Exercícios de escrita terapêutica para desenvolver a autocompaixão
Por meio do autoconhecimento, a escrita terapêutica promove um reencontro consigo mesmo, com suas dores, medos e sentimentos.
A escrita terapêutica é um dos caminhos possíveis para marcar um café com seus sentimentos e escrever, para si mesmo, com o objetivo de buscar autoconhecimento. Por isso, refletir sobre questões pessoais, familiares ou amorosas por meio das palavras nos ajuda a processar melhor e, quem sabe, vislumbrar horizontes resolutivos para questões que até então pareciam impossíveis.
Embora o estilo não seja novo, revisitar a escrita com seu potencial terapêutico é expandir os diferentes trajetos disponíveis para resolver aquilo que nos incomoda. É dessa forma que, na adolescência, os diários acompanham as aflições, medos, anseios e conquistas dos jovens. A turbulência desse período exige uma válvula de escape que dê vazão a tudo isso. Mas, mesmo que a vida adulta possa parecer emocionalmente mais estável, lidar com situações espinhosas ou sentimentais é quase uma regra. Por isso, colocar nossas impressões no papel pode ser um ótimo remédio.
“Como é que faz para a pessoa escrever?”
Ana Holanda é escritora, jornalista e professora de escrita afetuosa. Há anos compartilha seus conhecimentos com empresas, pessoas e interessados na escrita por meio de seus cursos, que já foram ministrados em diversas cidades do país (hoje, alguns ocorrem de forma online). Para a especialista, está claro que a escrita é terapêutica. Mas como partir dessa consciência e praticá-la em sua totalidade?
“A maior dificuldade é essa, da pessoa chegar lá e escrever, conversar sobre suas dores e sentimentos”, explica. Ana é autora, entre outros livros, de Como se encontrar na escrita: O caminho para despertar a escrita afetuosa em você* (Bicicleta Amarela).
Uma de suas percepções ao longo das aulas em que ministrou no passado é a presença de um público específico. Pessoas comuns que tentam lidar com as dores a partir da escrita, mas que gostariam de se aprofundar no tema. “Como eu vou escrever sobre algo que tenho dificuldade até de falar? Uma coisa que percebi é que você precisa lidar com isso com gentileza”, sugere Ana Holanda, que é colunista da Vida Simples. Ela destaca que nem sempre é preciso escrever objetivamente, mas trazer poesia e sentido ao texto a partir de elementos que se relacionem com o que te trouxe à escrita.
Ana brinca que, ao falar sobre a mãe, comece a observar elementos do cotidiano que a lembram. Pode ser a forma com que você corta o pão e que se assemelha à dela. Ou a cor de sua blusa. “Você vai começando pela história e assim acessa o sentimento ou aquela dor”, destaca.
A escrita terapêutica “não é só sobre escrever por escrever”
Ana destaca que é preciso ter um direcionamento da escrita para que ela seja terapêutica. “Essa forma de trabalhar a escrita afetuosa é um mergulho de se reencontrar e buscar quem você é a partir de onde veio, da sua raiz, da história de vida até chegar ali”, sintetiza.
Por isso, sugere alguns caminhos que podem ser úteis na hora de colocar ideias no papel:
- Escrever sobre o lado humano das questões; aquilo que te afeta subjetivamente;
- Uma das técnicas é trabalhar com uma única palavra, como medo, raiva ou felicidade;
- É importante estabelecer metas na escrita. Defina um período do dia, ou da semana, em que você se dedicará somente a isso. Colocar na agenda torna a escrita um compromisso consigo mesmo.
Para a escritora, um dos exercícios que aplica em aula é desfazer a palavra. “Você transforma um sentimento em cenas, em algo que represente aquele sentimento.”
Ao escolher a palavra “amor”, ela não quer uma descrição do sentimento, mas sim uma representação dele no texto. “Quando você escreve, a gente se esvazia daquilo um pouco. Acontece, de fato, um esvaziamento”, finaliza.
Ao escrever, “sinto que consigo ser mais dona de mim mesma”
Marcela Varasquim é colunista da Vida Simples e uma entusiasta de bullet journal para colocar no papel aquilo que sente. Embora a adolescência seja o período em que os diários sãos mais comuns, foi há três anos que a jornalista se encontrou com essa ferramenta de organização e, mais recentemente, com a escrita terapêutica.
“Assim, quando sentir que algo deve ser anotado, anote. Quando tiver algum insight de algo que pode melhorar sua vida, anote”, sugere.
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Ela, que foi diagnosticada com um câncer em dezembro de 2021, encontrou na escrita uma forma de lidar com a doença. “Durante meu tratamento eu troquei cartas com amigos e isso foi essencial para me sentir amada, mas também para demonstrar amor.” A ideia, um pouco inusitada, tem um propósito.
“Escrever uma carta e enviar pelo correio dá mais trabalho do que enviar um WhatsApp, e por isso mesmo é mais marcante, afetuoso. É um ato de amor.”
O primeiro bullet journal começou em 2020 com anotações sobre orçamento, pagamento de boletos, frases soltas e compromissos anotados. “O segundo tem mais textos, e um panorama mais amplo do que é a minha vida. O terceiro já está lindo, organizado e com mais ideias”. Para ela, escrever ideias no papel é uma forma de entender melhor sobre si e sobre o mundo. “Vive melhor quem sabe de onde veio, sabe onde está e sabe para onde quer ir. ”
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