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O silêncio é o tradutor da alma: descubra o que ela tem a dizer
Velizar Ivanov
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Neste artigo:

O silêncio é o tradutor da alma e hoje vou explicar por que o vejo desta forma. Mas, primeiro, vamos entender o que há na outra ponta.

“Palavra” é um conjunto de sons articulados que expressam ideias. Ideias que são carregadas de crenças, valores e recortes da realidade. Perspectivas individuais de uma única realidade, frequentemente encharcadas de emoções e sensações. Terreno fértil para confusões, mal entendidos e achismos.

Em nossa fala, expressamos apenas parte do todo. Vemos e sentimos tudo em relação a uma situação, mas expressamos apenas parte dela. Não falamos tudo o que pensamos e sentimos. Muitas vezes, falamos aquilo que realmente não sentimos. Nossos estados mental e emocional são frequentemente instáveis e mutáveis.

Ao viver uma situação, em um minuto temos uma explosão de pensamentos e sensações, mas temos a capacidade apenas de dizermos 200 e poucas palavras no mesmo tempo. Portanto, estamos o tempo inteiro editando, escolhendo, deixando passar, criando resistências ou intensificando fragmentos das ideias que permeiam nossa cabeça e coração.

Muitas vezes não escolhemos as palavras: elas simplesmente saem, brotam, como extensões de um ou outro pensamento, em uma esteira ininterrupta de fragmentos.

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O poder e a impacto das palavras

Apesar de também evaporarem em um instante, as palavras podem ficar fixadas naqueles que as ouvem por uma vida inteira, como um eco presente. Temos a tendência a nos fixar nas palavras, mesmo sabendo que nossa percepção e estado mudam a cada segundo. Escrevemos com a intenção de capturar e eternizar um retrato momentâneo do que estamos pensando e sentindo.

Como lidar com essa panaceia de tantos dizeres, de tantas naturezas diferentes que coexistem dentro da gente? Como se expressar de forma mais pura e verdadeira, muito além da nata de confusão que encobre nossa mais pura expressão? Como evitar tantos desenganos?

É possível alinhar pensamento, sentimento e ação como um arqueiro sábio e consciente que se expressa de forma impecável, sem o pecado do engano?

É possível ouvir o que o outro diz em um canal, ler o que ele pensa em outro e sentir o que ele quer em um terceiro, como aquele que tenta capturar o indizível?

E se tivéssemos esse poder, qual expressão capturaríamos e assumiríamos como verdadeira?

Palavras versus ações

Seria a palavra menos importante do que a ação?

Se houvesse uma graduação de responsabilidade em que pudéssemos ser julgados por tudo que pensamos, sentimos ou fazemos haveria penas diferentes?

Aquele que diz que ama mas não demonstra amor é mais culpado do que aquele que não diz mas ama? Nesse mundo de tantos símbolos e signos, o que é mais importante: uma frase proferia ou uma ação feita?

Fazer é mais real do que pensar? E mais real do que sentir? Posso pensar e fazer coisas diferentes? Posso sentir e falar coisas diferentes? Sim, podemos. E frequentemente, vivemos isso.

A comunicação é um desafio

Reconhecemos essa bagunça no olhar confuso do nosso filho quando gritamos com ele por ter se posto em perigo, mas aliviados e felizes por ele estar bem. Quando negamos um convite para sair, quando tudo o que mais queremos é sair de casa. Quando dizemos para nós mesmos que ainda vale a pena insistir, quando a alma já sabe que não há mais nada a fazer ali.

Tantas e tantas confusões, naquele que é o maior desafio da humanidade: comunicação. Já dizia o cineasta e psicólogo chileno, Alejandro Jodorowsky,

“Entre o que eu penso, o que eu quero dizer, o que digo e o que você ouve, o que quer ouvir e o que você acha que entendeu, há um abismo”.

Quanta confusão! Quantos enganos!

Quantas famílias desagregadas, amizades desfeitas, relações interrompidas, oportunidades perdidas e guerras deflagradas que poderiam ter seguindo um caminho diferente se fossemos mais preparados na arte de se expressar.

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Silêncio. Respiração consciente. Quietude.

Pensar antes de falar. Deixar que as ideias passem por sua cabeça e se assentem, como areia que desce ao fundo do pote e permite que a água se separe e surja límpida e transparente.

Frear a emoção. Interromper a reação. Calar o desejo de se comunicar sem direção.

Quando não saber o que dizer, não diga.

A expressão da verdade interior através do silêncio

De um lugar de mais calma, podemos nos conectar com o que verdadeiramente sentimos para nos expressarmos de uma forma mais pura e cristalina.

E essa expressão normalmente se apresenta sem a necessidade de muitas palavras ou explicações.

Nossa verdade é tão forte que não precisa ser muito explicada ou elaborada. Ao nos silenciarmos um pouco antes de falarmos, ativamos o tradutor da alma. Aquele instrumento que nos ajuda a perceber o que realmente sentimos e queremos transmitir.

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*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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