Por que você deveria se dar limites
Uma reflexão sobre os limites que impomos aos filhos e a nós mesmos como forma de cuidado, consciência e amadurecimento

Ontem à noite eu e Ben chegamos de um aniversário com ele um tanto irritado. Meu garoto queria muito jogar um jogo de celular que, embora muitos colegas da sua idade estejam jogando, é completamente inapropriado para a sua faixa etária. Questionador e argumentativo como ele é, me respondeu “Ah, mas por que os outros pais deixam, e você não?”.
“Meu amor. Eu não sei os motivos dos outros pais para deixarem. Mas os meus, para não te deixar jogar, eu sei”, respondi. Naquele momento, meu filho precisava entender a diferença entre o que ele gosta de fazer com o que ele precisa (ou não) fazer, e que o papel dos pais é oferecer aquilo que eles julgam necessário para a criança, mesmo que ela não perceba como um cuidado no momento. Continuei.
“Filho, vamos imaginar que você é um menino que adora assistir TV e me diz que não quer mais ir para a escola, só pra ficar assistindo aos seus desenhos em casa. Se eu permitisse que você faltasse só porque eu quero te agradar, eu não estaria fazendo o que é melhor pra você. Ao abandonar a escola, você não se alfabetizaria, não aprenderia matemática, não saberia uma série de coisas importantes”, expliquei. “Da mesma forma é o jogo. Eu te agradaria momentaneamente ao te deixar jogar, mas eu sei das implicações que isso pode ter para você, e o meu papel, por enquanto, é tomar decisões como esta”.
Ben foi dormir menos emburrado e eu, mais pensativa. Confesso que me assusto – e muito – com o tipo de conteúdo que as crianças estão tendo acesso, cada vez mais cedo e com mais intensidade. E como estamos sendo todos cobaias das tecnologias para colhermos os impactos lá na frente – ou nem tão lá na frente assim. Especialmente entre as crianças, o uso inadequado de telas pode gerar mais ansiedade, dificuldade de atenção sustentada, falta de empatia, e por aí vai.
Entendo que meu papel, como mãe, é tomar decisões de forma ponderada e consciente – não levando em conta apenas a vontade do Ben, mas o impacto daquilo na sua vida. E o mesmo acontece conosco. Quando crescemos, não há mais pai e mãe para controlar o que a gente faz. Nem para dizer, com tanta autoridade, que aquilo não nos traz benefícios. É a gente com a gente mesmo.
E hoje acordei pensando em tantos hábitos e coisas de que eu talvez goste, mas claramente não me fazem bem – como o próprio uso excessivo de celulares e redes sociais, por exemplo. E que caberá, única e exclusivamente a mim, como adulta, dar-me a própria contenção. Ser adulto talvez seja isso: ser capaz de se dar os limites necessários, para “crescer” rumo a uma vida mais significativa.
Lidar com esse pequeno conflito da infância do meu filho, enfim, também jogou luz para os meus desafios comigo mesma. Quais são os próprios limites que preciso impor a mim como forma de também cuidar de quem eu sou? Não é porque todo mundo faz que eu vou fazer também. Afinal, como as mães sempre dizem, “você não é todo mundo”.
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