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Por que as birras das crianças irritam tanto e como mudar isso
yang miao
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Ela fazia uma enorme birra quando algo não saía do seu jeito. Se não recebesse o copo azul; se não sentasse no seu lugar favorito no carro; se não fosse a primeira a ganhar o canudo… Qualquer coisa que acontecesse diferente da sua expectativa, ela se frustrava.

Os pais não sabiam mais como agir. Ela era a mais nova. Talvez a solução seria fazer com que a irmã, 2 anos mais velha, fosse mais compreensiva e abrisse mão de algumas coisas para satisfazer a irmã? Qual a medida das nossas decisões e comportamentos diante das birras, ou seja, das frustrações, quase que inevitáveis, da criança?

Quando as birras da criança desafiam os pais

O pai, na maioria das vezes, repreendia a filha ou tentava convencê-la a ser mais flexível, a entender que nem sempre “o mundo” fará tudo que ela quer e deseja, mas normalmente a filha ficava ainda mais irritada e por consequência, o pai também.

A questão principal da família era: Como fazer com que a criança fosse mais flexível com os seus desejos.

A visão budista enfatiza a importância de validar os sentimentos, tanto os nossos quanto o da criança. Nessa abordagem, a conexão emocional, a presença e a compreensão se tornam fundamentais para fortalecer os laços entre os adultos e a criança.

Em busca de soluções para as birras

Eles estavam com uma amiguinha em casa, sem saber, a amiga da irmã pegou o prato amarelo que ela costumava usar. Ela começou a chorar na mesma hora. O que você faria ou diria?

Normalmente nossa reação é dizer: “Não faça esse escândalo, é só pegar o prato vermelho ou o alaranjado”.

Algumas pessoas pediriam com gentileza para que a amiguinha trocasse o prato. Mas você acha que essas atitudes validam o sentimento da garotinha?

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A Arte de sentir junto e a conexão emocional

Nesse dia, a mãe lembrou sobre a importância de validar os sentimentos para a conexão emocional e da presença, então ela se abaixou e falou num tom baixo e gentil: “É muito difícil para você ver a amiga com o seu pratinho favorito né? Você queria estar com ele?”

Nesse momento, o choro diminuiu um pouco, a criança olhou para a mãe. A mãe estava de verdade compreendendo a frustração da filha. E então a mãe disse que na próxima refeição ela iria reservar aquele pratinho para que ela pudesse usar. Ela perguntou: “Você vai querer mesmo o amarelo ou o vermelho que você também gosta?” E naquele exato momento a criança sorriu, aceitou o prato que a mãe estava oferecendo e respondeu: “vou querer o vermelho” (veja Os Incomodados que se Mudem).

Essa atitude de empatia e acolhimento possibilitou uma conexão mais profunda entre mãe e filha. Em vez de persistir em suas demandas, a criança sentiu-se compreendida e amparada, e sua necessidade de expressar a frustração diminuiu naturalmente. Com um olhar sensível, a mãe percebeu que a criança não precisava que ela resolvesse o problema, mas sim que validasse seus sentimentos e a ajudasse a encontrar sua própria solução.

Autocompaixão e reconhecimento dos sentimentos

Quando negamos ou rejeitamos os sentimentos dos outros, criamos barreiras entre nós e aqueles que amamos. A arte de sentir junto e compartilhar as emoções é um caminho para construir laços sólidos e relações mais autênticas (leia também Cultivando um Vínculo Autêntico)

Entender que todos nós temos sentimentos válidos e aprender a lidar com eles é um aprendizado constante. Ao acolher os sentimentos da filha, a mãe ofereceu um espaço seguro para que ela se expressasse e se sentisse compreendida. Essa abordagem carinhosa é uma maneira de cultivar a conexão emocional e criar uma relação baseada na confiança e na empatia.

O budismo também nos ensina a não negar nossas próprias emoções. Quando somos capazes de reconhecer e validar nossos sentimentos, sem nos repreendermos por senti-los, estamos praticando a autocompaixão. E é essa mesma compaixão que podemos estender a nossos filhos, ensinando-os a aceitarem e compreenderem suas próprias emoções.

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Com essa perspectiva, podemos também nos reconectar com nossa criança interior, aquela parte de nós que deseja ser ouvida e amparada. Ao validar os sentimentos de nossos filhos, estamos ensinando-os a valorizar suas emoções e a desenvolver a habilidade de expressá-las de forma saudável e construtiva.

Na maternidade não precisamos ter todas as respostas, mas sim estarmos presentes e acolhermos as emoções do momento. Ao compartilharmos os sentimentos com a criança, criamos um espaço de compreensão e aceitação, onde ela pode se sentir amada e cuidada. (não esqueça de ler Wabi-sabi + Ichi-go ichi-e = felicidade)

Nessa jornada da parentalidade, podemos aprender com a simplicidade e a profundidade dos ensinamentos budistas. Ao praticarmos a arte de sentir junto, nutrimos nossas relações com nossos filhos e com nós mesmos, cultivando um ambiente de harmonia, conexão e amor verdadeiro. Com presença e autocompaixão, encontramos uma oportunidade de crescimento e aprendizado mútuo.

Indicações para ler, para assistir e para ouvir

Para te auxiliar nesse caminhar, quero te fazer 3 indicações bem especiais:

Para ler: As últimas crianças de Tóquio*, escrito pelo autor japonês contemporâneo, Yoko Tawada. A história se passa em um mundo onde a população japonesa está enfrentando um declínio demográfico alarmante. A fertilidade das mulheres diminuiu drasticamente, e a última geração de crianças nasceu. O enredo gira em torno dos desafios enfrentados por um grupo de pais e avós enquanto criam essas “últimas crianças”, sabendo que não haverá mais gerações futuras.

Os pais e avós são confrontados com o peso de suas responsabilidades para garantir um futuro viável para seus filhos e netos, apesar das circunstâncias desoladoras. Essa reflexão humanística destaca a resiliência do espírito humano e a capacidade de amar e nutrir, mesmo diante da incerteza. A parentalidade torna-se um ato de coragem, onde eles são compelidos a transmitir valores, tradições e sabedoria, sabendo que podem ser a última esperança para preservar a cultura e a identidade japonesas.

Para assistirCapitão Fantástico*, é um drama de 2016 dirigido por Matt Ross e estrelado por Viggo Mortensen no papel principal. O filme conta a história de Ben Cash, um pai dedicado que decide criar seus seis filhos de forma pouco convencional, longe da sociedade moderna, na floresta isolada do noroeste do Pacífico. As crianças são educadas com rigor físico e intelectual, mas também com muito amor e conexão com a natureza.

A abordagem de Ben Cash na criação de seus filhos é baseada em valores humanistas e de diálogo aberto. Ele os ensina a pensar criticamente, serem independentes e questionarem a sociedade convencional. O filme é uma reflexão profunda sobre a paternidade e as escolhas que os pais fazem para criar seus filhos. Traz à tona questões importantes sobre o equilíbrio entre o amor e a proteção, o papel da família e da comunidade, e a importância do diálogo para entender diferentes perspectivas.

Para ouvir: Meu PodCast – Mariana Wechsler: um podcast de histórias reais, de todos os tipos de pessoas e como elas se encontram, se amam e enfrentam a vida ao lado das crianças que convivem. Eu ouço a história, compartilho o meu conhecimento e juntas construímos histórias que cuidam de você, de mim e de todas.

 


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