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Por que os filtros das redes sociais são tão irresistíveis?
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Foram raras as vezes que eu apareci nas redes sociais utilizando filtros. Na maioria delas, coloquei um asterisco destacando o uso da tecnologia que alterou a minha imagem, ainda que a ferramenta da plataforma coloque um discreto aviso. Eu nunca levantei essa bandeira por lá porque penso que nem tudo precisa virar conteúdo. As atitudes éticas precisam ser mais orgânicas, não acham?

Mas, o tema, que é atemporal, está com uma discussão quente. Recentemente, uma marca da sabonetes e higiene pessoal convencional convidou personalidades a assinarem contratos para não usarem mais filtros no Instagram. Delas, as autênticas Paola Oliveira e Astrid Fontenele, que já eram conhecidas por serem das mais reais e transparentes em relação a isso.

Estranhei a campanha não ser ousada o bastante para engajar pessoas conhecidas pelo contrário: o uso constante dos filtros. Será que dinheiro não paga a segurança de aparecer diariamente nos stories com a aparência controlada?

Não parece que quase todo mundo usa filtro?

A pesquisa Assuma sua Imagem, de 2022, encomendada pela Allergan Aesthetics, uma empresa de estética médica, entrevistou 650 brasileiros entre 18 e 50 anos sobre esse assunto. O resultado mostrou que 94% concordam que o uso exagerado de filtros prejudica a autoestima. Do total, 58% disseram que o nível de cobrança estética se tornou irreal devido ao uso exagerado desses filtros. Apesar dessa clareza nos danos provocados pela ferramenta, 40% usam filtros com frequência, e outros 37% usam ocasionalmente.

Talvez essa insegurança comprovada por pesquisas explique o que para mim sempre soou inusitado: pessoas que não têm o comprometimento (como maquiadoras, especialistas, blogueiras) de aparecer sempre arrumadas frente às câmeras, utilizam filtros no dia a dia. Professores de yoga, especialistas em diversidade, ambientalistas, artistas, professores: (quase) todo mundo tem cedido aos filtros.

Talvez seja pelo mesmo motivo das vezes que eu quase sucumbi também. No auge do meu puerpério, umas duas vezes pedi licença para usar um filtro. Mas não senti alívio. Logo vieram as sensação pela quais evito o uso de filtros desde que ocupo meus arrobas (@anaturalissima e @eusoumarcelarodrigues) nas redes.

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Motivos pelos quais evito o uso de filtros

A primeira razão é um autoconstrangimento, uma sensação “sem graça” comigo mesma. “Não, não sou eu”. Eu brinco que os seguidores de longa data se surpreendem ao me verem pessoalmente porque juram que pelas telas pareço alta (mas sou do time das baixinhas). Imagina se apareço de filtro!? Não quero ser fake news.

A segunda, vem do senso de ética. Meu foco nas redes sociais é conectar bem-estar e sustentabilidade. Sendo que uma das bandeiras na qual carrego (ainda), a sustentabilidade. O peso de ser referência no movimento da beleza natural e consciente, não me permite essa “falha”.

Como posso questionando o impacto dos ingredientes cosméticos e as atitudes apelativas da grande indústria, se não tenho coragem de mostrar meu rosto do momento?

Uma indústria que lucra em cima das nossas inseguranças

Bom, eu tenho minhas inseguranças, mas tento fazer com que a ética se sobressaia a elas. Quando coloco filtros, adiciono um asterisco na legenda ressaltando o uso: “*esse story contém filtro“. E, sim, há no recurso um aviso, indicando inclusive qual filtro e quem o fez. Pois é, mas isso é muito pequeno perto do impacto que ele provoca. E nossa mente não funciona assim. Estamos normalizando os filtros, e isso fica comprovado na sensação de insegurança, como se todos estivessem sempre com a cara boa.

Como disse, eu evito. E ainda assim acho que zerar seria o ideal – e tento fazer, mesmo, como contei. Prefiro estar em minha versão real com olheiras de quem acorda à noite para amamentar.

É tão bom saber que quando há algum elogio pela aparência, que ele é quase totalmente legítimo (digo “quase” porque ângulo, luz e maquiagem também modificam, ainda que sutilmente).

Em suma, todo mundo quer ser sua melhor versão e tudo bem. Mas, não vejo como sensato usar essa justificativa nobre para sustentar práticas não saudáveis para nossa autoestima e para fortalecer uma indústria que lucra em cima das nossas inseguranças.

Eu também quero estar nessa versão melhor de mim. Na dúvida, corro para a melhor luz da casa 🙂

Acompanhe minha coluna

Meu propósito é conectar bem-estar e sustentabilidade. Há mais de dez anos, como jornalista e buscadora, eu venho pesquisando de forma independente as vertentes do consumo consciente, da beleza natural – que eu chamo de consciente – e, mais recentemente, me tornei estudiosa da temática resgate de rituais.

Eu acredito que acredito que renaturalizar é preciso e, não à toa, minha principal iniciativa é uma plataforma de conteúdo chamada A Naturalíssima. Por aqui, então, esperem uma visão holística desses temas que me movem e eu acredito serem essenciais em um estilo de vida consciente.

Nas próximas colunas volto com os temas que me movem enquanto comunicadora, educadora e, sobretudo, buscadora: sustentabilidade, bem-estar, beleza natural, cuidados e resgate de rituais. Sempre por uma perspectiva consciente e integral.

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