Em um dado momento, Mariana Amaral entendeu que precisava fazer algo para que seus quatro filhos e futuros netos tivessem um mundo mais justo, limpo, correto e uma sociedade mais equilibrada. A partir dessa decisão, a publicitária – que se diz formada mesmo pela vida – tornou o novo desafio em um propósito (e vice-versa), traba-lhando para engajar outras pessoas nesse movimento que, segundo ela, não tem começo, meio e fim.
Há 13 anos, numa parceria com o jornalista André Palhano, Mariana criou a Virada Sustentável em São Paulo, um evento anual que reúne artistas, pessoas, ONGs, instituições públicas e privadas, em diversas regiões, escolas e parques, numa corrente pela sustentabilidade.
Já foram mais de 40 edições em dez municípios. A novidade de 2023 é a Virada Amazônia, prevista para o mês de novembro em Manaus e em Belém, duas joias do Norte. Há cinco anos, Mariana também promove a Virada Zen, focada em atividades de bem-estar, autoconhecimento e saúde mental.
Realizado em paralelo com a Virada Sustentável, esse projeto (que está em reformulação e deve incluir novos temas em 2024, como ciência e educação) surgiu de outro insight. Dessa vez, quando ela se deu conta de que a sustentabilidade é feita por pessoas que precisam estar saudáveis mental e fisicamente para que o ciclo se complete.
Que a conversa a seguir sirva de inspiração para que você também confie na sua intuição e na boa ação de todos ao redor.
Mais que um evento, você criou um movimento. Como isso aconteceu?
Éramos jovens sonhadores. Eu, sócia numa agência de comunicação, e André Palhano, jornalista que escrevia sobre sustentabilidade, criamos a Virada Sustentável, hoje o maior festival de sustentabilidade da América Latina. Era para ser um evento pequeno, mas, quando vimos, já tinha mais de 500 atividades gratuitas pela cidade.
O que motivou vocês?
Foi a vontade imensa de fazer um mundo melhor, dar luz a projetos do bem e mostrar a sustentabilidade de forma alegre, lúdica e divertida. O que parecia um sonho ou uma utopia virou uma realização cada vez mais necessária.
Esse é seu propósito?
O propósito é assumir quem somos e lutar pelo que acreditamos. Depois de uma vida, descobri o que é estar conectada ao que me move.
Como foi essa conexão?
Demorou, não foi fácil, mas chegou e hoje acho fundamental para a saúde e felicidade. Quando a Virada Sustentável nasceu, eu não imaginava no que se tornaria; só via acontecendo. Por um ano trabalhei duro, sem remuneração, e acordava feliz. Com o tempo o projeto virou, tendo cada vez mais patrocinadores e parceiros entusiasmados com nossas ideias. Com a Virada Zen, veio a confirmação do propósito. Foi um sonho ver tanta gente meditando e conhecendo caminhos para uma vida mais plena.
Como você define esse movimento?
É uma resposta da sociedade tentando unir forças para cuidar do planeta e do nosso bem-estar como indivíduos. Não é mais possível viver sem participar ativamente do mundo que queremos para nós e gerações futuras. Apesar de propostas diferentes, as duas Viradas convergem para a tentativa de agirmos em prol do coletivo.
Quais são as propostas?
A Virada Sustentável é a união de projetos, causas e artistas num grande movimento que usa a arte como ferramenta para falar da sustentabilidade. São shows, ocupação do espaço público, atividades para crianças, palestras, rodas de conversas, sempre com foco nos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU. Depois chegou a Virada Zen no mesmo formato, porém, ligada ao bem-estar, qualidade de vida e saúde mental.
Quem faz elas acontecerem?
É como se fosse um piquenique onde cada um leva uma coisa e, quando vê, virou uma grande festa. Nós fazemos o mesmo, só que na cidade, com a participação de artistas, poder público, ONGs, patrocinadores, parceiros e público final. Diversos agentes interessados na sustentabilidade do planeta e também do ser. Um movimento que só existe graças à ação de todos como um grande organismo que, quando está saudável, é capaz de transformar a sociedade e evoluir para a direção que precisamos.
A Virada é um movimento que só existe graças à ação de todos como um grande organismo que, quando está saudável, é capaz de transformar a sociedade e evoluir
A coletividade já se manifestava desde o começo?
Desde o início, senti a força do coletivo. Tem muita gente fazendo coisas interessantes pela cidade, mas nem sempre enxergamos. Nas Viradas é onde as causas se encontram e se fortalecem. Onde nascem projetos, surgem ideias, e é esse o nosso papel: dar luz a quem planta o bem e compartilha. A Virada conseguiu mostrar que é possível sermos agentes de transformação e não dependermos só da política e do poder público.
Quais os principais desafios?
A cada edição chegam muitos deles, porém é interessante como a gente acha que não vai conseguir entregar tudo o que a Virada demanda, mas acaba dando certo. Isso nos deu confiança de que estamos a serviço de algo maior e por isso somos ajudados. Por exemplo, a Virada Zen é fruto de uma promessa que fiz para obter fundos para a Virada Sustentável num momento crucial. O investimento chegou e assim dei esse presente para a cidade: um projeto de autoconhecimento, bem-estar e desenvolvimento pessoal. Precisamos ainda convencer a iniciativa privada de que todos nós temos responsabilidade na solução do problema.
Você vê o impacto das viradas ao longo dos anos?
Sem dúvida. Felizmente, são inúmeros os relatos de mudanças para melhor na vida das pessoas, comunidades, empresas. Acredito que, quando lidamos com a verdade e a boa intenção, não é difícil colher resultados positivos. Talvez por isso, muitos patrocinadores, corporações e participantes em geral querem sempre voltar.
A proposta desse ano é olhar para 2030. O que quer dizer?
Buscamos um olhar de esperança em relação ao porvir, propondo um chamado para a ação. Neste ano, inspirada pela Agenda 2030 das Nações Unidas, a Virada convidou 50 instituições parceiras para elaborarem manchetes de sonhos com expectativas de um futuro sustentável. Para dar visibilidade a elas, cada uma virou peça de design com a assinatura da organização. Projetadas pela cidade, incentivam a população a sonhar e construir boas notícias para 2030.
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Esse conteúdo foi originalmente publicado na edição 260 de Vida Simples
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