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O jornalismo infantojuvenil como caminho para um mundo melhor
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Desde 2011, o Joca, único jornal voltado para crianças e adolescentes do Brasil, ajuda a formar cidadãos em busca de construir um mundo mais responsável e humano

Nos últimos anos, a divulgação de notícias falsas, ou fake news, ganhou destaque no dia a dia dos brasileiros. Com requintes de maldade, confundem ainda mais a população, que já sofre com uma formação educacional frágil – dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) apontam que mais de 6% dos brasileiros são analfabetos.

Em 2020, experimentamos algo novo na história recente: a pandemia causada pelo novo coronavírus, que dizimou mais de 1,4 milhão de pessoas no mundo até a publicação deste texto. Por aqui, em muitos momentos, a covid-19 foi tratada como piada. Não bastassem esses acontecimentos, vimos biomas queimarem com mais intensidade; pessoas morrerem só por causa da cor da pele; manifestações contra governos tomando às ruas… Nesse cenário, a educação, elemento capaz de formar cidadãos com senso crítico e humanidade para construir um mundo melhor, se possível for, mostrou-se ainda mais necessária.

Ao contrário do que pode parecer, a formação de uma pessoa não é responsabilidade apenas dos pais ou da escola. É também do bairro onde ela vive, da cidade, do todo. Pensando em contribuir para esse processo, em 2011 surgiu o jornal Joca, único voltado para crianças e adolescentes no Brasil.

O Joca foi fundado por Stéphanie Habrich, que deixou uma carreira em ascensão no mercado financeiro em 2007 para investir na sua paixão: o jornalismo infantojuvenil. Desde então, quinzenalmente, o veículo circula por escolas de todo o Brasil, trazendo os temas que dominam o noticiário mundial em linguagem simples para os pequenos leitores.

A trajetória de Stéphnie e do Joca deu origem ao livro Uma Jornada com Propósito – como minha paixão pelo jornalismo infantojuvenil impacta o presente (e o futuro) da juventude brasileira (Ed. Magia de Ler), escrito e editado pelas jornalistas Débora Lublinski e Maria Carolina Cristianini.

Abaixo, Maria Carolina, que é referência em jornalismo infantojuvenil no Brasil e redatora-chefe do Joca, fala da importância de formar leitores como meio para construir um mundo melhor – para o hoje e para o amanhã.

Qual é a importância do jornalismo voltado para crianças e adolescentes?

Existem diversos motivos para que crianças e adolescentes tenham contato com notícias. Em primeiro lugar, precisamos sempre nos lembrar de que o acesso à informação é um direito dos jovens previsto pelo Estatuto da Criança e do Adolescentes (ECA) e pela Convenção Sobre os Direitos da Criança, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 20 de novembro de 1989.

Na experiência que temos com o Joca, após nove anos de existência completados agora em novembro, percebemos um processo que se repete com nossos leitores de forma geral e que exemplifica muito bem a importância do jornalismo infantojuvenil. A lógica é simples: uma criança ou jovem que se informa (por meio de veículo de comunicação adequado à sua faixa etária) sobre seu bairro, cidade, estado, país, mundo, compreende a sociedade em que vive e da qual faz parte. A compreensão leva ao desejo de agir, de tornar melhor o local onde se está inserido. Disso surge a consciência cidadã e o pensamento crítico. E forma-se uma geração de adultos transformados.

Isso sem falar da importância de, desde a infância, conhecer como o jornalismo profissional atua. É dessa forma, compreendendo como se dá a apuração das notícias e sabendo diferenciar fato de opinião, por exemplo, que vamos formar uma geração melhor preparada para lidar com as fake news.

Falar sobre o que está acontecendo no mundo com uma criança é essencial? Como fazer isso sem chocar ou você acha que crianças são mais resilientes do que imaginamos?

É uma ilusão achar que as crianças não vão ter acesso aos fatos da atualidade. No mundo em que vivemos hoje, não há como criar essa bolha. As notícias chegam mesmo se não forem convidadas. As crianças podem escutar sobre os fatos a partir de amigos, ver na internet ou mesmo ouvir os pais ou outros adultos conversando. É melhor que o contato ocorra com consciência e pelos meios adequados para essa faixa de idade.

O melhor caminho é o traçado pelo jornalismo infantojuvenil. Ao ter contato com os fatos em linguagem adequada, acompanhados dos recursos necessários para o entendimento do ocorrido – como a contextualização –, a criança se informa e junto vem junto a sensação de segurança.

Posso dar um exemplo prático. O que é mais assustador? Entender as causas da tragédia que tirou a vida de mais de 200 pessoas no rompimento de uma barragem de mineração – e descobrir o que é uma barragem, o que são os rejeitos etc.? Ou ouvir partes de uma história, um tanto sem sentido, sobre algo que estourou em um lugar chamado Brumadinho? A experiência com o Joca nos mostra que as crianças preferem ter a oportunidade de entender o que aconteceu.

Para um pai que está em casa e em dúvida: como ele filtra o que conta para seu filho?

Um bom recorte é levar em consideração as notícias que mais impactam a sociedade de forma geral e que também têm relevância para o dia a dia da criança e do adolescente. Saber sobre determinado fato vai ajudar seu filho a se formar como cidadão, a criar um pensamento crítico perante os acontecimentos? A notícia pode servir de inspiração para as atitudes que ele terá no dia a dia – tanto a partir de exemplos positivos como de exemplo negativos?

Também é interessante dar espaço para ouvir a criança. Sobre o que ela tem curiosidade? Que assuntos seu filho leva para você, pai ou mãe? Que perguntas faz? As notícias podem entrar nessas conversas do dia a dia. Se a criança estiver apoiada por uma publicação especializada, o bate-papo e a conquista de repertório sobre a sociedade serão mais ricos.

Qual a importância de formar leitor?

Um cidadão que não se informa sobre a sociedade em que vive – seja como leitor, ouvinte ou telespectador de notícias –, se torna menos inserido nas decisões e atitudes pelo país e mundo melhor que tanto queremos. Além disso, informação é poder. Quanto mais se lê, mais estamos preparados para lidar com todo tipo de desafio do dia a dia – na infância e na vida adulta. O ganho de repertório a partir da leitura é inegável. Mas não se pode esperar por um milagre: a formação do leitor precisa contar com a participação e incentivo dos pais. É nossa responsabilidade, como adultos, perante as crianças de nosso convívio.


@jornaljoca

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