Estresse, autocobrança e a saga da mulher moderna
A intensa demanda sobre as mulheres e uma profunda autocobrança tem prejudicado a saúde delas – e o útero responde às alterações emocionais. Para ter mais equilíbrio, é preciso encontrar um caminho de acolhimento e autocuidado
A vida “moderna” nos leva a acumular uma série de funções e responsabilidades que consequentemente aumentam muito nossa autocobrança, a ansiedade, e o estresse no dia-a-dia.
O tempo todo estamos correndo contra o tempo tentando dar conta de tudo com o máximo de eficiência para que a sensação de incompetência e fracasso – que o sistema nos faz sentir – passem bem longe da nossa realidade.
Os múltiplos papéis que assumimos nas últimas décadas fazem com que sejamos nossas maiores supervisoras e críticas. Passamos a nos cobrar em altos níveis dentro dessa avaliação e tentamos (mesmo que de forma inconsciente) provar a todos – e a nós mesmas – que somos capazes de dar conta de tudo.
Buscamos alta performance como profissionais, mães, gerindo nossas famílias, relações, finanças, etc. Mas o resultado que chega junto com isso tudo é uma grande frustração, um sentimento de impotência junto com o aumento gritante da nossa ansiedade e estresse, desencadeando problemas físicos e emocionais.
O número de mulheres que têm apresentado quadros de depressão, síndrome do pânico e transtornos decorrentes de crises de ansiedade estão cada vez mais elevados. E a maior parte das que estão em idade fértil sofre com problemas recorrentes no ciclo menstrual – resultado dos impactos emocionais no nosso sistema cíclico que essa vida moderna nos traz.
Uma mulher ansiosa que vive em estresse constante tem mais pré-disposição a ter irregularidades no ciclo menstrual, TPM aguda, candidíase crônica e corrimentos sem motivo aparente. Tudo isso porque o útero responde diretamente aos impactos dessa maratona exaustiva que temos vivido.
Por sermos mais conectadas com nossas emoções, somos mais pré-dispostas que os homens a desenvolver problemas de saúde ocasionados por esse ritmo de vida – e da mente – tão acelerado. Mas essa sensibilidade não deve ser vista como um problema, muito pelo contrário, temos em nosso corpo um mapa emocional e comportamental sempre pronto a nos mostrar para onde devemos olhar e o quê está ocasionando nossos problemas de saúde.
Nossas ancestrais não viviam tantos impactos dessa natureza como vivemos hoje. A vida moderna nos trouxe preocupações, medos, frustrações e sensação de perda a todo momento. Sentimentos que antes eram bem menos presentes nas mulheres.
Mas como conciliar tantas atribuições sem passar por todos esses sentimentos?
- Lembrando que somos humanas e não precisamos provar nada para ninguém. Erramos muitas vezes, não somos perfeitas e não precisamos carregar o mundo em nossas costas.
- Respirando mais, meditando, entrando em contato com que realmente devemos priorizar e que nos faz bem, independentemente do mundo externo que vende tantas ilusões, modelos de beleza, sucesso e felicidade.
- Quando olhamos cada papel que temos assumido e escolhemos quais deles são realmente necessários e nos realizam, damos um grande passo para organizar essa “bagunça interna”.
- Entregar os encargos que não queremos e não precisamos não é assumir que fracassamos. É maturidade. É saber utilizar a inteligência emocional a nosso favor.
Sempre podem existir incumbências que não escolhemos e não temos como deixar para trás. Criar os filhos muitas vezes sozinhas, pagar as contas sem ajuda, cuidar da casa e de tudo o que envolve um lar e uma família, são situações que quase nunca podemos soltar, deixar de lado. Mas para que isso seja leve, é preciso cuidarmos de nós mesmas. É necessário incluir à rotina um tempo só para nós, para o que gostamos de fazer, que nos ajuda a liberar a ansiedade e a tensão que nos ronda.
Quem não se cuida e não se prioriza acaba doente, exausta e sem energia.
A mulher é a força motriz da criação, do amor e da colaboratividade. Se essa fonte seca, tudo ao seu redor há de secar também. Cuide de si mesma, e todo o seu entorno estará amorosamente nutrido.
Kareemi é criadora da Ginecologia Emocional, autora do livro Viva Com Leveza (Gente) e palestrante motivacional. Nesta coluna, quinzenalmente, trará reflexões sobre os comportamentos, emoções, corpo e alma femininos. Seu instagram é @ginecologiaemocional
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