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Essa família endividada se parece com a sua?
Annika Gordon | Unsplash
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Nosso colunista especialista em educação financeira, Thiago Godoy, traz uma história que poderia ser a de qualquer um de nós: pertencer a uma família endividada. E, muito provavelmente, se não igual (alguns valores podem variar), é bem parecida com o que muito vivem. Fazendo um paralelo com os dados oficiais que o próprio Thiago apresenta, pelo menos 7 em cada 10 leitores deste texto estarão com uma situação semelhante à da família que vamos conhecer a seguir. 


Essa é a história de uma família endividada. Afinal, quantas famílias você conhece nessa situação?

No Brasil, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), 77,5% das famílias estão endividadas, o maior valor no índice nos últimos 12 anos.

A história da família Oliveira pode ser até bem parecida com a da sua família.

Um casal e três filhos

Elisa e Guilherme se conheceram durante a faculdade de engenharia e, assim que iniciaram a vida profissional, decidiram juntar as escovas de dentes. Se casaram há 11 anos e tiveram 3 lindos filhos.

O Guilherme trabalha como engenheiro de sistemas em uma empresa multinacional. A responsabilidade dele é até maior do que o salário que pagam, por volta de R$15.500. Hoje, essa é a renda total da família. Mas não era assim.

Quando chegou o terceiro filho, o casal teve que tomar uma decisão. Elisa também trabalhava como engenheira, mas como sua renda era menor, decidiram que ela ficaria em casa cuidando da família.

Mas, para entendermos as razões pelas quais a família Oliveira ficou endividada, teremos que voltar cinco anos.

Como a dívida começou

Em 2017, Elisa e Guilherme trabalhavam e tinham uma renda conjunta de cerca de R$35.000. Na época, com apenas um filho, o casal podia se dar ao luxo de ter uma empregada e uma babá em tempo integral. Colecionador de bons vinhos, Guilherme gostava de levar a família em restaurantes badalados e viagens para diferentes destinos. Era uma vida confortável, sem espaço para preocupações com o futuro.

O casal estava financiando o apartamento que moravam em longos 30 anos e parcelaram dois carros, sendo um deles importado. Entre custos fixos e variáveis, gastavam tudo o que ganhavam.

Como planejado, Elisa engravidou do segundo filho, mas, quando retornou da licença maternidade, foi demitida. A renda caiu drasticamente por alguns meses e, como não tinham uma reserva de emergência, tiveram que vender um dos carros na pressa, por um preço inferior ao valor do mercado.

Alguns meses depois, Elisa conseguiu outro emprego, com um salário metade do anterior. Mesmo com a queda na renda, o casal não renunciou aos luxos que já faziam parte da rotina.

Eis que, alguns meses depois, são atingidos por outra surpresa: a gravidez do terceiro filho. Logo que ele nasceu, perceberam que seria inviável, com a renda que dispunham, manter a estrutura de babás e empregadas. Foi aí então que Elisa então pediu demissão para ficar cuidando dos 3 filhos.

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Mais imprevistos no caminho

Para piorar a situação, a empresa que Guilherme trabalhava descontinuou sua operação no Brasil, o que o deixou desempregado e o forçou a aceitar a primeira oportunidade que apareceu. Com mais uma queda abrupta na renda, de R$ 35 mil a família passou a ter R$ 15.500. Não é pouco dinheiro, mas certamente era um valor muito inferior ao custo de vida da família. Com o terceiro filho, os custos ficaram ainda mais elevados e a situação chegou ao limite.

Elisa já havia sinalizado em tempos anteriores que a família deveria reduzir o padrão de vida, que a renda não permitia que vivessem mais daquela maneira. Mas Guilherme não admitia essa situação. Para ele, reduzir o padrão de vida significava uma grande derrota.

Ele foi criado em um meio onde se mostrar bem-sucedido é importante. Onde ter um carro importado é sinônimo de ter vencido na vida.

Para Guilherme, seria impensável regredir no padrão de vida e, por isso, mesmo vendo sua renda diminuir e seus custos aumentarem, manteve essa vida a custo de empréstimos. Em poucos meses, as dívidas e seus juros começaram a se acumular.

E o pior de tudo foi que Guilherme não contou à Elisa sobre os detalhes desses empréstimos. Ela não faz ideia de que o marido deve mais de R$300 mil e que o apartamento deles está em risco.

Como consequência dessa situação, Guilherme não consegue dormir, vive irritado e preocupado, sua saúde mental está comprometida e ele se sente em um beco sem saída. O engenheiro não consegue mais encarar o problema e vive em um estado de negligência.

Até onde você acredita que esse problema pode chegar?

Guilherme sofre de ansiedade financeira, uma realidade que afeta cerca de 77% dos adultos no Brasil, segundo dados de uma pesquisa recente realizada pela XPEED, braço educacional da XP Inc..

Essa ansiedade pode levar à “fobia financeira”, uma condição marcada pelo medo paralisante de lidar com dinheiro.

E o que causa tudo isso? Qual a razão de Guilherme esconder sobre os empréstimos, mentir para a sua família e a colocar em risco? Como uma pessoa chega a ter fobia financeira?

De forma geral, esses comportamentos nocivos são resultados de crenças que temos com o dinheiro, adquiridas sobretudo na infância.

A fobia financeira está relacionada às associações negativas com o dinheiro, independentemente da condição financeira que você viveu.

Você pode ter sido criado em berço de ouro, mas se a sua família brigava muito por dinheiro, você pode ter desenvolvido uma conexão traumática e inconsciente com ele.

Se seus pais estavam sempre preocupados e ansiosos com o orçamento doméstico, isso pode ter afetado como você lida com o dinheiro.

Se você foi criado(a) em um ambiente onde bens materiais são supervalorizados, você hoje pode dar uma importância exagerada a isso. Os padrões que nosso cérebro cria desde cedo se enraízam como crenças.

No caso da família Oliveira, o medo do julgamento de seus familiares e amigos impede Guilherme de admitir para si mesmo que seu padrão de vida precisa ser reduzido. Esse comportamento, que levou a família ao endividamento, aumentou ainda mais a ansiedade que ele tinha com o dinheiro.

Um comportamento de negligência da realidade que virou uma bola de neve e está prestes a arruinar a família toda.

Como parar a bola de neve

Então, o que fazer para combater essa situação? O primeiro passo é admitir que ela existe e encará-la devidamente. Parece óbvio e simples, mas tomar uma atitude e vencer a inércia é o maior passo a ser dado.

No caso dessa família, o primeiro passo de Guilherme é contar para Elisa o buraco onde estão enfiados. Mesmo que isso resulte em brigas e desespero, dividir o problema com ela vai aliviar o peso dele e dar a ela a oportunidade de ajudar.

Duas cabeças pensam melhor do que uma e, nesse momento, os dois precisam ser firmes para executarem um plano de emergência.

Renegociar as dívidas com os credores, vender e se desfazer de bens, cortar todo o orçamento ao máximo é o caminho que a família Oliveira precisa tomar nos próximos meses.

Com disciplina e, sabendo que essa é uma situação passageira, conseguirão enfrentar a tormenta juntos.

É tomando as rédeas e sendo líderes de sua jornada financeira que o casal vai conseguir sair das dívidas e alcançar seus sonhos.

Vamos conversar mais sobre como saber liderar sua relação com o dinheiro nos próximos textos.

Leia todos os textos da coluna de Thiago Godoy em Vida Simples.


THIAGO GODOY é Head de educação financeira da XP Inc., Colunista do Infomoney e professor na XPEED School. Acredita que todos podemos melhorar nossa relação com o dinheiro e que esse assunto precisa ocupar a mesa de jantar dos lares brasileiros. Seu TEDx fala sobre Ansiedade Financeira. No Instagram, também fala sobre educação financeira, com uma pegada mais voltada às famílias, no perfil @papaifinanceiro.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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