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    Como a empatia pode ser capaz de transformar o mundo
    (Fotos: File404/Shutterstock | Ilustração: Dandara Hahn) A empatia é uma qualidade que podemos exercitar diariamente e que traz ganhos para as nossas relaçãoes e para o entorno
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    Patricia Moore é uma americana que, na década de 1980, revolucionou o design dos eletrodomésticos depois que passou quase três anos (de 1979 a 1982) vivendo na pele a rotina de uma senhora de 85 anos.

    Todos os dias, ela cumpria um demorado ritual: aplicava sobre o rosto camadas de látex para parecer enrugada, colocava óculos que lhe borravam a visão, tapava parcialmente os ouvidos para ter dificuldade de escutar.

    Vestia suspensórios e enrolava bandagens para se manter encurvada, prendia talas nos braços e pernas que dificultavam a flexibilidade e, ainda, calçava sapatos desiguais que a obrigava a andar de maneira trôpega.

    E assim ela seguia seu dia de maneira realizando tarefas que uma octogenária precisaria fazer no cotidiano. Ela cozinhava, utilizava uma eletrodomésticos, caminhava pelas ruas, tentava subir e descer escadas.

    Mas por que ela fez isso? A motivação de Patricia era entender o mundo pelo viés das pessoas mais velhas e descobrir os reais obstáculos pelos quais elas passavam diariamente.

    A partir dessa experiência, ela desenvolveu uma série de objetos e desenhou eletrodomésticos mais acessíveis para todos. Só para lembrar, nessa época, muitos dos acessórios de uma cozinha, como a geladeira, eram incrivelmente pesados. Patricia Moore é considerada a fundadora do design inclusivo ou universal.

    Conversando com o inimigo

    A inglesa Jo Berry tinha 27 anos quando o pai, um parlamentar conservador, foi morto por uma bomba do IRA numa conferência do partido ao qual ele fazia parte. Era 1984.

    Entre os responsáveis pelo atentado estava Pat Magee, que foi preso e libertado anos depois, em 1999. Jo quis se reunir com ele para uma conversa.

    “Quis me encontrar com Pat para pôr um rosto no inimigo e vê-lo como um ser humano real”, conta. Os dois se sentaram frente a frente dezenas de vezes.

    E tiveram diálogos penosos para ambos, mas que ajudou, cada um, a ter uma compreensão da perspectiva do outro sobre o atentado.

    O que a experiência trouxe para Jo? Ela fundou, junto com Pat, uma organização chamada Building Bridges for Peace (construindo pontes para a paz, em tradução livre).

    A organização incentiva a conversa entre inimigos declarados para que cada um passe a entender a ótica do outro e, assim, se aproximar da paz.

    Empatia é capaz de transformar o mundo

    “Compreendi que seja qual for o lado do conflito em que você esteja, se tivéssemos todos nós vivido as vidas uns dos outros, poderíamos ter feito o que o outro fez. Em outras palavras, se eu tivesse vindo de um meio republicano, poderia facilmente ter feito as mesmas escolhas que Pat fez”, acredita Jo Berry.

    O que Patricia Moore e Jo Berry têm em comum é que ambas conseguiram desenvolver verdadeiramente a empatia.

    Essas histórias fazem parte do ótimo livro O Poder da Empatia (Zahar), de Roman Krznaric, e que traz histórias, pesquisas e projetos em que o mote é entender a importância de perceber o mundo pelo viés do outro.

    O autor da obra, o filósofo e historiador australiano Roman Krznaric e dos criadores da The School of Life, mergulhou por mais de dez anos no tema da empatia. Para ele, esse valor pode transformar o mundo, a medida que melhoraria a compreensão mútua e a relação entre as pessoas.

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    Como praticar a empatia

    Quantas vezes dizemos “coloque-se no meu lugar” ou “coloque-se no lugar dele”? Como conseguimos sentir as emoções de outra pessoa ou mesmo pressentir suas intenções e compreender suas motivações?

    Um grupo de pesquisadores franceses se dedicou a responder essas perguntas. Esse estudo deu origem ao livro L’Émpathie (A Empatia, sem tradução para o português), uma obra coletiva que trata do tema sob diferentes aspectos – do fisiológico e psicológico ao neurológico, passando pelo filosófico e ético.

    De acordo com os especialistas envolvidos nesse estudo, sem a capacidade de adotar o ponto de vista do outro, o mundo seria habitado por psicopatas e autistas.

    Mesmo existindo também em alguns primatas e pássaros e nos golfinhos, é no homem que a empatia se desenvolve de forma mais elaborada.

    Troca de olhares é essencial

    Mais do que pela linguagem, é pelo olhar que a empatia se manifesta em nós. Graças aos avanços dos estudos das imagens do cérebro, sabe-se hoje que o contato do olhar ativa a amígdala (região do cérebro onde se processam algumas sensações) e todo o sistema de emoções.

    “A troca de olhar é a forma mais fundamental de compreensão e aceitação do outro”,

    nota Alain Berthoz, diretor do Laboratório de Fisiologia da Percepção e da Ação, do Collège de France.

    Segundo ele, na troca do olhar encontramos três componentes da empatia: o primeiro é eu te olho. O segundo, você me olha, mas eu devo compreender o que esse olhar, experimentado por nós e dirigido para mim, significa. E, por fim, o terceiro, que nasce da troca do olhar um elo que não pertence nem mais a mim nem a você, mas ocorre entre nós.

    “Isto é, de repente percebo esse elo que nos liga no mundo como se sobrevoasse a cena. Eu nos percebo juntos como um objeto no mundo”, diz ele, explicando que essa empatia é a qualidade que garante as relações em que há a liberdade para escolher pontos de vista próprios.

    Simpatia é outra coisa

    É preciso, antes de tudo, não confundir empatia com simpatia, assinala o francês Gérard Jorland, pesquisador do Centro Nacional de Pesquisas Sociais.

    Designa-se por empatia a capacidade de se colocar no lugar do outro para tentar compreender seus sentimentos sem necessariamente experimentar as mesmas emoções.

    A simpatia, ao contrário, consiste em experimentar as emoções do outro sem obrigatoriamente se colocar no lugar dele. A simpatia é um contágio de emoções, sendo o riso em cadeia um exemplo típico.

    Da mesma maneira que podemos chorar ao ver alguém chorar, porém sem saber o motivo. A empatia pode alimentar a simpatia, mas esta não é uma consequência necessária, acrescenta Élisabeth Pacherie, filósofa do Instituto francês Jean-Nicod.

    Compreender o sofrimento ou a alegria que ele sente, se colocando no lugar do outro, não implica o desejo de ajudá-lo. “O objeto da empatia é a compreensão, e o objeto da simpatia é o bem-estar do outro. (…) Em resumo, a empatia é um modo de conhecimento e a simpatia um modo de encontro com o outro”, define o psicólogo americano Lauren Wispe.

    Dicas para praticar a empatia

    No entanto, o que os pesquisadores franceses ou mesmo o escritor Roman Krznaric perceberam é que quando temos um olhar mais empático passamos a conhecer melhor o outro, o mundo e também a nós mesmos.

    Em uma sociedade egocêntrica como a nossa, em que cada um se preocupa apenas consigo mesmo, desenvolver a empatia pode ser um caminho para um futuro de relações mais generosas e com mais afeto.

    Krznaric aponta algumas maneiras de como podemos fazer isso no nosso dia a dia. Um exercício poderoso é puxar conversa com um desconhecido.

    “Concentre-se não em trivialidades como o tempo ou os esportes, mas em temas importantes como as prioridades na vida, as ideias, esperanças e sonhos. Isso significa não excluir ninguém: todas as pessoas, não importa que aparência tenham ou de onde venham, podem ser um singular e cativante interlocutor, se você conseguir encontrar uma maneira gentil de ter acesso a sua alma”, escreve Krznaric.

    “Conversar com estranhos pode ser uma aventura em termos de aprendizado pessoal e compreensão, uma maneira de desafiar suas próprias ideias e descobrir novas. Em outras palavras, de compreender que a conversa pode ser boa para você”, completa.

    Para finalizar, Krznaric dá um último motivo para que eu e você comecemos a desenvolver a empatia já: “o hábito de empatizar pode criar laços humanos que fazem valer a pena viver. Nosso bem estar depende de sairmos dos nossos próprios egos e entrarmos na vida de outros. Os prazeres que isso proporciona são reais e profundos. Sem isso somos seres menores, e apenas parte do poderíamos ser.”

    *Com conteúdo da revista Bons Fluidos

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    Conteúdo publicado originalmente na Edição 169 da Vida Simples

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