Sobre ser semelhante, contrastante ou incomparável
Conceitos do design — como psicologia da boa forma e relações harmônicas — também ajudam na construção de bons relacionamentos.
Conceitos do design — como psicologia da boa forma e relações harmônicas — também ajudam na construção de bons relacionamentos.
Este ano completo doze anos de formado em design gráfico. Algo surpreendente para pessoas que me conheceram nos últimos anos, devido hoje meu trabalho estar mais relacionado à palavra do que à imagem. Já me questionei sobre minha trajetória e seu claro desvio de percurso. Também já me perguntei se fez algum sentido ter me tornado designer ou se eu teria sido mais feliz tendo ido para o jornalismo. Mas a cada vez que reflito sobre esse assunto, tenho mais convicção de que o design foi uma escolha acertada. Apesar das práticas e ferramentas aprendidas na faculdade não fazerem parte do meu dia a dia profissional.
Ao investigar as habilidades e competências que tenho hoje e como elas foram sendo construídas, percebo que o design se tornou uma lente através da qual eu olho para o mundo. A bagagem de conhecimento que o curso me deu nunca se transformou em peso desnecessário e se mostra cada vez mais útil. Foi em uma disciplina do curso, por exemplo, que aprendi questões relativas à psicologia da forma. Se no passado, a Gestalt me servia para criar produtos gráficos estabelecendo relações harmônicas entre formas, hoje ela me ajuda a entender sobre a boa relação entre pessoas.
Teoria da boa forma
Existem três princípios básicos relacionados à teoria da boa forma que me levam a esse pensamento: a semelhança, o contraste e o que não é comparável. Designers que sabem bem os três conceitos tendem a se dar bem em seus projetos. Pessoas que compreendem como eles tem tudo a ver com nossos relacionamentos interpessoais podem lidar melhor com a própria vida.
Semelhança não é ser rigorosamente igual. É ter afinidade. São parecenças físicas, emocionais e intelectuais. E o que se parece, se atrai. Assim, formamos grupos – no design, de objetos, nas relações, de pessoas. Analisar o que desperta a atração é uma bela maneira de compreender em que bases criamos e alimentamos nossos relacionamentos. Todavia, a psicologia da forma guarda uma revelação surpreendente: a atração não se dá apenas por semelhança, mas também por contraste.
Contraste nas relações
O contraste é conferido na diferença. Uma forma curva e uma forma reta não possuem nenhuma semelhança entre si, logo são contrastantes. Sendo assim, pessoas física, emocional ou intelectualmente diversas, também. Elas não se parecem, todavia, não precisam necessariamente se repelirem. Semelhança e contraste geram diferentes formas de atratividade. Visualmente a semelhança cria conforto e harmonia, já o contraste cria ritmo e movimento. Por isso os objetos visuais mais interessantes não tem apenas um ou outro, mas a combinação dos dois. E a vida? Pode ser assim também. Com relacionamentos de afinidade, que nos trazem conforto e harmonia. E com relações de contraste, que nos provocam novos ritmos e nos põe em movimento.
Já o incomparável nos reserva uma último aprendizado. No campo das formas visuais não é possível estabelecer relação de contraste ou semelhança com objetos de naturezas diferentes. Em nossos relacionamentos também. Podemos comparar e identificar diferenças e afinidades em relação aos sentimentos, conhecimentos e atributos físicos. Mas, em substância, somos não comparáveis. Por isso, identidades pessoais e trajetórias não são melhores ou piores, são únicas. O valor delas está justamente no fato de serem assim, incomparáveis e apenas nossas.
Tiago Belotte é fundador e curador de conhecimento no CoolHow – laboratório de educação corporativa que auxilia pessoas e negócios a se conectarem com as novas habilidades da Nova Economia. É também professor de pesquisa e análise de tendências na PUC Minas e no Uni-BH. Seu Instagram é @tiago_belotte. Escreve nesta coluna semanalmente, aos sábados.
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