Precisamos falar sobre sexo
Quando vivermos o sexo com prazer, consciência, respeito e naturalidade, a desigualdade entre gêneros será nitidamente reduzida, pois haverá respeito e não mais repressão
Quando vivermos o sexo com prazer, consciência, respeito e naturalidade, a desigualdade entre gêneros será nitidamente reduzida, pois haverá respeito e não mais repressão
Em pleno século XXI cerca de metade das mulheres brasileiras nunca tiveram um orgasmo – segundo estudos do Projeto de sexualidade da USP, o ProSex. Quando ouço mulheres falando sobre sua vida sexual nos eventos e workshops que realizo, percebo ainda muito constrangimento e insegurança ao falarem de um assunto que deveria ser natural, já que sexo é saúde e faz parte da vida de todo ser humano (ou pelo menos deveria fazer).
A maior queixa delas é a falta de libido. Todas relatam amar o parceiro e não entenderem porque não têm desejo sexual.
Esses quadros têm explicações históricas e sociais, claro. E a mesma história de séculos atrás e como a sociedade ainda vive e vê o sexo, não mudaram muito. O que é realmente muito preocupante em um momento no qual o movimento de reconexão com o feminino vem crescendo, e a igualdade entre gêneros tem sido uma discussão constante.
Há muitos milhares de anos somos reprimidas nessa cultura onde o sexo sempre foi apresentado como algo pecaminoso, proibido, errado ou até mesmo “sujo”. Estamos todos (homens e mulheres) vivendo e conhecendo o sexo de formas deturpadas desde as mais antigas gerações. Isso gerou uma deturpação na visão sobre o sexo que acaba por ser a origem de consequências psicológicas sempre muito nocivas aos indivíduos. Isso explica também porque tantos abusos e estupros ainda acontecem. Ninguém sabe a verdadeira função do sexo e não o tem como algo valioso, belo e natural.
Mas como nós, mulheres em pleno despertar, podemos colaborar nisso? Voltamos à velha “mãe” e que tudo transforma desde a raiz: a educação. Somente reformando a educação em sincronia com as necessidades verdadeiras das políticas públicas, o sexo poderá ser apresentado com o devido respeito à sua natureza (e às nossas necessidades) às novas e velhas gerações. Mas essa “educação” inclui (imprescindivelmente) o autoconhecimento.
As crianças precisam conhecer seus corpos, ciclos, de forma bela e natural, com respeito a si mesmas entendendo profundamente para que serve tudo isso. Os adolescentes precisam que falem de sexo na linguagem deles, sem tabus, de forma prática e direta para abrir a consciência de que bem-estar, saúde e respeito mútuo, estão diretamente ligados ao prazer. E o prazer de cada um é um e só será descoberto com autoconhecimento.
E nós devemos falar mais abertamente sobre o assunto. Precisamos de fóruns, eventos, programas de tv, rádio e internet, com uma nova perspectiva quebrando as barreiras do tabu e de toda imagem negativa que o contexto sexual equivocado impregnou em nós. Assim como precisamos hoje de influencers digitais que saibam fazer isso da maneira mais adequada e bonita possível.
Nós, mulheres, precisamos desaguar nossas mágoas, experiências e dificuldades sexuais em grupos de suporte emocional, com ajuda terapêutica, para darmos um novo significado e desenvolvimento à nossa vida sexual. Isso vai levantar nossa autoestima, amor próprio e noções de liberdade e respeito nas relações.
Sexo é saudável, traz bem-estar, alivia o estresse, abre a criatividade, revigora e é muito bom. A triste realidade é que a maior parte das mulheres não sabe disso ainda e nem sequer pode imaginar devido à cultura que nos cerca, às mais duras experiências sexuais que possam ter vivido, à falta de apoio e educação que precisamos trabalhar urgentemente para recebermos.
Quando vivermos o sexo com prazer, consciência, respeito e naturalidade, a desigualdade entre gêneros será nitidamente reduzida, pois haverá respeito e não mais repressão. Quando as mulheres tiverem prazer sexual de verdade, menos problemas de saúde precisarão tratar (especialmente de ordem ginecológica). E assim as relações serão mais valiosas e significativas.
Em outras palavras, já está mais do que na hora do sexo fazer parte dos temas em encontros do sagrado feminino, e das novas políticas públicas também. Sigamos juntas nesse caminhar.
Kareemi é criadora da Ginecologia Emocional, autora do livro Viva Com Leveza (Gente) e palestrante motivacional. Nesta coluna, quinzenalmente, trará reflexões sobre os comportamentos, emoções, corpo e alma femininos. Seu instagram é @ginecologiaemocional
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