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Quando mudar os móveis de lugar reflete nossas transformações internas
(Foto: Freepik) Mudar os móveis de lugar pode te trazer benefícios para a saúde mental
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Têm dias que paramos, olhamos ao redor e, como um estalo na mente, o seguinte pensamento toma conta da cabeça: “Preciso mudar os móveis de lugar”. Esse desejo não tão repentino assim tem explicação e, inclusive, pode nos auxiliar no bem-estar e na saúde mental.

A neurociência mostra que o cérebro responde ao ambiente externo como um reflexo do interno. Um espaço caótico e desorganizado pode intensificar a ansiedade e o estresse, fazendo com que o corpo e a mente vivam quase que em um modo de sobrevivência. Por outro lado, um ambiente harmonioso ajuda a regular as emoções, trazendo mais segurança, relaxamento e confiança. Já a psicanálise nos sugere que simbolizamos nossa vida emocional também, mas não somente, por meio de objetos e espaços.

As duas áreas, em conjunto, explicam que a ideia de trocar móveis de lugar ou renovar a decoração de um ambiente pode surgir a partir de emoções que estão à flor da pele por causa de mudanças na própria vida. Algumas vezes, até de forma inconsciente.

Mestre em psicanálise, doutora em psicologia e PhD em neurociências, a neuropsicóloga Leninha Wagner afirma que o ambiente em que vivemos funciona como “um espelho” do nosso estado emocional. “Vamos pegar como exemplo o término de um relacionamento. Rearranjar o quarto ou reorganizar a sala pode simbolizar uma nova fase, um recomeço. Essas mudanças ajudam a desapegar do passado e a criar um novo significado para esses espaços.”

Esse desejo de variação no ambiente não se manifesta somente nas relações amorosas, mas também em questões referentes ao trabalho. Sair de um emprego presencial para um com modelo home office geralmente traz a necessidade de mudanças funcionais na casa: melhorar a iluminação, diminuir ruídos e aumentar espaço. No entanto, também pode simbolizar o fim de um ciclo para que outro se inicie.

“Durante fases de crescimento pessoal, é comum que nossos desejos mudem. Sentir vontade de alterar algo ao nosso redor, como trocar móveis, pintar as paredes ou reorganizar um cômodo, ocorre porque nosso cérebro busca alinhar o ambiente externo ao nosso novo estado interno. Da mesma forma, períodos de estagnação podem refletir em um espaço que permanece intacto, quase como se estivesse congelado no tempo”, explica Leninha.

Levantar as mangas e mudar os móveis de lugar traz benefícios

Trocar os móveis ou então investir na renovação da decoração traz diversos benefícios para o bem-estar e a saúde mental. Entre eles, estão a sensação de renovação, aumento de energia e aquela motivação extra para levantar da cama. Segundo a neuropsicóloga, essas mudanças nos deixam mais leves, mais organizados mentalmente e até mais produtivos.

“Há também um efeito terapêutico. O ato de mexer na casa pode trazer um senso de controle, autonomia e independência, especialmente em momentos em que a vida parece incerta”, diz.

Essas alterações no ambiente são sempre bem-vindas, inclusive quando não há um estímulo interno, como mudanças no trabalho ou em relacionamentos. “Ambientes imutáveis podem reforçar padrões emocionais rígidos e uma grande rigidez cognitiva, sem espaço para alternativas. Se a pessoa está em uma fase de estagnação e seu ambiente nunca muda, isso pode intensificar a sensação de estar presa e sobrecarregada, além de contribuir para a estagnação do próprio cérebro.”

Nesse momento, o contrário também funciona. A mudança vem de fora para dentro e encoraja uma renovação. As transformações externas nos levam para evoluções internas.

Além disso, essas ações movimentam o corpo. Afinal, mudar os móveis de lugar dá trabalho e não é feito num passe de mágica. É um combo: exercita a mente e o cérebro ao refletir e pensar na reorganização e coloca o corpo para funcionar arrastando móveis pra lá e pra cá.

Com calma: um passo de cada vez

Uma dica no momento de mudar o ambiente é tentar não abraçar o mundo de uma vez só. Começar com pequenos passos é uma forma interessante de realizar essas mudanças. Escolher um cantinho da casa para modificar, remover objetos que já não fazem sentido e trazer novos elementos refletem o momento vivido. 

“Pequenas mudanças já fazem a diferença: abrir mais espaço de circulação; trocar a posição de móveis que pareçam emocionalmente pesados; trazer elementos naturais, como plantas que trazem vida; e renovar cores ou texturas”, indica a neuropsicóloga.

Se for uma fase de crescimento, inserir mais luz e cores vibrantes pode trazer energia e estímulo. Já em momentos de introspecção, criar um espaço acolhedor, com tons suaves e elementos confortáveis, favorece a reflexão e o bem-estar. O importante é que o ambiente funcione como um suporte para essa transição e atue como uma ponte entre o passado e o futuro.

Um refúgio emocional

Nossa casa é um espaço que influencia no nosso humor e energia. Ao organizar os móveis, vale sempre a reflexão: “Esse ambiente me acolhe, me representa, me energiza, me inspira?”. Pequenos ajustes podem transformar a casa em um verdadeiro refúgio emocional alinhado com quem somos e com o que queremos nos tornar.

“Ter essa comunicação com o ambiente é muito importante. De fora para dentro. De dentro para fora. Afinar esse instrumento chamado alma. Nós somos regidos pelo inconsciente, por símbolos e signos, e isso faz total diferença na nossa organização mental”, ressalta Leninha.

Depois de tanta mudança, é normal aquela sutil confusão de buscar quase que num piloto automático um copo onde não existe mais o armário, e sim uma geladeira. Ou então levantar para pegar um livro no lugar que agora está a TV. No entanto, com o tempo tudo se ajeita. Assim como na vida.

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