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Planejamento financeiro é sinônimo de liberdade
Julian Myles | Unsplash
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Gabriela estava exausta. São dois anos de pandemia fazendo malabarismos diários para rodar os pratinhos do trabalho em home office e da mãe de duas crianças pequenas em período integral.

A ansiedade acumulada desde o início dessa temporada se somou ao medo do vírus e da futura situação financeira. A rotina exaustiva de reuniões em duas dimensões transformou a tela daquele computador em uma fonte de sofrimento.

Sofrimento físico e emocional

A Gabriela de 2022 trabalhava mais horas, dormia menos, não se exercitava e comia chocolates e biscoito recheado durante as tardes. O sobrepeso de 2020 se transformou em obesidade em 2022. Algo que a incomodava profundamente.

O fato de não estar presencialmente no escritório gerava angústia, como se os superiores viessem a pensar que ela não estava trabalhando o suficiente. Para compensar esse medo de perder o emprego, Gabriela estava imediatamente pronta para responder a qualquer demanda. Não havia mais horário para o trabalho.

Na realidade, o trabalho e a vida pessoal se transformaram em uma coisa só. Trabalhava durante o café da manhã e depois do jantar. Respondia e-mails e mensagens do trabalho aos finais de semana.

Com o medo do vírus e da grana encurtar, tiveram que dispensar a empregada. O marido, que trabalha na indústria, pouco ficou em home office. Logo retornou às atividades presenciais, o que fez Gabriela estar sozinha com os dois pequenos em casa.

A renda do casal era suficiente para custear uma vida confortável. Viviam em um bom apartamento, tinham dois carros e longas viagens para o Nordeste eram normais nas férias.

Planejamento é a chave

A falta de planejamento financeiro da família ficou nítida quando o medo de perder o emprego apareceu. Mesmo com essa boa renda, os dois nunca tinham se preocupado em poupar e investir, nem ao menos formar uma reserva para imprevistos.

Para reverter essa situação, decidiram vender um dos carros – afinal Gabriela praticamente não saia de casa – e começaram a economizar ao máximo. Como resultado, nos últimos dois anos conseguiram poupar um valor razoável para imprevistos.

E essa foi a salvação de Gabriela. A folga financeira que construíram nesse período foi determinante para Gabriela tomar a decisão de pedir demissão desse emprego que já não fazia mais sentido para a vida dela.

Gabriela estava exausta e tomou o melhor caminho que tinha disponível.

Gabriela não está sozinha

A história de exaustão de Gabriela é a história de milhares de brasileiros nestes primeiros meses de 2022. Uma pesquisa realizada pela plataforma de saúde emocional Zenklub e conduzida pelo Instituto Datafolha avaliou o impacto da pandemia na saúde mental do trabalhador brasileiro.

Foi identificado que 6 em cada 10 brasileiros se sentiram sobrecarregados nos últimos 12 meses. O percentual de mulheres que se sentiram sobrecarregadas nos últimos 12 meses foi ainda maior, de 68%, enquanto dos homens foi de 56%.

A história de exaustão de Gabriela é a história de muita gente, mas infelizmente foram poucas as famílias que conseguiram construir alguma reserva financeira para emergências. Não há dúvidas de que as finanças pessoais ruíram nesses dois anos de domínio da covid-19.

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Um novo olhar para o trabalho

No entanto, a visão das pessoas em relação ao trabalho também mudou consideravelmente. Para os que possuem filhos então, as mudanças foram ainda maiores. Uma outra recente pesquisa realizada pela consultoria McKinsey nos EUA descobriu que nos últimos meses profissionais que possuem filhos estão mais propensos a deixarem seus empregos do que os seus colegas que não possuem filhos.

E um dos principais motivos é estarem exaustos em conciliarem trabalhar em casa com as responsabilidades de cuidar dos filhos. Os pais estão procurando oportunidades de trabalho mais flexíveis, muitos estão empreendendo e uma grande parte está buscando empregos temporários.

A pesquisa mostra que os problemas “normais” que muitos profissionais enfrentam – como não se sentirem valorizados pela empresa ou pela liderança, não terem aquele sentimento de pertencimento à empresa e não terem um bom equilíbrio entre vida profissional e pessoal – afetam profissionais com filhos e os sem filhos.

Porém, existem fatores-chave que contribuem para a saída dos pais que são únicos. A pesquisa identificou que, das mais de 20 possíveis razões dadas para deixarem o emprego nos últimos seis meses, os pais citaram “cuidar da família” como uma das cinco principais razões, enquanto os profissionais sem filhos citaram a família perto do final da lista, no número 18.

Repensar nossa relação com o dinheiro

Gabriela estava exausta por não conciliar o emprego com a família. Mas a situação poderia ser diferente. Por isso, deixo aqui algumas perguntas para reflexão:

  • Se ela e o marido não tivessem feito uma reserva financeira, Gabriela conseguiria continuar naquela situação?
  • Que tipo de problemas ela poderia ter sucumbido se continuasse?
  • O quanto a empresa perdeu por não reter uma profissional dedicada e produtiva como Gabriela?

Uma coisa é fato, nesse novo mundo que se apresenta, as empresas estão reconhecendo a realidade: não importa o quão dedicados sejam aos seus empregos, os indivíduos são mais do que funcionários, são pessoas.

Os pais precisam cuidar de seus filhos, os filhos adultos precisam cuidar dos pais idosos, e todos nós precisamos cuidar de nossa própria saúde e bem-estar.

Leia todos os textos da coluna de Thiago Godoy em Vida Simples.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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