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Por que devemos falar sobre sexo em relações afetivo-sexuais?
Foto: Shingi Rice/Unsplash
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O que leva um casal a se separar? Uma pesquisa divulgada em 2022 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que o número de divórcios está aumentando no Brasil. Dentre os diversos motivos que acarretam o afastamento do casal, como finanças e infidelidade, a insatisfação na vida sexual é um dos principais.

O sexo tem um papel importante nos relacionamentos afetivo-sexuais, aproximando o casal e trazendo mais intimidade e parceria. Mesmo assim, muitos parceiros podem ter dificuldades de ter uma comunicação aberta, corajosa e assertiva sobre o assunto.

O que é intimidade (e o que não é)

“Muitas pessoas fazem sexo, mas não conversam sobre sexo”, declara Luciana Cunha, terapeuta, sexóloga e autora do livro Orgasmos Além da Penetração. Ela explica a importância de ter comunicação em um relacionamento para garantir uma vida sexual mutuamente prazerosa.

“Existe uma ideia equivocada de que intimidade é apenas fazer coisas como deixar a porta do banheiro aberta. Na verdade, intimidade é se mostrar sem filtros para o seu parceiro, compartilhando inseguranças e desejos, até aqueles que você tem vergonha de dizer para qualquer outra pessoa”, explica a terapeuta.

Apesar de essencial, é muito comum que casais tenham dificuldades de ter uma comunicação aberta e honesta sobre sexo. Isso acontece por conta do tabu que existe sobre o assunto em nossa sociedade. Quem explica isso é a psicóloga Ane Marques.

Educação sexual começa na família

De acordo com a especialista, na grande maioria das famílias ainda não há espaço para falar sobre sexo, fazendo com que a sexualidade não seja explorada.

“A falta do tema sexo em conversas de família pode causar um impacto direto na relação íntima dos casais, já que as pessoas envolvidas em um relacionamento nem sempre tiveram abertura para falar sobre a sua sexualidade em casa”, aponta.

Como consequência, isso pode levar a um distanciamento do casal, além da diminuição na frequência das relações sexuais e a tão temida – porém, muitas vezes, injustamente ignorada – insatisfação sexual.

O que causa insatisfação no sexo?

As causas da insatisfação sexual são diversas, segundo Claudia Petry, pedagoga com especialização em Sexualidade Feminina pela Faculdade de Medicina da USP.

“Alguns dos principais motivos são a falta de comunicação entre os parceiros sobre suas necessidades e desejos sexuais, falta de intimidade emocional no relacionamento, estresse e cansaço excessivos”, exemplifica.

Além disso, problemas de saúde física ou mental, experiências traumáticas ou negativas relacionadas ao sexo, e até mesmo a presença de disfunções sexuais, como a disfunção erétil ou a falta de orgasmo, são algumas causas.

Para a especialista, o mito do amor romântico também pode contribuir para essa insatisfação. A idealização leva a expectativas irreais sobre o amor e o sexo, levando a comparações negativas e pressões desnecessárias, resultando em sentimentos de inadequação.

“E a falta de conhecimento do próprio corpo dificulta a comunicação sobre as preferências e necessidades sexuais, tornando desafiador expressar de maneira clara o que satisfaz”, complementa.

Conhecer o próprio sexo é um passo essencial

“Como você pode ser íntima de alguém se não é íntima consigo mesma?” Essa é a pergunta que Luciana Cunha sempre faz às suas pacientes.

“A masturbação e o autoconhecimento dão controle sobre o corpo e o prazer. Esse domínio pessoal não só enriquece a intimidade com o parceiro, mas também fortalece a autoconfiança e a conexão emocional na relação’, explica a terapeuta.

Ane Marques aponta que a masturbação é algo natural da sexualidade humana, por mais que às vezes seja vista como algo errado ou ruim, por questões culturais e religiosas. “Com certeza é o caminho para o autoconhecimento do seu próprio prazer. Assim, podemos mostrar ao nosso parceiro o que gostamos e a maneira como gostamos na relação sexual”, justifica.

Masturbação pode ser grande aliada das mulheres

“Segundo uma recente pesquisa feita na Universidade de Indiana, os homens dos Estados Unidos têm mais orgasmos do que as mulheres”, cita Ane Marques.

Para a especialista, o principal motivo dessa disparidade em relacionamentos heterossexuais é a educação sexual focada apenas no prazer masculino. Esse hiperfoco na satisfação da masculinidade desvaloriza a satisfação sexual das mulheres e ajuda a reforçar o falso mito de que somente existe sexo se houver penetração.

Afinal, nem todas as mulheres atingem o orgasmo por meio da penetração. Levantamento da pesquisa norte-americana “Experiências femininas com toque genital, prazer sexual e orgasmo” mostram que apenas 18% das mulheres entrevistadas conseguem chegar ao prazer pela penetração.

Dessa forma, é muito importante que as mulheres tenham conhecimento de como gerar o seu prazer, para poder relatar ao parceiro.

É fundamental que a mulher busque conhecer o seu corpo, os locais mais sensíveis ao prazer e o que faz ela se sentir bem. Assim, ela poderá mostrá-los e conduzir a sua pessoa amada a explorar um caminho de troca mútua de prazer”, explica a psicóloga.

Como conversar sobre sexo em um relacionamento?

Marina Rotty é sexóloga e psicóloga focada em não-monogamia consensual. Ela explica que, antes de ter uma conversa sobre sexo, é necessário se atentar aos tópicos a serem abordados.

“É importante refletir e anotar os pontos que gostaria de falar, como ‘gostaria de tentar novas posições’, ‘gostaria de visitar uma sex shop’ ou ‘gostaria que não esperássemos até tarde para começarmos a transar”, exemplifica a especialista.

Além disso, esteja de ouvidos abertos para ouvir os sentimentos do outro. “Vale lembrar que uma conversa é um diálogo, não um monólogo. Ambos devem estar preparados para falar sobre suas reflexões, mas também ouvir atentamente – e sem julgamentos – o que seu parceiro tem a dizer”, finaliza a especialista.

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