Vá dar uma volta
Em meio ao cansaço e à ansiedade, um simples passo para fora pode ser o primeiro passo para reencontrar-se
Eu estava me sentindo cansada, com a mente anuviada e o coração um pouco apertado. Precisava organizar o pensamento para resolver demandas delicadas, tanto pessoais quanto profissionais. “Vai caminhar”, uma voz interna sussurrou. “Assim, do nada, no meio do expediente?”, respondi. “É, vai caminhar”. Resisti… Mas depois, calcei o tênis e fui.
Gosto muito de andar. Tenho memórias de, ainda bem pequena, caminhar a pé pelos arredores do bairro com a minha mãe. Como ela não dirigia, muitas vezes preferia se deslocar andando em vez de esperar um ônibus, por exemplo. Caminhávamos muito – nesses passeios, parece que a gente realmente via a cidade. As ruas, as pessoas, as lojas… Nada virava um borrão, como facilmente acontece quando se desloca dentro de um veículo apressado. Lembro de, certa vez, voltarmos para casa debaixo de chuva, que nos pegou de surpresa no caminho. E de achar aquilo muito divertido.
Uns tempos atrás, enquanto tratava um quadro de ansiedade, a minha médica me disse algo precioso e que eu desconhecia: caminhar, especialmente ao ar livre, tem efeitos comprovados para diminuir o estresse, a ansiedade e a sobrecarga mental. Isso porque a caminhada ativa o nosso sistema parassimpático, que ajuda o corpo a sair do estado de alerta e entrar num estado maior de calma. Não sei você, mas eu adoro aprender mais sobre como o corpo funciona e como podemos conquistar mais bem-estar com práticas simples de incluir no dia a dia. “Pessoas ansiosas como você têm uma ativação enorme do sistema simpático, e trabalhar com as mãos e especialmente os pés é essencial para equilibrar essa sobrecarga”, ela me explicou.
Pois me lembrei dessa recomendação e das minhas caminhadas de menina e, naquele dia de semana qualquer, coloquei meus pés para tocarem o asfalto e meus olhos para olharem um outro horizonte. Lembrei do querido escritor Valter Hugo Mãe, que uma vez me contou que, durante seus bloqueios criativos, também se colocava a caminhar, sem destino. Não voltei pra casa com todas as respostas que precisava, claro. Mas inegavelmente estava diferente. É como se, de alguma maneira, caminhar me colocasse de novo no meu eixo. Na minha própria rota.
Por isso, o meu convite desta semana parece absolutamente simplório – mas, garanto, muito eficaz. Vá dar uma volta. Permita-se se ausentar alguns minutos (sem culpa e sem pressa) para sustentar esse espaço interno em vez de responder a tudo e a todos de forma rápida e imediata – e, por vezes, sem pensamento claro. Tome um ar. Veja as pessoas na rua. Olhe distante o horizonte.
Às vezes, tudo o que precisamos é apenas uma nova perspectiva. E a lembrança de que o caminho, de fato, é sempre a gente que faz.
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