Sobre como se levantar depois de um “não”
No anseio por um “sim”, um “não” nunca desce bem goela abaixo. Mas ao entender que respostas negativas são mais comuns que as positivas, temos duas opções: ficar sempre indigestos ou aprender a digerir bem o que nos negam.
Alcançar metas, desejos e sonhos. Não é assim o rito da vida? Estamos sempre tentando bolar estratégias, aprender métodos e encontrar uma maneira de torná-los realidade. Seja nas questões profissionais, nas tentativas pessoais ou nos interesses mais íntimos e afetivos. Estamos sempre tentando. Só que isso nem sempre basta.
É que muitas vezes nossas realizações não dependem só da gente. Precisamos do aval ou consentimento de alguém para que possam de fato acontecer. Se preciso da cooperação de uma pessoa em um objetivo, preciso que ela diga “sim” ao meu pedido. Para um patrocinador investir na minha ideia, alguém precisa concordar. Se quero me reunir com pessoas que gosto, elas precisam aceitar. Sem um “sim” do outro lado, nem tudo é possível.
E aí, basta uma sequência de “nãos” para que estas metas, desejos e sonhos fiquem para trás. E pior, provocando uma profunda desestruturação em nossa autoconfiança e minando o ímpeto de continuar tentando.
Esqueça a obstinação pelo êxito por um instante
Antes de continuar, é importante esclarecer que este não é um texto sobre como conseguir “sim” no lugar de “não”, definitivamente. Decidi escrevê-lo para refletir sobre o que um “não” faz com a gente. Porque, a meu ver, é conhecendo os efeitos colaterais de uma porta fechada na cara ou de uma resposta negativa, que podemos controlar melhor a decepção e a desmotivação pessoal que sentimos diante de uma negação.
Este texto também é sobre tentar eliminar o vitimismo que cai sobre nós ao enfrentarmos resistência alheia às vontades e ideias que temos. “Não” é um lugar mais comum e frequente do que se imagina. Se um “sim” é sempre uma vitória, não se engane com o contrário. Um “não” não pressupõe sua derrota. Ele é só um indício de que a vitória ainda não chegou.
“Ah, mas esse texto é uma apologia ao fracasso, Leo”, dirá alguém. Não é. Este texto é uma exaltação à resistência de nossas integridades física e mental. Porque, antes de qualquer coisa, para realizar algo precisamos estar inteiros.
A falta de motivação
Incentivo e estímulo aumentam nossa disposição para batalhar por objetivos. E receber respostas positivas aos nossos esforços é uma forma de impulso. Ouvir “sim” é um sinal de que estamos avançando em nossa jornada. Mas quando tudo o que colecionamos é “não” seguido de “não”, parece uma corrida sem sair do lugar. E aí temos o cenário perfeito para a desmotivação. Só que esta é uma interpretação completamente equivocada da nossa parte.
Onde está nosso equívoco? Fazer do “sim” o combustível que nos traz energia para empreender objetivos. Não deveria ser. O “sim” é o destino aonde queremos chegar. Não o combustível. O combustível é o que nos levará até ele. E você precisa descobrir qual é o seu. O que te motiva a perseguir o “sim”? Quando você decifrar, o “não” deixará de ser fonte de desmotivação.
A necessidade da aprovação
Ninguém quer ser negado, recusado ou coisa que o valha. Ser aprovado pelo nosso entorno significa se sentir aceito, ter pertencimento e comprometimento com um ambiente e contexto social. Só que um “não” pode parecer a desaprovação de quem somos. Como se alguém nos desvalidasse.
Ao enfrentar negações às nossas tentativas, é preciso ter discernimento entre “quem somos” e “o que estamos tentando realizar”. Por mais que as nuances sejam muito sutis (e há injustiças sociais que as coloquem num mesmo balaio), existe uma diferença enorme entre elas. Na próxima abordagem, tenha nítido em sua cabeça se você está tentando aprovar quem você é ou tentando aprovar um pedido ou meta. Isso talvez seja suficiente para que elas não sejam confundidas e você não se desestabilize.
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Tudo tem limite
“Este mês não há mais disponibilidade”. “O orçamento deste ano está comprometido”. “As vagas já estão todas preenchidas”. Se você está sempre buscando oportunidades, estas são respostas negativas bem comuns às suas tentativas. Às vezes até usadas arbitrariamente como desculpa esfarrapada. Verdade ou não, o ponto é que de fato há limite para tudo. Na minha agenda, no meu orçamento ou na casa onde moro não cabe tudo o que eu gostaria que coubesse. Entender a finidade das coisas nos faz mais compreensivos sobre estar atento ao momento certo para uma oportunidade acontecer.
O perigo da comparação
O sucesso ou a vitória de alguém perto de você não pressupõe seu insucesso ou derrota. Então cuidado ao balizar sua vida à de alguém. Claro que há virtudes ao ter outras pessoas como referência para nossa jornada. Porém, ao nos comparar, podemos estar cometendo a infelicidade de equiparar desempenhos e, consequentemente, de criar um cenário de competição. E se é você quem fica pra trás nessa corrida, seu prêmio será se sentir incapaz. Nenhuma jornada individual é igual a outra. Se não, a chamaríamos de jornada coletiva.
A culpa é minha
“Não nasci pra isso, não tenho talento e nem competência”. Síndrome do impostor é quando a gente tem tendência à autossabotagem, ou seja, quando a gente constrói a percepção de que somos incapazes. E o cérebro de todo mundo faz isso. É humano. E a consequência é usar a gente como desculpa para não realizar algo. Ter a consciência de que fazemos isso a todo momento, pode nos ajudar a lidar melhor com a autocobrança. Pegue leve consigo.
A culpa é dos outros
Evite a incoerência e a hipocrisia. Os “nãos” também saem da nossa boca a todo instante. Não é só você que os recebe. Da próxima vez que você negar um convite, pedido ou solicitação de alguém, pense dedicadamente nos porquês de estar fazendo isso. Você vai ver que todo mundo tem suas razões para dizer “não”.
Você está fazendo sua parte?
Por fim, para não perder o fôlego e a esperança em si, uma dica preciosa. Enquanto você espera o “sim” de alguém, nunca deixe de ter metas, desejos e sonhos que você seja capaz de realizar só. Vá ao cinema ou ao parque mesmo que sua companhia tenha recusado o convite.
Sem poder contar com a ajuda de alguém, se arrisque a fazer aquele conserto ou reparo simples de algo em casa aprendendo com tutoriais na Internet. Ou se empenhe a criar e realizar um projeto pessoal de forma independente. Não tenho dúvida de que isso vai revelar que quando as decisões estão em suas mãos, coisas acontecem.
*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.
LEO LONGO é documentarista nômade e empreendedor independente há 8 anos. Vive na estrada para filmar séries ao lado de Diana Boccara, com quem forma o duo Couple of Things. Artista e ativista do minimalismo, escreveu o livro “Mínimo Essencial”. Suas produções estão disponíveis em plataformas como Amazon Prime Video e Globoplay. Aqui na Vida Simples, o duo escreve sobre como o fazer Arte independente e a vida nômade e minimalista revolucionam sua percepção de mundo.
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