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7 mitos sobre emoções que podem impactar sua saúde mental
Nguyen Dang Hoang Nhu
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Como profissional da área de saúde mental, fico feliz em acompanhar uma crescente abertura das pessoas, inclusive líderes de empresas, para ações relacionadas ao cuidado da mente e das emoções. Mas sei que ainda há espaço para evoluirmos nesse tema. Sempre que abordo o assunto, acho útil começar por alguns questionamentos. A seguir, vamos conhecer sete mitos bem comuns sobre emoções que impactam o bem-estar das pessoas.

Você conhece suas emoções?

Consegue entender o que as emoções informam sobre si mesmo ou sobre o contexto em que acontecem? Sob efeito de uma emoção, você costuma conseguir decidir como agir ou, geralmente, reage automaticamente? Você sabe quais são os principais fatores que aumentam nossa sensibilidade e vulnerabilidade emocional?

São questionamentos que você pode se fazer caso tenha interesse em aprofundar seu conhecimento sobre inteligência emocional. O tema das emoções é, desde sempre, de grande interesse para a humanidade. As artes, a filosofia e a psicologia contribuem de diferentes maneiras para ampliar nossa compreensão sobre nossa experiência emocional e seus efeitos sobre nós mesmos, aquilo que nos tornamos e o que fazemos.

Ainda que muito conhecimento tenha se acumulado, vivemos em um momento culturalmente delicado e paradoxal para pensar as emoções. Há uma demanda social e econômica enorme para que tenhamos respostas rápidas e roteiros prontos para os mais diversos assuntos e, quando isso se aplica aos temas relacionados à subjetividade humana, alguns riscos precisam ser pontuados.

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Conheça 7 mitos comuns sobre emoções

Muitos mitos sobre as emoções são propagados há tempos e eu gostaria de te convidar a ampliar o seu olhar sobre 7 muito comuns:

Mito #1 – Você é aquilo que sente

Verdade: Você é o conjunto das suas experiências subjetivas, sua história de vida, seus valores, seus comportamentos, seus papéis sociais, sua corporeidade. As emoções são um pedaço importante da subjetividade e das experiências sensoriais que teremos, mas não nos definem, nem nos resumem.

Mito #2 – Existe uma maneira certa de se sentir em cada situação

Verdade: Existe a sua maneira de se sentir em cada situação. O surgimento, a intensidade e a duração de uma emoção depende do contexto que ocorre, das características da pessoa que sente e de sua história de vida.

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Mito #3 – Emoções revelam nossas fraquezas

Verdade: Emoções revelam nossa humanidade. A experiência emocional pode nos deixar vulneráveis, e entrar em contato com a própria vulnerabilidade demanda coragem e possibilita maior intimidade consigo mesmo e com os outros.

Mito #4 – Estar emotivo significa estar fora de controle

Verdade: Estar emotivo significa estar aberto às emoções, certamente em função de algo legítimo e em alguma medida válido. A ideia de que uma pessoa precisa controlar, no sentido de inibir as próprias emoções, é ingênua e fadada ao fracasso em termos de saúde mental e qualidade das relações interpessoais.

Mito #5 – Emoções precisam ser superadas e controladas

Verdade: Emoções precisam de uma mente aberta para que sejam experimentadas de modo que funcionem como uma espécie de guia para compreensão do contexto, das necessidades de si e do outro. O que pode ser controlado é a ação e expressão da emoção, a depender da situação e da avaliação que se faz.

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Mito #6 – Emoções atrapalham a produtividade

Verdade: Há muitos fatores pesquisados como concorrentes da produtividade, como a sobrecarga de trabalho, privação de sono e de descansos reparadores, falta de repertório de organização, de comunicação e resolução de problemas, dentre outros. O fato é que as pessoas com esses problemas reais em relação à própria produtividade poderão sentir emoções difíceis, dadas as situações desafiadoras, mas essas são consequências, e não causas.

Mito #7 – Ser autêntico é ser emocionalmente intenso

Verdade: A autenticidade é caracterizada pela genuinidade e a fidelidade aos próprios valores e prioridades de vida, portanto tem mais relação com a consistência do que com a intensidade. Agir de modo emocionalmente intenso o tempo todo pode ser uma dificuldade relacionada à impulsividade, o que em excesso produz consequências difíceis para a pessoa.

Emoções são indispensáveis para a vida

A manifestação emocional é ora idealizada, ora atacada, e diante dessa perspectiva polarizada e rasa tiram-se conclusões deturpadas e recomendações frequentemente prejudiciais ao desenvolvimento humano. Mas é importante que você saiba que as nossas experiências emocionais são indispensáveis para a vida, porque contribuem para nossa sobrevivência e adaptação ao mundo físico e social.

Nesse sentido, as emoções são experiências fisiológicas e subjetivas que funcionam como uma espécie de “alarme” sobre o que nos acontece no contexto do qual fazemos parte. Emoções permitem que tenhamos informações valiosas sobre nossas necessidades e características de um ambiente, de modo que a partir de mudanças corporais específicas ficamos mais preparados para ação e tenhamos maior probabilidade de agir rapidamente.

Do ponto de vista do processo evolutivo dado pela seleção natural, as emoções permitiram que os indivíduos tivessem reações mais rápidas e consistentes diante das situações de perdas, ameaças, disputas, necessidades de vinculação social e cooperação. Por esses motivos, é importante que a gente não fuja das emoções, mas estejamos atentos ao reconhecimento de todas elas e, sobretudo, ao que elas nos comunicam, a partir de uma postura de abertura e um senso de curiosidade.

Reconhecimento e aceitação das emoções para mais bem-estar

Identificar estas emoções é fundamental para que possamos realizar as mudanças necessárias em direção ao que nos garante mais chances de efetividade na solução de problemas e na busca por uma vida valiosa, com propósito. Desse modo, diferentemente do que a cultura dominante transmite, o problema não é sentir medo, ansiedade, tristeza e raiva.

Quando identificamos e damos abertura para aceitar uma emoção que esteja acontecendo em um dado momento, temos a chance de compreender mais sobre nós mesmos e sobre os outros, colhendo informações que podem ser usadas de diferentes maneiras, por vezes agindo na direção da emoção, por vezes agindo apesar dela. Em outras palavras, para que as emoções contribuam para a nossa adaptabilidade social e bem-estar geral é necessário aprender a regulá-las.

Regular é diferente de controlar, e essa diferença tem diversas implicações práticas para a inteligência emocional e saúde mental. Por vezes, agimos entre extremos de automaticamente nos deixar levar pela emoção e nos sentimos excessivamente expostos e penalizados pela impulsividade. Por outro lado, há uma forte tendência de adotarmos estratégias generalizadas para inibição das emoções, de forma a não experimentar reações emocionais difíceis e desafiadoras, e acabamos nos afastando de muitos contextos de vida ou ficamos reféns de compulsões, adições e distrações.

Regulação emocional: como entender as emoções?

Desconhecemos estratégias intermediárias que, partem de conhecer intimamente nossas emoções e compreender possibilidades comportamentais de alterar sua duração, intensidade e efeitos sobre nós e sobre os outros. É fato que quanto mais desenvolvidas e diversas forem nossas habilidades práticas de regulação das emoções, mais competentes podemos nos tornar em relação ao autocuidado e às relações interpessoais, o que são importantes bases de sustentação da saúde mental das pessoas.

A regulação emocional é definida como a habilidade de manter, aumentar ou diminuir um ou mais componentes da resposta emocional, incluindo as sensações, comportamentos e respostas fisiológicas que constituem as emoções, a depender da avaliação sobre o contexto em que a experiência acontece.

É possível, por exemplo, conquistar a regulação emocional pelo seguinte passo a passo: estar em contato com uma emoção (mesmo que difícil ou desafiadora) e sustentar a atenção, desenvolvendo tolerância; inibir o comportamento tipicamente relacionado às emoções intensas, quando a avaliação pessoal sugerir que as consequências seriam inapropriadas; realizar diferentes ações coordenadas com a finalidade de conseguir um dado objetivo independente da emoção experimentada no momento; regular a ativação fisiológica presente na vivência emocional; e retomar o foco da atenção em alguma tarefa ou informação mesmo na presença das emoções intensas, dentre outras.

Tudo isso é importante porque, como costumamos dizer na The School of Life, “quem não sabe lidar com as próprias emoções perde um tempo precioso na vida e repete erros”.

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Natália Pinheiro Orti é professora e psicoterapeuta na The School of Life, psicóloga e mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem pela Unesp. Tem formação e experiência clínica com psicoterapias comportamentais contextuais. Atuou como professora e supervisora de estágio em cursos em instituições de ensino. É membro do Instituto de Análise do Comportamento – Bauru (IACB). Tem como ênfase de estudos e atuação os processos de autoconhecimento, inteligência emocional, flexibilidade psicológica, saúde mental materna, relações parentais e familiares no contexto contemporâneo.


Os textos de convidados não refletem, necessariamente, a opinião da Vida Simples

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