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Redes sociais não são para-brisas, são retrovisores
Dole | Unsplash
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Se quisermos enxergar o futuro e a transformação, precisamos entender que as redes sociais só nos mostram o que fomos e gostamos no passado.

Por diversas vezes a gente conversa aqui sobre o universo digital e reflete junto sobre suas possibilidades e perigos. Quando fazemos isso, estamos investido na nossa alfabetização digital, tema que também já mencionei aqui algumas vezes. A tecnologia entra, cada vez mais, em cada pedacinho da nossa vida. No nosso sono, na nossa alimentação, no lazer, no estudo, no trabalho eu nem preciso falar. Não é?

E nós abraçamos cada novidade, pois amamos inovação e tecnologia – os brasileiros mais do que todo o resto do mundo, segundo alguns estudos. Já faz tempo que encaramos inovações tecnológicas como janelas para o futuro. No entanto, é preciso saber quando elas também são portais para o passado.

As redes sociais, por exemplo, por mais que acreditemos que elas nos conectam com o mundo, a verdade é que elas só nos ligam ao que já conhecemos ou gostamos. Como um retrovisor colocado a nossa frente para se passar por para-brisa. Estamos olhando para frente, mas só vemos o que está atrás.

Meus gostos e preferências

Só aparece na sua timeline de rede social aquilo que já faz parte do seu comportamento, dos seus gostos e das suas preferências. O que você já curtiu, comentou ou compartilhou antes. E qual o perigo disso? Acredito que são principalmente dois.

O primeiro é que ao ver apenas o conhecido e curtido, você não é confrontado pelo diferente, pelo novo, pela mudança. Se as redes acabaram virando o nosso principal veículo de informação no nosso dia-a-dia, isso se torna perigoso, pois acaba nos fechando numa bolha. Quantas vezes você já disse ou ouviu alguém dizer “nossa, todo mundo está na praia nesse feriado” ou “tá todo mundo defendendo tal causa social”.

Quando, de fato, o “todo mundo” é só quem faz parte do meu feed. Veja bem, nem é todo mundo que eu sigo, é só quem é escolhido pelo algoritmo para aparecer para mim. E quem é escolhido? Quem mais combina com as minhas preferências passadas.

redes sociais

Crédito: Austin Distel | Unsplash

Perigo nas redes

O segundo perigo é praticamente uma consequência do primeiro. Ao nos fecharmos na nossa bolha, nos tornamos menos tolerantes ao diferente e nos tornamos impermeáveis ao que é contrário ao nosso jeito de ser e pensar. No entanto, é exatamente o contraditório que gera confronto de ideias. E é do confronto de ideias que nasce o novo, é a partir da exposição ao diferente que alargamos nossos horizontes. Aí está nosso para-brisa real.

Precisamos estar atentos e conscientes, aumentando nossa fluência digital, nos tornando críticos ao que consumimos e para onde o uso da tecnologia, da forma que usamos, está nos levando.

Conteúdos tóxicos nas redes sociais

Nos últimos dias, uma investigação, divulgada em uma série de notícias do Wall Street Journal, revela que o Facebook — a rede social mais popular no Brasil — desde 2018 sabe que uma mudança feita em seu algoritmo fazia mal à saúde mental de jovens e que também potencializava o alcance e o compartilhamento de conteúdos tóxicos, violentos e de desinformação.

Por isso, o papel de guardiões do nosso próprio futuro, do horizonte que enxergamos através do para-brisa, não é das redes sociais, é nosso. A tecnologia precisa estar a favor do nosso bem-estar e do futuro que queremos. Do interesse do coletivo e não de apenas alguns.

É possível falar em democracia digital? Sim, mas apenas se nós estivermos fazendo a nossa parte, como verdadeiros cidadãos digitais, cientes dos seus deveres e direitos. Entendendo os mecanismos e fazendo escolhas melhores.


TIAGO BELOTTE é fundador e curador de conhecimento no CoolHow – laboratório de educação corporativa que auxilia pessoas e negócios a se conectarem com as novas habilidades da Nova Economia. É também professor de pesquisa e análise de tendências na PUC Minas  e no Uni-BH. Seu Instagram é @tiago_belotte. Escreve nesta coluna semanalmente, aos sábados.

*Os textos de nossos colunistas são de inteira responsabilidade dos mesmos e não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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