Pequeno manual de educação financeira para filhos
Thiago Godoy mostra, em sua coluna, que educar-se financeiramente é o primeiro passo para que seus filhos tenham uma vida financeira saudável no futuro.
Thiago Godoy mostra, em sua coluna, que educar-se financeiramente é o primeiro passo para que seus filhos tenham uma vida financeira saudável no futuro. Veja conselhos para ajudar as crianças a enxergarem o valor do amanhã.
Há um pouco mais de um ano me tornei pai. Para além de todos os clichês — que são verdadeiros e maravilhosos — sinto que quando nasce um pai, nasce um educador. E, mais do que a responsabilidade de educar a minha pequena filha, passei a me “educar” mais também. Afinal, meus hábitos, minhas ações e atitudes acabam se tornando exemplos que ela vai carregar.
Educar não é dizer o que os nossos filhos precisam fazer, mas mostrar, por meio do exemplo, o que é importante ser feito.
Como trabalho com educação financeira há uma década, tenho cada vez mais me conectado à educação financeira de crianças. Quero contribuir para que cada família brasileira possa falar abertamente de dinheiro — de forma saudável, leve e natural.
Mas esse assunto ainda é um grande tabu — e eu sei que você tem dificuldade em lidar com isso. Também sei que mesmo ações mais simples como organizar uma mesada e ensinar a usar o cofrinho vão dar um certo trabalho. As questões mais complexas então — como montar uma carteira de investimentos para eles — ainda podem estar muito distantes da sua realidade.
Por isso, nesse texto eu quero te mostrar que:
- lidar com o assunto dinheiro é mais fácil do que você pensa.
- educar-se financeiramente é o primeiro passo para que seus filhos tenham uma vida financeira saudável no futuro.
- as escolhas que temos no presente determinam como será o nosso futuro – ou seja, os seus sonhos dependem das escolhas que você faz hoje.
O autocontrole e seus benefícios
Nos anos 1960, o psicólogo Walter Mischel realizou um experimento para medir o grau de autocontrole de um grupo de crianças. O teste era bem simples, cada criança era levada individualmente para uma sala e ficava sentada em uma cadeira e diante de uma mesa. Sobre a mesa era colocado o doce preferido dela. Depois, o adulto deixava a criança sozinha na sala com a seguinte instrução: ela poderia comer o doce quando quisesse, mas se ela conseguisse esperar o adulto retornar à sala sem comer, ganharia um segundo doce.
Bom, e o que acontece? Algumas crianças começam a comer o doce antes mesmo do adulto fechar a porta. Algumas outras conseguem se controlar — às vezes com um grande esforço.
A questão principal desse experimento é entender o autocontrole e seus benefícios. As crianças sabiam que poderiam usufruir de um benefício caso se controlassem: elas teriam doce em dobro se soubessem esperar.
O teste do marshmallow ficou muito famoso pois Walter acompanhou a vida dos participantes por décadas e conseguiu provar que as crianças que agiram com autocontrole durante o experimento tiveram na média resultados melhores na escola e no trabalho — e até maior qualidade de vida em seus relacionamentos.
Na prática, o autocontrole aparentemente foi determinante na hora desses futuros adultos tomarem decisões, o que as fez renunciar a um prazer imediato para obter uma vantagem maior no futuro.
Papais e mamães: saibam que entre os 4 e os 12 anos de idade a criança está formando seu equipamento mental das chamadas “escolhas intertemporais” — a capacidade de esperar o amanhã para algum benefício, ao invés de privilegiar o prazer instantâneo.
Educar os seus filhos a lidarem bem com o dinheiro é mais importante do que o patrimônio financeiro que que você poderá deixar.
Como diz Robert Kiyosaki, autor do livro “Pai Rico, Pai Pobre” — maior bestseller de finanças de todos os tempos: “A inteligência resolve problemas e produz dinheiro, mas sem inteligência financeira o dinheiro se perde rapidamente”.
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Sete conselhos para ajudar os filhos a enxergarem o valor do amanhã
1. As crianças são mais conscientes do que você imagina
Nossa relação com o dinheiro é pautada por crenças. Nos primeiros 7 anos de vida passamos pela “Socialização Econômica” e absorvemos uma grande parte das nossas crenças financeiras. Mesmo que você nunca converse diretamente sobre dinheiro com os seus filhos, eles formarão suas percepções sobre o que é dinheiro.
Um estudo realizado em 2014 pela Universidade Estadual da Carolina do Norte, nos EUA, mostrou que as crianças estão prestando atenção nas conversas e hábitos financeiros, mesmo quando os adultos pensam que não estão.
Se você não estiver conversando com seus filhos sobre dinheiro, eles tirarão suas próprias conclusões, mesmo que equivocadas.
2. O exemplo arrasta
Como já mencionei, conversar de forma leve e positiva sobre dinheiro com as crianças é essencial, mas de nada adianta se seus comportamentos não combinam com o que você fala. Se você não se organiza, vive com problemas e briga com seu cônjuge sobre grana, a criança vai absorver.
Você pode falar o quanto quiser, ela não vai fazer o que você diz se você também não faz.
3. Quando começar?
Essa é uma dúvida recorrente e a resposta é simples: quanto mais cedo melhor. Uma criança de 3 anos já entende que o dinheiro vem como fruto do trabalho. Também sabe que é necessário cuidar das coisas, como dos seus brinquedos. Uma criança de 5 anos consegue diferenciar valores e entende que no mercado quando se dá mais dinheiro para o caixa recebemos de volta o troco. Nessa idade já podemos ensinar a criança a fazer escolhas. Aos 8 anos ela já possui conhecimento matemático para fazer contas de adição e subtração – e consegue até entender uma planilha básica.
4. Educação é repetição
Falar confortavelmente sobre dinheiro precisa acontecer de forma rotineira. Os assuntos financeiros surgem a todo momento – aproveite e fale abertamente sobre economizar para as férias, trocar de carro ou planejar a faculdade.
Inclua seus filhos nas decisões básicas. No supermercado podem ver o que está em promoção antes de decidir o que comprar e definir um orçamento limite antes de sair. Você pode pedir que a criança ajude a família a cumprir o orçamento.
5. E a mesada?
Uma das maneiras mais comuns de apresentar às crianças a ideia de gastos responsáveis é dando uma mesada. O quanto você dá depende de você – qualquer valor pode ser uma ótima maneira de ensinar o básico sobre dinheiro para as crianças. Evite dar um valor muito alto, mesmo que sua renda permita. A ideia principal é educar os seus filhos a saberem esperar, poupar, fazer escolhas. Para isso é importante que ela demore um tempo para comprar algum brinquedo, por exemplo.
6. Converse sobre sonhos
A próxima coisa a se pensar quando se trata de mesada é como eles vão gastar o dinheiro. É aqui que você pode começar a introduzir lições sobre orçamento, economia, e controle de impulsos, por exemplo.
Converse com seus filhos sobre o que eles gostariam de fazer com o dinheiro. Um filme no cinema, um brinquedo e uma viagem para um parque de diversões podem ser sonhos de curto (algumas semanas), médio (alguns meses) e longo prazo (até cerca de 1 ano). Importante ressaltar que os prazos para uma criança são diferentes de um adulto.
7. Deixe-os cometer erros
No final das contas, uma das partes mais difíceis de ensinar as crianças sobre dinheiro é que elas inevitavelmente vão cometer erros, e esses erros de julgamento resultam em perdas financeiras reais e tangíveis. No entanto, é importante dar às crianças espaço para testar certos comportamentos e aprender com as consequências.
THIAGO GODOY é Head de educação financeira da XP Inc., Colunista do Infomoney e professor na XPEED School. Acredita que todos podemos melhorar nossa relação com o dinheiro e que esse assunto precisa ocupar a mesa de jantar dos lares brasileiros. Seu TEDx fala sobre Ansiedade Financeira. No Instagram, também fala sobre educação financeira, com uma pegada mais voltada às famílias, no perfil @papaifinanceiro.
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