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O que fazer para se sentir suficiente?
Annie Spratt | Unsplash
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Quando acreditamos que não somos bons o suficiente, que o outro sempre tem algo melhor a oferecer ou que alguma coisa em nós está constantemente faltando, é preciso ligar o botão de alerta e olhar para essa crença com muito cuidado.

Logo que me mudei para a Tailândia (há três anos), comecei a dar aulas gratuitas de yoga. Estava muito entusiasmada com a possibilidade de compartilhar e aperfeiçoar minha nova habilidade recém-adquirida na Índia. Então, um dia, fui convidada para dar uma aula na praia, em um lugar que adorava.

Aquela seria minha primeira experiência como professora naquele lugar. Para minha surpresa, assim que cheguei ao local, vi o outro professor que frequentemente dava aulas por lá. E que, no meu julgamento, era MUITO competente. Mas… Ele não daria aula naquele dia.

“O que ele estava fazendo ali?”, me perguntei. E em segundos a ficha caiu. “Oh, não! Ele veio participar da aula. Da MINHA aula!”. Naquele exato momento, meu ser, que ainda estava aprendendo a sustentar minha nova oferta como professora de yoga, vacilou. E fui para um lugar já conhecido de medo. Perigo!!! Perigo!!!

Assim, a primeira saída que encontrei para cuidar daquela “ameaça”, foi oferecer ao professor o espaço para conduzir a aula. Porque, afinal, como eu(zinha!) poderia dar uma aula para ELE que praticava e ensinava yoga há mais de 20 anos? (Viram a comparação e a diminuição automática do meu ser?). Obviamente que minha estratégia de fuga fracassou. Ele disse “Não”. Tinha ido lá para fazer uma aula, como aluno. Queria receber, desfrutar. E tinha todo o direito!

Para “melhorar” ainda mais minha situação, um outro professor, que eu nunca tinha visto por lá, também resolveu aparecer. Que maravilha, não é mesmo?! A vida sempre dá um jeito de nos ajudar a praticar aquilo que precisamos aprender. Pois bem… Sem outra saída, tive que dar as mãos à minha coragem e enfrentar o desafio.

Depois de alguns minutos de aula e um belo pranayama (exercício de respiração), consegui me reconectar com o meu centro. E aquela sensação de insegurança e insuficiência se dissipou.

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A crença na insuficiência

Nos atendimentos terapêuticos que faço, essa tal insuficiência quase sempre aparece nas histórias que as pessoas me contam. Ela está presente nas situações cotidianas, impedindo ou dificultando que cada um se lance na vida com aquilo que JÁ possui. Com tudo que já têm dentro de si. E é lógico que comigo não é diferente. A única vantagem é que já conheço bem essa armadilha.

Sabe qual é o grande problema de crenças como essa de “não sou boa, não sou bom o suficiente”? É que se não tivermos consciência que isso é apenas um julgamento, corremos o risco de internalizá-la como uma afirmação. Como se fosse uma verdade absoluta que constitui quem somos.

Isso é muito perigoso, porque pode nos levar a desistir de oportunidades preciosas na vida. Algumas vezes, sem nem sequer tentar. Pois dado quem julgamos ser (não bons o suficiente), acreditamos que não vamos conseguir.

Podemos, por exemplo, evitar concorrer a uma vaga melhor no trabalho, por acreditarmos que outras pessoas são mais capazes do que nós. Podemos fugir de um relacionamento, por julgarmos que não estamos à altura da outra pessoa. E infelizmente, na cultura de comparação em que vivemos, essa cilada é muito comum.

Não quero dizer com isso que não precisamos nos dedicar a aperfeiçoar alguma habilidade, se essa for a real necessidade. Ou tentar, com mais afinco, conquistar determinada coisa. O que quero alertar é sobre o perigo de vivermos presos a essa crença na insuficiência.

A ideia de insuficiência pode passar a ser um juízo mestre, que permeia todas as áreas da nossa vida. E pode causar profundo sofrimento, se permitirmos que ela nos conduza.

Como diz Daniel Santos em seu livro Coherence: “a constante narrativa de que algo está faltando torna impossível celebrar as conquistas, experimentar alegria e apenas viver no momento presente”.

Aprendendo e ensinando

Somos todos aprendizes nessa vida. Sempre seremos. E está tudo certo! Mas somos mestres também. E vivemos nessa dança de “ensinagem, na qual estamos, o tempo todo, aprendendo e ensinando, uns aos outros.

Ao refletir sobre a experiência que compartilhei no começo desse texto, me conectei com a beleza da oferta que somos todos nós. Com tudo aquilo que cada um carrega dentro de si, que já sabe. Independente daquilo que ainda pode aprender.

No final da aula, o professor que eu admirava, me disse: “Foi muito bom relembrar a base de tudo. Obrigado!”. Ele também ganhou algo naquele dia. Todos ganhamos!

Reconheço na carne a crença que carrego comigo, que somos todos mestres e aprendizes. Minha filhinha, de quase 2 anos, mesmo sem saber, me mostra isso todos os dias.

Acredito, verdadeiramente, que estamos todos a serviço de algo maior. Mas, para que isso realmente aconteça, precisamos ter coragem de honrar quem somos e o que damos conta de oferecer. Hoje mesmo! E então sentir, no mais íntimo do nosso ser, naquele lugar silencioso e sagrado, que isso já é SUFICIENTE.

Leia todos os textos da coluna de Luana Fonseca em Vida Simples.


LUANA FONSECA (@almapelomundo) é terapeuta e e coach ontológica, autora do livro “Pode ser melhor” (Bambual Editora) e faz atendimentos a distância. A maternidade a tem ajudado a lembrar que o que ela tem a oferecer já é suficiente.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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