Gabriela Sevilla sempre buscou aproximações com culturas, realidades e cosmologias que trazem um olhar decolonial ao planeta. Inspirada em um turismo positivo e que enriqueça seu repertório cultural, ela decidiu experimentar o etnoturismo. Essa é uma forma de ver e conhecer o mundo e uma das principais opções de turismo sustentável, não só para quem o realiza, mas também para os moradores da região, que recebem os grupos e obtêm fonte de renda.
A expedição também desperta a preocupação socioambiental, o que estimula a preservação da biodiversidade local, o modo de vida e saberes ancestrais dos povos indígenas. “Não tenho palavras para descrever o quão forte e impactante foi esse momento pra mim”, explica a psicóloga e psicanalista à Vida Simples.
Gabriela decidiu ir até à Aldeia Shanenawa, nas proximidades da cidade de Feijó (Acre), uma das opções de etnoturismo da Vivalá, empresa especializada em turismo sustentável no Brasil. “Eu nunca experienciei tanto acolhimento em minha vida”, explica. “Além disso, eles cuidam um dos outros de maneira tão genuína, realmente vivem em comunidade”, acrescenta.
Para a psicanalista, as mudanças após a viagem vieram em diferentes frentes. Ela foi diretamente influenciada pela relação entre as crianças e o grupo de turistas, além das trocas importantes sobre saúde mental e acolhimento na comunidade indígena. “Notei também que a relação com o tempo é o outra, há espaço pra fluidez da espontaneidade, coisa que às vezes perdemos muito vivendo na cidade”, destaca.
Etnoturismo como fonte de renda
É possível fazer até três expedições indígenas em diferentes regiões do país por meio da Vivalá. As pessoas podem optar pela Terra Indígena Katukina Kaxinawá (Acre). Mas é possível também ir à Terra Indígena Kariri-Xocó (Alagoas) e na Terra Indígena Tenondé-Porã (São Paulo).
Para o Cacique Teka Shanenawa, o turismo indígena e sustentável é uma oportunidade de transmitir a resistência local contra o desmatamento e a destruição da floresta. Além disso, são momentos frutíferos de trocas culturais, especialmente para os não indígenas, que costumam carregar estereótipos. “O turismo contribui na solução das dificuldades que temos. Inclusive, está contribuindo com a faculdade das minhas duas filhas”, destaca o líder indígena. “Isso tem sido uma porta aberta para vender nossos artesanatos, mostrar nossa cultura e provar que não somos menos do que qualquer outra cultura ou povo brasileiro” friza.
Segundo Teka Shanenawa, um dos momentos marcantes das visitas é quando os grupos vivem, de fato, a vivência indígena, seja ela material ou espiritual. “É uma experiência interna e externa, onde renasci para tudo aquilo que importa e de que talvez eu estivesse desconectada por conta de tanto ruído que a cidade traz”, faz coro a psicanalista Gabriela Sevilla.
“Fazer essa viagem é saber que nada mais na vida será como antes. E que bom! O povo Shanenawa virou família pra mim”, destaca.
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Boas práticas ao adentrar em terras indígenas
Após conhecer e entender o que o etnoturismo oferece e suas implicações, é hora de saber como imergir numa cultura que pode ser impactante e bastante diferente das vivências em centros urbanos. Há algumas dicas que tendem a facilitar a chegada a esses locais. Um dos principais pontos é que o território a ser visitado necessita de maior atenção com aspectos básicos.
- Regras específicas são aplicadas nas terras indígenas, incluindo a proibição de consumo de bebidas alcoólicas, a necessidade de evitar ruídos excessivos para não perturbar a fauna, a proibição de marcar nomes ou símbolos em árvores, pedras, placas ou outros elementos naturais, e a orientação para deixar objetos como pedras, conchas e flores no local.
- Quanto aos registros, é possível fazer fotos e vídeos, mas com responsabilidade e sensibilidade. Mas é importante não fotografar crianças desacompanhadas ou sem o consentimento delas, bem como evitar capturar imagens de pessoas em situações que possam causar constrangimento, como exposição do corpo.
- Antes de visitar uma aldeia indígena, é fundamental fazer pesquisa prévia sobre a comunidade em questão, buscando compreender sua cultura e história. Além disso, é recomendável usar termos e palavras apropriados como sinal de respeito. Para obter informações adicionais sobre a causa indígena e adotar uma comunicação respeitosa, a Articulação dos Povos Indígenas no Brasil (APIB) oferece recursos informativos.
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Etnoturismo exige mente e coração abertos
É preciso deixar estereótipos, preconceitos e crenças sociais, que muitas vezes existem na sociedade, no sistema educacional ou em decorrência próprio passado colonial do Brasil. Mas isso serve para qualquer cultura que alguém deseja conhecer. É fundamental se despir e entregar-se ao novo, com respeito e cautela.
“Ao se conectar com a sabedoria ancestral dos povos originários, observamos que os viajantes são transformados de diferentes formas: quebram preconceitos, renovam as energias e encontram extremo bem-estar no contato direto com a natureza”, explica Daniel Cabrera, cofundador e diretor-executivo da Vivalá.
Além disso, Cabrera destaca que é uma oportunidade de conhecer a história do Brasil a partir da perspectiva indígena. “Com isso, os visitantes repensam o que aprenderam, tanto sobre sua relação com a natureza quanto sua própria vida. Por isso, essas vivências são muito especiais e realmente transformam a gente”, finaliza.
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