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O que você oferecerá para o Ano Novo?
Craig Boudreaux
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Há duas catástrofes na existência, dizia George Bernard Shaw: a primeira é quando nossos desejos não são satisfeitos; a segunda é quando são. Nesta linha, a época de final de ano costuma ser marcada por uma certa ambivalência: por um lado, a exaustão, ansiedade e até desespero. Por outro, há o cultivo de uma esperança impensada e romântica, baseada na ideia de que o melhor está por vir (no ano seguinte, claro). Parece que a vida, como aquelas clássicas fotos de “antes e depois”, se transformará magicamente. Mas será que estamos preparados para fazer acontecer essa magia no Ano Novo?

Podemos mudar as tradições de Ano Novo

Há alguns anos, uma amiga alemã que só se veste de preto veio passar o Réveillon no Rio, minha cidade natal. Na ocasião, ela planejava seguir o ritual turístico habitual de uma das cidades mais festivas, instagramáveis e mágicas do mundo: assistir à queima de fogos na praia de Copacabana. Tive de explicar que todos estariam vestidos de branco, implorando para que mudasse seu figurino gótico ao menos naquela noite. Ao convencê-la a comprar a contragosto uma roupa que jamais usaria de novo, me dei conta dos automatismos e manias que configuram essa espécie de loucura coletiva socialmente aceitável no final de todo ano.

Pensando hoje numa forma mais criativa – para além dos condicionamentos e clichés – para lidar com os impositivos rituais de final de ano, me veio à mente o livro “A felicidade, desesperadamente”, do filósofo André Comte-Sponville*. Dentre as várias reflexões riquíssimas deste ensaio atípico sobre felicidade, considera-se o valor do desespero – no sentido de des-esperar, parar de esperar – na nossa felicidade. Não seria mais rico ter coragem de não esperar nada, em vez de listar o que desejamos do Ano Novo? Indo além, que tal elencar o que podemos oferecer ao Novo Ano ao invés de pedir qualquer coisa?

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Não podemos esquecer nossos princípios

É sempre válido lembrar dos fundamentos que nos sustentam, que dificilmente serão abatidos, em momentos de desespero, quando a presença da esperança parece ingênua e pouco factível. O Brasil tem bases que deveriam nos deixar otimistas, mesmo que neste ano tenha sido fortemente assolado pelas mudanças climáticas, pela fome, pela violência e por tantos outros problemas (solucionáveis, por sinal). Somos uma potência criativa, hídrica, alimentar e energética, com enorme diversidade paisagística e cultural, e sem ameaças territoriais. Sobrevivemos à ditadura, à delirante tentativa de reestabelecê-la, e somos uma das maiores democracias do mundo. Há muito o que fazer, além de esperar, deste solo tão fértil.

O Ano Novo não está a um ritual ou a um número de distância. O Novo Ano vive em uma atitude mais conscienciosa, em que os protocolos se tornam obsoletos e a percepção se expande e amadurece.

Afinal, nada impede que o Réveillon se ancore num sentir mais autêntico – seja tristeza, alegria, e até euforia – e num alicerce onde a palavra ‘cura’, que está dentro de ‘loucura’, se revele. A etimologia de loucura inclui êxtase, entusiasmo e riso, interessantemente. Assim, talvez seja possível manter algum senso real de maravilhamento, integridade e sentido, mesmo em circunstâncias dramaticamente alteradas e incontroláveis.

A renovação é interna

A clássica história em que Ulisses amarrou-se no mastro para não sucumbir ao canto das sereias pode ser lida como um convite a nos atermos ao nosso mastro interior diante das tentações e tempestades. Surpreendentemente, a nossa verdadeira capacidade de renovação reside aí. Ao longo dos seis meses desta coluna, precisei me renovar com ou sem fôlego para tal.

Já que a realidade é holográfica, desenvolvi um ritual que passou a ser exportado para todas as áreas da minha vida. Os ingredientes foram 3Es: escolha, escrita e edição. Então a escolha do que tem significado, escrita do que oferta sentido, e edição em busca da lucidez, te levam na direção de colocar luz sobre o essencial. Como tem a palavra que a gente (acha que) escreve, e a que o Outro escuta (e também o que ele faz com isso), questiono: o que você irá escolher, escrever e editar em 2024?

Até a próxima – assim espero, ou desespero. A escolha é minha. É nossa.

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