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Carta aos adultos, de um jovem sonhador
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Tenho uma curiosidade. Vocês ainda sonham? Sonhos que vão além do ter ou algo que transcende o “meu sonho”? 

As vezes fico aqui quieto pensando que meus sonhos parecem ser grandes, talvez utópicos, cheios de movimentos, significados e esperançosos. Em alguns momentos quando conto às pessoas mais velhas, sonhar um mundo mais igual para todos, humano e menos complicado em suas relações; sinto-me deslocado, como se aquilo que eu aspirasse fosse algo fora de contexto, fora de cogitação ou inalcançável.

Tenho a impressão de que quando crescemos, em diversos momentos distorcemos a nossa visão sobre felicidade. Estudar para ter um emprego que pague bem ou possibilidades de crescer na carreira, ter uma casa grande, um carro potente, reconhecimento e “ser alguém”… não estou julgando esta forma de pensar, mas talvez não seja o que eu busco como felicidade. Por estes dias eu li que a felicidade está na realização dos sonhos mais simples, nas ações que beneficiam o coletivo e que são desprendidos de qualquer identidade que nos faça parecer que tivemos algum “sucesso”.

O tempo todo sinto a intenção dos adultos em proteger, antecipar a forma de como enxergam o mundo; mas muitas vezes os meus sentimentos não são validados, principalmente se aquilo que aspiro não atende o mundo de vocês ou aquilo que esperam dos jovens. Eu sei que dá medo, nós jovens, fazermos escolhas erradas e arrepender-nos, mas me pergunto: só há uma possibilidade como “correta”?

Eu sonho por um mundo melhor e mais justo, porém em doses diárias escuto que o mundo não tem jeito ou solução. Se não acreditam neste mundo em que vivemos, o que devo esperar? Compreendo que a realidade está dificil e vocês estão machucados, mas será que pensar desta forma, não é desistir de nós mesmos?

Se puderem, olhem em meus olhos, ouçam as minhas histórias. Não são como a de vocês, não passei pelas mesmas dificuldades, tenho consciência de que talvez tenho mais privilégios, mas quem disse que estou isento de sentir-me triste, com raiva ou medo? Assim como vocês, todos os dias busco ser feliz e aliviar o meu sofrimento. Se o que eu lhes contar, julgarem não ser uma grande dor, tudo bem, por favor apenas acolham.

Sou incentivado a buscar soluções, rápidas e eficientes, ter a resposta na ponta da língua e escuto que o mundo não é para gente não saber correr atrás do tempo. Se o segredo do sucesso é correr atrás do tempo e resolver a própria vida, me pergunto: porque a natureza não seguiu por este caminho? Nenhuma flor cresce instantaneamente e no tempo que a gente quer. Tem o seu próprio tempo de amadurecimento. Exige atenção, cuidado com o solo, paciência e observação.  Talvez um pouco contraditório a pressa e o imediatismo que vivemos em “ter as coisas ou conquistar posições”.  E se sonhássemos nosso futuro desprendido destes padrões que tem nos deixado doentes?

As vezes escuto: “os jovens de hoje não aguentam frustração e tem tudo na mão. Precisam ser mais  fortes e humildes”. “Seja melhor que os outros para se destacar, se não pode ficar no final da fila, não ter dinheiro para realizar os seus sonhos e depender de um sistema fracassado.” É como se houvesse uma equação que ser melhor que os outros, ser elogiado, dedicar-nos ao que a sociedade valoriza ou padroniza, seremos pessoas de bem, com sucesso e bem educados. E nessa de ser melhor, tenho vergonha de fracassar e infelizmente invento narrativas para tentar garantir uma “boa imagem”. Tenho me tornado cada vez mais eficaz em justificar aquilo que eu “não atendo”. Em alguns momentos até desqualificando o outro. Eu queria ser apenas humano, apreciar as pequenas conquistas que beneficiam a mim e outros seres; e ter compaixão ou discernimento quando minha mente estiver estreita e pude prejudicar alguém.

No conceito de que não dá para confiar em mais ninguém, tenho dificuldades de gerar conexão, entregar-me nas relações, aceitar os ciclos e cultivar compaixão. Se não posso confiar, porque o mundo está cada vez mais perigoso, então devo me isolar? E será por isso que tantos jovens como eu, somos assediados a viver em um universo paralelo das mídias sociais, vestindo-nos de filtros, adequando-nos completamente aos modismos e anulando as nossas próprias carateristicas?

Sou curioso e questionador. Não sei se é por que sinto que a minha alma é livre e ainda vejo que eu sou o mundo e, não o mundo lá e eu aqui.  Desejo explorar, mudar, experimentar formas de viver e transformar. De nenhuma forma quero contrariar ou faço porque sou imaturo demais, mas sim porque ainda sonho, acredito e aspiro um mundo mais acessível. Sonho as pessoas mais disponíveis e dedicadas uns aos outros.

As vezes páro para observá-los e vejo que no mundo adulto não é comum desaprender. É como se isso nos deixasse menores ou vulneráveis demais. Não gostamos de nos sentir vulneráveis, ainda mais hoje em dia em que há uma competitividade sobre quem é mais forte, resiliente, faz mais coisas ao mesmo tempo ou quem não se permite pausar em prol de uma ideia de produtividade máxima. Particularmente acho uma bobeira e um ato de nos flagelarmos. No fundo, todo mundo quer ser humano e não sustentar uma imagem que exige muito esforço e desconexão em relação ao que sentimos. E será que se não nos fixássemos naquilo que sabemos, nossas possibilidades aumentariam? Ou seríamos mais maleáveis? Escutaríamos mais?

Por diversos momentos refleti sobre quem tem nas mãos o futuro e senti-me incomodado quando ouvi “o futuro está nas mãos destes jovens”. Se cada ação nossa gera consequências positivas ou negativas em nossa sociedade e somos todos interdependentes, o futuro está nas mãos de todos nós. Cada um de nós tem responsabilidades por palavras pronunciadas, em cuidar dos ambientes as quais estamos inseridos e principalmente apropriar-se de que juntos podemos ser agentes de mudança, sem esperar que uma nova geração faça algo extraordinário. Não esperem isso de nós. Vamos fazer juntos! Vamos unir nossas qualidades, experiências, aspirações e sonhar um mundo melhor para todos nós. É possível! Eu acredito! E se você parar um segundo, ficar em silêncio, perceberá seu coração pulsando e lá no fundinho de cada respiração entenderá de que é possível. Não sozinhos, isolados e pensando nos nossos “meus” ou “eus”. Só será possível se pensarmos em “nós”.

Recebam cada palavra, questionamento e abertura de apenas um jovem que sonha, acredita, pede ajuda e um voto de confiança. Não sou o futuro! Eu sou o hoje com vocês ao meu lado!


Escrito por Pri Almeida

Para escrever este texto contei com a generosidade e coragem de alguns jovens que me ofereceram os seus olhares sobre o mundo e provocaram a seguinte reflexão: o que eu estou oferecendo ao mundo e às novas gerações?

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