Conheça os poderes de cura de nove plantas medicinais
Com o apoio da ciência, a fitoterapia resgata nossa relação com o poder curativo das plantas medicinais. Retomar esse laço nos ajuda a cuidar da saúde de forma integral
Os mais velhos sempre têm aquela receita de chá para aliviar alguma dor. Indicações assim são indícios da nossa relação com as plantas medicinais, único remédio disponível quando a maioria da população era rural.
A ausência de hospitais e farmácias – ou sua distância – nos levava a buscar a cura nas matas. Começamos a nos afastar do poder curativo das plantas medicinais quando a indústria farmacêutica se desenvolveu, no final do século 19.
Nessa época, cientistas produziram a primeira imitação de um princípio ativo de uma planta em laboratório. “O ácido salicílico, retirado da árvore chamada salgueiro, utilizada para combater a febre, foi isolado para compor o hoje famoso AS”, conta a nutricionista habilitada em fitoterapia Deise Lopes.
Um novo revés se deu nos anos 1980. Foi quando a OMS (Organização Mundial da Saúde) passou a incentivar a fitoterapia, tratamento a partir das plantas, como resposta à sobrecarga no sistema de saúde.
No Brasil, a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos foi finalmente aprovada em 2006. Hoje, integra o Sistema Único de Saúde (SUS).
Qual a diferença entre fitoterapia e alopatia?
O cientista e professor de farmacologia José Carlos Tavares explica que a principal diferença entre fitoterapia e alopatia é a grande quantidade de princípios ativos dos medicamentos fitoterápicos e das plantas medicinais in natura.
Para se ter uma ideia, apenas o gengibre tem 450 princípios ativos identificados. “Ao se isolar um ou mais princípios ativos, começam a aparecer efeitos tóxicos ou colaterais.”
“Já na associação desses elementos, alguns deles impedem que outros produzam efeitos tóxicos. É o que chamamos de sinergismo e antagonismo, uma coisa muito bonita nas plantas”, explica.
“E as ervas atuam em todos os níveis: físico, mental, espiritual e emocional”, diz Deise.
Nas medicinas tradicionais, como por exemplo a chinesa e a ayurvédica, da Índia, e nas comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas, a conexão com as plantas medicinais resistiu ao tempo.
Catarina Delfina Nimbopyruá é prova disso. Neta de parteira, ela é líder espiritual tupi-guarani da terra indígena Piaçaguera, em Peruíbe (SP).
Professora de fitoterapia, acredita no caminho do meio: manter os conhecimentos da medicina convencional ao mesmo tempo que resgatamos a cultura terapêutica das plantas medicinais, que começa pelo respeito.
“As plantas também têm vida. Se arrancar a folha de qualquer jeito, não vai servir para curar”, aponta.
Depois, que tal resgatar aquele chazinho que a sua avó recomendou? Vale lembrar que, para tratamentos contínuos
com chás, tinturas, banhos, florais e xaropes àbase de plantas, busque sempre a orientação de um profissional.
Por conseguinte, se usadas em frequência, quantidade e preparo inadequados, as plantas podem provocar alergias, intoxicações e até morte. Elas também podem reagir com medicamentos sintéticos, causando complicações.
ALECRIM
(ROSMARINUS OFFICINALIS)
O arbusto nativo do mediterrâneo tem folhas e ramos usados em preparos como infusões e tinturas. Ao passo que reconhecido como um tônico rejuvenescedor por sua alta concentração de antioxidantes.
Também estimula a fome, a digestão e a eliminação de toxinas pelo sistema digestivo e urinário. “Essa planta medicinal alivia a gastrite leve e tem efeito antibacteriano”, diz José Carlos.
Verdadeiro tônico para o cérebro, a erva melhora a memória, a concentração e alivia a ansiedade. Isso porque ajuda na circulação sanguínea, reduzindo inflamações, enxaquecas, dores de cabeça e musculares.
Sendo assim, usa-se o chá quente contra febre, dor de garganta, gripes e infecções nas vias respiratórias. Para fazer o chá, despeje uma xícara de água quente sobre uma ou duas colheres de chá da erva seca e tampe o recipiente por 15 minutos. Deve-se evitar durante a gravidez.
BABOSA
(ALOE VERA)
A principal ação terapêutica da babosa é no suco, que consiste em água batida com o gel extraído do interior das folhas.
Antes de extrair o gel, deixe a folha descansar na vertical com a parte cortada para baixo até que um líquido escuro escorra – ele pode conter toxinas.
Ingerida, a bebida funciona como um laxante leve. Anti-inflamatória, ela desintoxica o organismo em casos de artrite, por exemplo.
Um de seus componentes, a acemanana, eleva a imunidade e tem ação antiviral, sendo assim muito útil no tratamento do herpes. Reduz as ondas de calor na menopausa e alivia os sintomas da TPM.
Aplicados na pele, o suco ou o gel abrandam e cicatrizam queimaduras, feridas, picadas de inseto, acne e psoríase.
Cuidado: a babosa pode interagir com medicamentos que contenham glicosídeos e esteroides cardíacos. Além disso, pessoas grávidas e no período de amamentação devem evitá-la.
CALÊNDULA
(CALENDULA OFFICINALIS)
Ela é reconhecida entre as plantas medicinais desde os tempos do Império Romano no tratamento de problemas digestivos, infecções e até no combate da peste.
Suas flores amarelas funcionam como um remédio de primeiros socorros. Isso porque, em seu uso externo, por meio de creme, gel ou compressa, a calêndula estanca sangramentos e acelera a cicatrização de cortes, queimaduras e dermatites.
Seu chá reduz a gastrite, úlceras e estimula o funcionamento do fígado e da vesícula biliar. Para preparar a bebida, despeje uma xícara de água fervente sobre uma ou duas colheres de chá das flores secas e deixe em infusão por 15 minutos. Beba três vezes ao dia.
Por fim, a calêndula é antimicrobiana, antibacteriana e antifúngica. Regula a menstruação, alivia as cólicas menstruais e estimula as contrações durante o parto. Grávidas e crianças devem consultar um médico antes de ingerir.
GENGIBRE
(ZINGIBER OFFICINALE ROSCOE)
O gengibre estimula a digestão, aumentando os movimentos intestinais, e o apetite. Auxilia na indigestão, cólicas intestinais e nos gases, e ainda combate a ressaca.
José Carlos indica seu uso em casos de náuseas e enjoos. Ao remover o acúmulo de toxinas, melhora a imunidade do organismo.
É valioso para o sistema respiratório, dessa forma, alivia asma, tosse com catarro, infecções das vias respiratórias e bronquite. Pode servir como chá, tempero ou gargarejo (para dores de garganta). Também é conhecido como afrodisíaco e utilizado no tratamento da impotência.
“Pessoas com pressão alta não devem consumir gengibre seco e avaliar se têm alguma reação de subida de pressão com o fresco”, pondera Deise.
O gengibre interage com medicamentos anticoagulantes e deve, portanto, ser evitado em quadros de úlceras pépticas e cálculos biliares.
MELISSA OU ERVA-CIDREIRA
(MELISSA OFFICINALIS)
Essa planta medicinal do mediterrâneo ficou popular na Idade Média no mundo árabe por melhorar a longevidade, o que hoje a ciência comprova, graças a um antioxidante entre seus componentes.
A planta também atenua os problemas ligados ao estresse, reduzindo a tensão, a ansiedade e a agitação. “É bom para regular a pressão alta e a baixa (com uma pitada de sal), diminuir a febre e a tosse”, acrescenta Catarina.
É útil contra insônia, zumbido no ouvido e vertigens. Também é usada no controle do hipertireoidismo – porém deve-se evitar sua ingestão ao mesmo tempo em que se toma medicamentos para a tireoide.
A melissa ainda atua como antisséptica para cortes e feridas no uso tópico. A infusão leva de 1 a 4 g das folhas secas para 150 ml de água fervente. Deve-se tomar de 10 a 15 minutos após o preparo, duas a três vezes ao dia.
CANELA
(CINNAMOMUM ZEYLANICUM) Nativa da Ásia, essa planta medicinal é usada para combater as infecções respiratórias típicas do inverno. Ela seca as mucosas e tem efeito expectorante.
A casca da erva in natura ou transformada em pó estimula a digestão e a absorção, dessa maneira combatendo a falta de apetite, náusea, febre, vômitos, cólicas, indigestão e gases.
Eleva a eficácia da insulina e previne a intolerância à glicose, que pode levar à diabetes. Nos planos mental e emocional, a canela eleva a resistência ao estresse, bem como melhora a energia, a motivação e o foco, sendo uma boa alternativa à cafeína.
Alivia artrite, dores de cabeça e a rigidez muscular. É, ainda, uma rica fonte de magnésio, essencial para a saúde dos ossos e o equilíbrio hormonal.
Pode ser usada nos alimentos ou como chá. Entretanto, hipertensos devem testar se o seu uso causa aumento da pressão arterial e doses altas devem ser evitadas na gravidez.
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ERVA-BALEEIRA
(CORDIA VERBENACEA) Nativa do Brasil, é o nosso anti-inflamatório natural. Alguns indígenas usam o extrato das folhas da planta para aplicação tópica em processos anti-inflamatórios.
Seu uso tradicional é no combate de contusões, como tônico e cicatrizante. Estudos comprovaram que o extrato da folha protege a mucosa do estômago, reduzindo o número de lesões gástricas produzidas por estresse.
“Essa erva alivia a cólica menstrual e outras dores quase na hora. Sempre faço para as minhas netas”, conta Catarina.
Além disso, como chá, também serve para tratar artrite, reumatismo, dores musculares e problemas de coluna. Prepare a infusão com 3 g da erva seca para 150 ml de água fervente. Felizmente, a baleeira não apresentou nenhum efeito adverso durante estudos científicos.
AÇAFRÃO-DA-TERRA
(CURCUMA LONGA) É um anti-inflamatório importante para o sistema digestivo, aliviando gengivite, afta, gastrite e recuperando a flora intestinal após tratamentos com antibióticos.
Ajuda na absorção de nutrientes e no metabolismo, apoiando a perda de peso. Por isso, reduz o açúcar no sangue em pessoas diabéticas, além de diminuir o colesterol nocivo.
Estimula o sistema imunológico e até a produção de células antitumorais. Pode ser servido como chá, tempero, dissolvido no mel para inflamações respiratórias e diluído em azeite ou batido no leite de boa qualidade ou vegetal.
Doses altas devem ser evitadas na gravidez, em casos de úlcera péptica e de cálculos da vesícula biliar. Interage com medicamentos anticoagulantes e anti-inflamatórios não esteroidais.
ALHO
(LLIUM SATIVUM) O alho tem atividade antibiótica e seu poder antimicrobiano age sobre bactérias, vírus, fungos e parasitas alimentares.
Também favorece o desenvolvimento da flora intestinal. Ademais, diminui a pressão arterial, reduz os níveis de colesterol e triglicérides, além de ser útil em casos de diabetes tipo 2.
Reduz o risco de ataques cardíacos e retarda o processo de envelhecimento graças aos seus antioxidantes. Além disso, no sistema respiratório, ajuda a eliminar catarro, tosse, asma, bronquite e rinite.
“O ideal é usar cru em preparações como pastas e molhos de salada”, diz Denise. Porém, não deve ser usado em pré ou pós-operatórios.
Doses elevadas devem ser evitadas concomitantemente com o uso de medicamentos de varfarina, anticoagulantes e anti-hipertensivos.
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Conteúdo publicado originalmente na Edição 233 da Vida Simples
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