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    Cinco músicas do Gilberto Gil com reflexões para diferentes momentos da vida
    Foto: Marcelo Hallit/Divulgação
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    “Subo nesse palco, minha alma cheira a talco como bumbum de bebê. Minha aura clara só quem é clarividente pode ver.” O cantor Gilberto Gil, de 82 anos, sente pela última vez essa sensação descrita na música “Palco”, do álbum “Luar” (1981), com a retomada da sua turnê de despedida, intitulada de “Tempo Rei”. Ele fez um show em Salvador (BA), sua terra natal, no dia 15 de março. Agora, vai percorrer o Brasil. Ainda há ingressos disponíveis para algumas apresentações.

    Gilberto Gil marcou a música popular brasileira de diferentes maneiras. Ele foi um dos expoentes do movimento cultural Tropicália ao lado de Caetano Veloso, Tom Zé, Gal Costa, Os Mutantes e outros artistas. Gil também trouxe referências do reggae para o Brasil e popularizou o gênero musical com letras em português na levada única e marcante da Jamaica.

    Aliás, quem não sabe cantar a música “Sítio do Pica-Pau Amarelo”? Canção de abertura da série infantil de mesmo nome. Gil está entrelaçado à música brasileira como se fossem um só. Ele é a cara e alma do Brasil. Um artista que permeia o imaginário dos brasileiros de incontáveis formas.

    Sempre muito sensível, Gilberto Gil pode ser companheiro de fone de ouvido e reflexão em diversas situações do dia a dia. Afinal, nossas referências culturais estão ligadas à nossa percepção e compreensão de mundo. Por isso, aqui está uma seleção de cinco músicas do artista que podem ajudar a lidar com momentos delicados da nossa própria trajetória:

    “Tempo Rei”, do álbum “Raça Humana” (1984)

    “Não me iludo
    Tudo permanecerá do jeito que tem sido
    Transcorrendo, transformando
    Tempo e espaço navegando todos os sentidos
    […]
    Tempo rei, ó, tempo rei, ó, tempo rei
    Transformai as velhas formas do viver
    Ensinai-me, ó, pai, o que eu ainda não sei
    Mãe Senhora do Perpétuo, socorrei.”

    Nada melhor do que começar com a música que deu nome à turnê. Nela, Gilberto Gil reflete sobre algo que ele sempre fez questão de elaborar durante sua discografia: o tempo. Essa música e outras, como “Aqui e Agora”, do álbum “Refavela” (1977), fazem refletir sobre o transcorrer da vida e como buscamos entender as transformações que ocorrem, sejam elas pequenas ou grandes.

    É quase como se Gil quisesse nos dizer: “Calma. Para e respira”. Não precisamos entender tudo a todo instante, inclusive a passagem do tempo. No refrão, ele diz de uma forma muito bonita que o tempo é o seu guia de vida. Sabemos que mudanças pessoais e na sociedade acontecem a cada segundo e vão nos impactar. Vamos entender no momento em que elas ocorrem? Nem sempre. A música é uma oração ao tempo. Nos faz pensar em como lidar com o redemoinho de sentimentos que a passagem dele nos provoca.

    “Back In Bahia”, do disco “Expresso 2222” (1972)

    “Naquela ausência
    De calor, de cor, de sal, de sol, de coração pra sentir
    Tanta saudade
    Preservada num velho baú de prata dentro de mim
    […]
    Hoje eu me sinto
    Como se ter ido fosse necessário para voltar
    Tanto mais vivo
    De vida mais vivida, dividida pra lá e pra cá.”

    Gilberto Gil começou a compor essa música na casa de Dona Canô – mãe de Caetano Veloso e Maria Bethânia –, em Santo Amaro da Purificação (BA), assim que voltou da Inglaterra, onde se exilou por causa da ditadura militar (1964-1985) no Brasil. Para além da saudade da sua terra natal ao ser obrigado a deixá-la devido à perseguição política, Gil também explica na música o que fez com esse sentimento e o que trouxe de lição dessa falta.

    É interessante pensar em como depois de citar todas as sensações causadas pela ausência da sua própria terra em um país tão diferente do Brasil, ele ainda tirou algo de bom: ter voltado ainda mais vivo e combativo

    Claro, sem comparações com o que Gilberto Gil passou durante a repressão da ditadura militar. No entanto, também vivemos situações de saudade e distância que mudanças inesperadas trazem para nossas vidas. E é difícil lidar com uma alteração brusca na trajetória. Às vezes, ir é necessário para voltar. E voltar é um alívio.

    “Drão”, do álbum “Um Banda Um” (1982)

    “Drão, o amor da gente é como um grão
    Uma semente de ilusão
    Tem que morrer pra germinar
    Plantar em algum lugar
    Ressuscitar no chão nossa semeadura
    […]
    Quem poderá fazer aquele amor morrer
    Se o amor é como um grão
    Morre, nasce, trigo
    Vive, morre, pão.”

    Quem nunca sofreu com essa música após terminar um relacionamento que atire a primeira pedra. Fim de relações, sejam elas amorosas ou não, são sempre dolorosas. Passar por esse processo de luto requer muita resignação para entender tudo que aconteceu. “Por que acabou?”, “Quando, de fato, terminou?”, “O que eu poderia ter feito diferente?”. São questões que surgem uma hora ou outra.

    Gilberto Gil compôs essa música após o término do seu casamento com a ex-mulher Sandra Gadelha, carinhosamente apelidada de “Drão”. Apesar da dor e dos possíveis questionamentos sobre o fim de uma longa relação, Gil trata o rompimento como um recomeço. O amor e o respeito não acabam, se transformam e germinam em outras possibilidades de relação com a própria pessoa e com o mundo.

    É difícil entender no momento de luto, mas um término não é somente sobre o ato da separação ou o processo complexo de um divórcio. É também cultivo. Tem que morrer pra germinar. Talvez em amizade, talvez em uma distância necessária. Mas sempre com um significado para além do rompimento.

    “Viramundo”, do disco “Louvação” (1967)

    “Sou viramundo virado
    Nas rondas da maravilha
    Cortando a faca e facão
    Os desatinos da vida
    Gritando para assustar
    A coragem da inimiga
    Pulando pra não ser preso
    Pelas cadeias da intriga
    […]
    Ainda viro este mundo
    Em festa, trabalho e pão.”

    Tem dias que a vida é mais difícil do que o normal. Seja nas relações pessoais, no trabalho ou apenas dentro da nossa própria cabeça. Tem dias que dá vontade de desistir de tudo. Nessa música, Gilberto Gil traz uma ótima reflexão sobre não deixar as dificuldades engolirem sua existência.

    A canção passa essa sensação de força para enfrentar os problemas, esvaziar um pouco a cabeça e imaginar que o amanhã pode ser melhor. Força para virar o mundo em festa, trabalho e pão. Força para revolucionar. Encontrar os amigos, se dedicar mais no trabalho, se alimentar melhor. Viver a vida de forma compartilhada para enfrentar os desatinos dela.

    Essa é a única música da lista que Gilberto Gil trabalhou em parceria na composição, que foi feita com o poeta, músico e jornalista José Carlos Capinan.

    “Superhomem, a Canção”, do álbum “Realce” (1979)

    “Um dia
    Vivi a ilusão de que ser homem bastaria
    Que o mundo masculino tudo me daria
    Do que eu quisesse ter
    Que nada
    Minha porção mulher que até então se resguardara
    É a porção melhor que trago em mim agora
    É que me faz viver.”

    Em 1979, Gilberto Gil já trazia para reflexão um assunto bem discutido atualmente: a forma como os homens entendem a própria masculinidade. Aquele papo de que “homem não chora” já ficou para trás. Saber lidar com os próprios sentimentos e expressá-los é algo necessário para manter relações saudáveis na vida.

    A música não é somente sobre se permitir ser mais sensível enquanto homem. Além disso, não coloca a mulher apenas no local de sensibilidade. Ela mostra como pode ser transformador o homem refletir quando reproduz comportamentos que são impostos por um padrão de sociedade. A canção “Pai e Mãe”, do álbum “Refazenda” (1975), também traz uma discussão parecida. Gilberto Gil questiona padrões de raça, gênero e classe em toda a sua obra.

    Essa série de shows do Gil faz parte de um movimento de “últimas turnês” de grandes nomes da nossa história. Milton Nascimento realizou a sua “A Última Sessão de Música” em 2022. Nossas referências não estarão nos palcos para sempre, mas bem que poderiam.

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