Cuidadora de histórias
Ela percebeu muito cedo que pacientes são pessoas e que os prontuários e os informativos são suas histórias de vida. Quando estudava para o mestrado, a enfermeira Jacqueline Abrantes, de Natal (RN), realizou uma pesquisa com mulheres em situação de risco, na tentativa de compreender melhor os desafios que enfrentavam.
Ela percebeu muito cedo que pacientes são pessoas e que os prontuários e os informativos são suas histórias de vida. Quando estudava para o mestrado, a enfermeira Jacqueline Abrantes, de Natal (RN), realizou uma pesquisa com mulheres em situação de risco, na tentativa de compreender melhor os desafios que enfrentavam. Nessa jornada, ela desenvolveu uma metodologia de diagnóstico e tratamento complementar das pessoas que atende diariamente no Sistema Único de Saúde, o SUS. “Quando elas falam sobre suas condições precárias de segurança, moradia, transporte e saúde, o que contam são histórias”, diz. E é por meio delas que se conhece melhor cada um. “Comecei a me encantar com o ser humano por trás das doenças.”
A ideia foi sistematizada há sete anos em um grupo para contação de histórias, a Tenda do Conto, projeto que vem sendo replicado em outras unidades do SUS pelo País. Jacqueline já computa 128 tendas ao longo dos anos, em unidades de saúde, universidades, feiras e congressos.
A estrutura é simples. Reunidos ao redor de uma mesa com objetos de memória afetiva que trazem de casa, os participantes abrem o coração. Retratos, cartas, livros de poemas, peças de roupa (já teve até um vestido de noiva). Uma pessoa por vez ocupa a única cadeira de balanço do lugar para revelar o que bem entender. “O grupo acaba se tornando uma rede de afeto e de solidariedade em uma época de relações tão velozes”, explica. “Na tenda, a única regra é escutar”, explica. “O objetivo principal é o encontro: afetar e ser afetado. A partir disso, tudo se desdobra.” Resultado: em vez de focar apenas nos sintomas e na doença, os pacientes se concentram nas próprias forças, ancoradas na memória, reavivada pela narrativa, pelos objetos íntimos e pela atenção dos ouvintes. “As narrativas nos permitem exercitar um modo de ver a vida pelos olhos do outro”, analisa a enfermeira. É empatia como tratamento, reconhecimento como remédio.
“Quando as pessoas falam sobre condições de moradia e saúde, o que contam são histórias”- Jacqueline Abrantes
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