode demandar que políticas públicas sejam prontamente instituídas com o objetivo de estimular, ao menos, a manutenção do crescimento populacional”, destaca.

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