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    Pets e longevidade: os benefícios de ter um animal de estimação
    Eric Ward Halfpoint
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    Gatos e cães têm uma relação extraordinária com os seres humanos ao redor do globo. Ao longo dos séculos, os pets se tornaram não apenas animais de estimação, mas verdadeiros membros da família para muitas pessoas. Essa conexão é evidente em sua capacidade de se comunicar, demonstrar afeto e até mesmo cooperar em várias atividades.

    É assim que se sente Nise Quintas, 64 anos, jornalista, esportista, mãe, avó e tutora de 6 animais (4 cachorros e 2 gatos): “Desde que me entendo por gente sou apaixonada por animais, principalmente cachorros. A vida inteira recolhi, acolhi e cuidei de animais abandonados. Sinto que a presença de animais de estimação afeta positivamente na minha qualidade de vida. A sensação de dever cumprido e de amor doado é gratificante”.

    Através de seus comportamentos, os pets conseguem expressar uma ampla gama de sentimentos. Essa forma de comunicação pode ser facilmente compreendida pelos humanos que estão familiarizados com seus animais de estimação, criando um vínculo de entendimento mútuo.

    Nise Santos e um de seus pets. Foto: Arquivo pessoal

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    A conexão é tanta que a presença de animais é valorizada em alguns tratamentos com pessoas idosas, como em atividades assistidas (AAA) e as terapias assistidas por animais (TAA). Realizadas principalmente com cães, essas intervenções também apresentam resultados reveladores.

    É o que comenta a psicóloga Carolina Jardim, mestranda em Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo: “Os efeitos podem ser vistos tanto no âmbito emocional, gerando diminuição de ansiedade e medos, como no âmbito físico, com o aumento de atividades físicas e diminuição de medicações, por exemplo”, diz a psicóloga.

    Outro benefício, ainda, é a liberação da oxitocina – hormônio ligado diretamente à sensação de bem-estar – no organismo. “E o mais interessante é que essa liberação acontece tanto no humano como no pet”, complementa a psicóloga, que atua na área de comportamento animal e é fundadora da empresa Turma do Focinho.

    Além das positivas consequências emocionais e físicas, as interações com animais de companhia também têm mostrado benefícios cognitivos para pessoas idosas. Estudos mostram que a presença de animais pode estimular a memória, a atenção e a capacidade de concentração de indivíduos dessa faixa etária, contribuindo para o aprimoramento de suas habilidades cognitivas.

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    A aposentada Tania Menna Barreto, de 72 anos, não pensa diferente. Ela relata que a presença de animais de estimação em sua casa afeta positivamente no seu equilíbrio emocional: “Sinto que se eu não estiver com animais é como se eu estivesse metade pessoa”.

    A aposentada Tânia Menna Barreto, tutora de dois gatos, defende a importância dos animais no equilíbrio emocional. Foto: Arquivo pessoal

    Tutora de dois gatinhos, Chiquinha e Mingau, Tânia ainda contou um comovente evento: “Na primeira noite que eu me mudei de casa em razão do divórcio, não levei meus gatos comigo, e foi como se tivesse um buraco vazio em meu peito; um grande buraco negro. Logo no dia seguinte, quando eles chegaram ali, pareceu que encheu aquele lugar de luz”.

    Chiquinha, à esquerda, e Mingau, à direita. Foto: Arquivo pessoal

    De acordo com Carolina, médicos de diferentes especialidades têm indicado a aquisição de um pet como parte do tratamento para questões físicas ou psicológicas. “Avalio um lado muito positivo nessas indicações, porque, de fato, se essa conexão se estabelecer de forma positiva e se o pet for escolhido de forma criteriosa, os resultados podem ser excelentes para ambos os lados”, completa.

    Vale ressaltar esse cuidado com a escolha do pet: cada espécie possui necessidades específicas e, por isso, irá desempenhar um papel diferente na relação com o idoso. Além disso, há características particulares a cada raça e indivíduo, que apresenta personalidade única.

    Um descuido nessa escolha pode implicar em resultados negativos. É perigoso, por exemplo, caso o animal escolhido seja agressivo ou reativo – em vez de contribuir com a saúde do tutor, irá prejudicá-la. “O idoso acaba enfrentando um problema ainda maior por não conseguir lidar com os desafios que aquele animal traz para sua rotina”, diz Carolina.

    História de vida do cão e características do tutor influenciam grau de agressividade

    Um estudo feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) com 665 cães de estimação de diferentes raças, inclusive aqueles sem raça definida, aponta que a história de vida do cão e características do tutor influenciam no comportamento animal.

    Publicada na revista Applied Animal Behaviour Science, a pesquisa relaciona fatores morfológicos, ambientais e sociais com perfis de agressividade dos cães de estimação. O cruzamento de dados mostrou que não apenas condições como peso, altura e tamanho do focinho estão associadas a maior ou menor incidência de agressividade, como também questões relacionadas às histórias de vida dos animais e às características do tutor.

    Os resultados revelaram ainda que os cães com histórias de vida mais desfavoráveis, como experiências de abuso, negligência ou falta de socialização adequada, apresentavam maior propensão à agressividade. Esse estudo ressalta a importância de entender a influência mútua entre o ambiente em que os cães crescem, suas experiências de vida e as habilidades e práticas dos tutores.

    Ademais, os resultados dessa pesquisa reforçam a importância de campanhas de conscientização sobre a adoção responsável e a importância de fornecer um ambiente seguro e adequado para os animais de estimação. “Os animais são seres diferentes dos humanos, mas eles sentem, pensam e se comunicam. Eles sentem absolutamente tudo que sentimos”, defende Tania.

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    Independente da raça, os animais de estimação podem contribuir para a geração de valores, responsabilidade e empatia. Para Nise, por exemplo, os pets desempenharam um papel importante no desenvolvimento de suas filhas: “Desde pequenas, elas presenciaram a minha solidariedade e amor aos animais. Essa minha postura e a convivência com tantos animais resgatados e cuidados por nós trouxe a elas um sentido mais amplo de valores, como ternura, doação, acolhimento, responsabilidade, carinho e amor”.

    Mãe de três, ela entende que todo esse contexto familiar influenciou a escolha de carreira de uma delas, a veterinária. “Vejo que os meus netos seguem na mesma direção. São apaixonados por animais. Também cuidam, adoram, querem resgatar, acolher. É muito lindo constatar isso”.

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    SOFIA MISSIATO BARBUIO é jornalista e tradutora freelancer com experiência em produção de conteúdo relacionado à saúde, com destaque para o mercado da cannabis medicinal. Como repórter, ela colaborou com a revista mexicana La Silaba, onde escreveu sobre literatura. Além disso, é responsável pela produção de legendas para a produtora ETC Filmes. Você pode encontrá-la no Linkedin e Instagram.

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