COMPARTILHE
Recolhimento faz parte do ciclo e é essencial para a cura
Brandy Kennedy / Unsplash
Siga-nos no Seguir no Google News
Neste artigo:

Começou como um incômodo e se tornou lancinante. Foi assim com meu dente. Acho interessante ultrapassar os 50 anos e não ter sentido uma dor de dente assim.

Quan­do comento, ouço de volta: “sei como é”. Pois bem, eu não sabia. E estava tranquila com tamanha desinformação.

Mas ela veio e me ocupou. Por dias. O dente se foi e ga­nhei um pino onde, em breve, haverá uma nova peça funcional. Tudo resolvido?

Não. A dor seguia. A dentista explicou: recupe­ração difícil, algumas pessoas são assim. A minoria, mas acontece. Encobri os compromissos e fui guiada pelo ritmo da dor.

Mais ou menos intensa. Mais ou menos suportável. Mas sempre ela, a dor. Até que percebi que o difícil des­sas fases não é apenas o sofrimento físico.

É também a fresta, aquele lugar que se abre quando vagamos neste período que é só nosso e para onde vamos quando o cor­po padece.

Você pode gostar de
Recolhimento: o silêncio é a linguagem dos fortes
Os 4 pilares mais importantes para uma vida saudável
Para provocar a mudança, invista no seu casulo

Saber reconhecer o espaço do recolhimento

Cada um tem seu próprio ende­reço, mas é sempre uma fresta. Um espaço estreito em que só você sabe o caminho. A cama quente, o cômodo silencioso, a brisa suave.

Um encontro seguro comigo mes­ma. Dele consigo, estranhamente, apreciar o que está fora, sem permitir a entrada de outras pessoas. Mantenho a quietude ape­sar dos brados do entorno.

Quando entrei na minha fresta, notei um dia a dia que corre mais rápido do que sou capaz de acompanhar. Muitas vozes se entrelaçando como nos finais de feira.

Por que correm, se apressam, gritam? Estão em busca de atenção. De quem, por quê? Não há apreciação, apenas ação. Meu ritmo não é este. Não quero, não preciso.

Da mi­nha fresta, entendo que não é necessário escrever sobre o casamento da celebrida­de padecendo em praça pública – ela preci­sa de amparo, não de conjugações verbais.

Também não sinto vontade de opinar sobre a estrela da música pop – gostaria apenas de abraçar a mãe da menina que se foi na espera pelo show.

Cultivar o silêncio do recolhimento para se recuperar

Atos silenciosos podem nos curar mais do que dedos em riste. Da minha fresta, percebo a necessidade de cuidar de mim.

Será que, fora da fres­ta, estou competindo por espaço, de fala, de escuta, de atenção, fazendo parte deste grande mercado de pulgas?

Quando estou fora, não cuido de dentro. Entro no ruído que ensurdece e cega. A dor, concluo, tal­vez não seja sobre punir meu corpo, mas, neste caso, libertar minha alma.

Na fresta estou, por enquanto. Mas e quando retor­nar, pretensamente curada, saberei ser?

MAIS DE ANA HOLANDA
Sentimentos diferentes podem caminhar juntos quando há amor

Em meio às tarefas, três compromissos que ajudam a crescer na vida
Falar sobre sentimentos ajuda a amadurecer e a aprofundar relações


Conteúdo publicado originalmente na Edição 263 da Vida Simples

0 comentários
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

Deixe seu comentário

Para acessar este conteúdo, crie uma conta gratuita na Comunidade Vida Simples.

Você tem uma série de benefícios ao se cadastrar na Comunidade Vida Simples. Além de acessar conteúdos exclusivos na íntegra, também é possível salvar textos para ler mais tarde.

Como criar uma conta?

Clique no botão abaixo "Criar nova conta gratuita". Caso já tenha um cadastro, basta clicar em "Entrar na minha conta" para continuar lendo.