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O poder das emoções nas idas e vindas do câncer de mama
A ciência comprova: as emoções são poderosas no tratamento e na cura do câncer de mama
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As emoções influenciam diretamente nossa saúde física, podendo contribuir para o desenvolvimento de doenças graves, como o câncer de mama.

A ciência tem mostrado que emoções desreguladas e estresse crônico criam um ambiente propício para doenças. Neste texto, exploro como o equilíbrio emocional pode ajudar a prevenir e tratar o câncer, especialmente o de mama. Escrevi as linhas abaixo com base em pesquisas científicas, minha experiência profissional e jornada pessoal.

A relação entre emoções e saúde física

O estresse crônico, tão comum na vida moderna, é a ativação constante do sistema de resposta ao estresse, conhecido como mecanismo de luta ou fuga, mediado pelo eixo HPA.

O eixo, que é a sigla para hipotálamo, pituitária e adrenal, é formado por esses três órgãos que interagem e assim controlam as reações ao estresse, além de regular processos corporais como digestão, respostas do sistema imunológico, sexualidade, humor e emoções, e a alocação do gasto de energia.

Em outras palavras, o estresse crônico acontece quando uma pessoa vive em um constante estado de alerta. Esse mecanismo de luta ou fuga desencadeia a liberação de hormônios como adrenalina e cortisol.

A adrenalina prepara o corpo para reações rápidas, aumentando a frequência cardíaca e a pressão arterial. Já o cortisol, que tem propriedades anti-inflamatórias em situações agudas, quando liberado em excesso e de forma contínua, como no estresse crônico, pode ter o efeito oposto, promovendo inflamação no corpo.

Quando o alerta está ligado o tempo todo

Embora seja uma resposta útil em situações agudas, torna-se prejudicial quando o estresse é prolongado. Esse estado de inflamação crônica cria um ambiente propício para o desenvolvimento de várias doenças, incluindo tumores malignos, ao alterar o microambiente celular e enfraquecer o sistema imunológico.

Em um estado de inflamação contínua, o sistema imunológico pode se tornar menos eficaz, falhando em identificar e combater células anômalas, como as malignas, favorecendo o crescimento de tumores.

Pesquisas recentes reforçam esse entendimento. Um estudo de 2023, publicado na Frontiers in Immunology, revelou que o estresse crônico não apenas promove a inflamação, mas também desempenha um papel direto no crescimento tumoral, evidenciando a profunda conexão entre o estado emocional e a saúde física.

Quando eu tive câncer de mama

A minha jornada com o câncer de mama começou em 2013, quando eu tinha 31 anos e me preparava para engravidar. Estava imersa em um estresse crônico severo, com uma pangastrite e tomando remédio para dormir.
Eu administrava uma empresa internacional com diversos fusos horários e sentia a responsabilidade de estar sempre disponível.

O meu corpo estava enviando sinais claros de exaustão, e o burnout havia se instalado. Mas eu não conseguia associar esses sintomas ao impacto profundo que eles estavam causando em mim.

O meu lema era “mente sobre o corpo”, acreditando que isso significava ser forte. Só depois do diagnóstico de câncer é que percebi como as minhas emoções e o meu estresse crônico tinham contribuído para a minha doença.

Uma carta para a liberdade

O diagnóstico chegou para mim como uma uma carta, que validou que eu finalmente me permitisse parar e descansar.

Ao sentir isso e perceber o quão disfuncional era este pensamento, compreendi que algo precisava mudar dentro de mim.

Comecei a estudar, a pesquisar, a perguntar, a formar-me, a guiar outras mulheres e não parei mais.

A importância do manejo do estresse é, hoje, amplamente reconhecida pela ciência. Um estudo recente, publicado na Annals of Behavioral Medicine, explora a ligação entre estresse psicológico, função imunológica e o desenvolvimento do câncer de mama.

O estudo sugere que o manejo eficaz do estresse é um apoio fundamental tanto para a prevenção quanto para o tratamento da doença.

Neurociência das emoções e do estresse

Depois de passar pela minha jornada pessoal com o câncer e de estudar intensamente a relação entre estresse e saúde, ficou claro que as emoções não afetam apenas a nossa mente, mas também o funcionamento físico do nosso corpo.

A neurociência tem mostrado como o estresse e as emoções influenciam diretamente o cérebro e o sistema nervoso.
O sistema límbico, que inclui a amígdala e o hipocampo, é a área que regula as nossas emoções.

Quando vivemos em estresse crônico, o hipocampo pode sofrer atrofia, enquanto a amígdala se torna hiperativa, aumentando nossa reatividade emocional.

Em vez de respondermos com clareza e consciência, acabamos reagindo impulsivamente, o que não só afeta a nossa saúde, mas também prejudica as nossas relações pessoais e profissionais.

A renomada neurocientista Dra. Carla Tieppo afirma que “é a emoção que nos diz quanto tempo uma memória deve durar”.

Ou seja, o modo como gerimos nossas emoções impacta diretamente como armazenamos as experiências.

Aprender a gerenciar essas emoções de forma eficaz pode colocar o sistema nervoso em um estado de equilíbrio, ajudando a promover nossa saúde integral.

Práticas para manter o equilíbrio emocional

Como já vimos, manter o equilíbrio emocional é essencial para a saúde. Não podemos esperar que o mundo ao nosso redor se adeque às nossas necessidades. Somos nós que precisamos nos adequar às nossas necessidades. E, para isso, é fundamental aprender a reconhecer e gerenciar as nossas próprias emoções.

Elas são informações valiosas. Mesmo as emoções de valência mais negativa têm algo a nos ensinar e não estão aqui para nos prejudicar.

Aprender a ter uma “conversa honesta” e consciente com as nossas emoções é o primeiro passo para transformar esse desequilíbrio em equilíbrio.

Depois de reconhecer as emoções, podemos aplicar estratégias eficazes para restaurar o nosso equilíbrio emocional. Aqui estão algumas práticas que podem ajudar:

1. Técnicas de respiração

Uma das minhas favoritas é a técnica 4-7-8 (inspirar por quatro segundos, reter o ar por sete segundos e expirar por oito segundos). Essa técnica ajuda a reduzir o estresse e promove um relaxamento profundo. A respiração deve ser feita pelo nariz e deve encher a barriga de ar, desacelerando a frequência cardíaca e trazendo uma sensação imediata de calma. É especialmente eficaz para momentos de ansiedade intensa e pode ajudar a adormecer mais facilmente;

2. Meditação

A prática diária de meditação não só melhora a resiliência emocional como também promove um autoconhecimento profundo. Ela traz inúmeros benefícios tanto para o bem-estar mental quanto para a saúde física, ajudando a nos manter mais presentes e conectados. Corpo e mente são um só;

3. Exercícios físicos

A prática regular de atividades físicas libera endorfinas, que elevam o humor e reduzem o estresse. Uma rotina que inclua exercícios de resistência muscular, atividades cardiovasculares e alongamento é essencial para o equilíbrio emocional e físico. Eu particularmente adoro combinar musculação, spinning e yoga;

4. Nutrição balanceada

A alimentação tem um papel importante na saúde mental e emocional. A neuronutrição, que estuda como os nutrientes afetam o cérebro, é um campo de estudo que merece atenção. Dietas ricas em antioxidantes, ômega-3, vitaminas do complexo B e magnésio promovem a saúde neural e ajudam a reduzir o risco de depressão e ansiedade.

Os benefícios das conexões na cura do câncer de mama

Além do autocuidado emocional e físico, as conexões sociais impactam significativamente nossa saúde. Manter relações sociais genuínas ajuda a reduzir o estresse, melhora o humor e fortalece o sistema imunológico. Quando nos sentimos conectados e apoiados, criamos um ambiente interno mais equilibrado e resiliente.

Por outro lado, a rejeição social ou a ausência de relacionamentos genuínos pode aumentar os níveis de estresse e inflamação no corpo.

Por isso, é essencial cultivarmos conexões que realmente nos nutram emocionalmente e nos ofereçam suporte em momentos de dificuldade.

Não se trata de quantidade, mas sim de qualidade. Portanto, valorize as conexões genuínas e cuide delas com o mesmo zelo que você cuida de sua saúde física e emocional.

Integração é a chave para a cura do câncer de mama

O equilíbrio emocional não só melhora a nossa qualidade de vida, como também desempenha um papel crucial na prevenção e no tratamento do câncer.

Compreender as interações entre o estresse, a inflamação e o câncer, nos permite adotar abordagens mais integradas, que combinem sobretudo os cuidados médicos convencionais com estratégias de gerenciamento emocional.

Tendo enfrentado um câncer de mama agressivo e convivendo com uma ansiedade basal, aprendi que manter uma rotina equilibrada e gerenciar as minhas emoções é fundamental para a minha saúde.

Compreendi por fim que o modo como vivemos, as nossas rotinas e como percebemos os desafios, são muitas vezes mais influentes na expressão de genes relacionados ao câncer do que os próprios genes em si.

Embora não possamos mudar a nossa genética, podemos influenciar como os nossos genes se comportam, criando um ambiente interno e externo mais favorável à cura e ao equilíbrio.

Essa compreensão reforça, dia após dia, a necessidade de uma abordagem integrada para o tratamento e a prevenção de doenças.

Uma abordagem mais humana sobre o câncer de mama

O meu trabalho visa preencher a lacuna na integração de cuidados emocionais e de construção de uma rotina de cura integral, no tratamento do câncer de mama, promovendo práticas que realmente podem melhorar a qualidade de vida de quem enfrenta a doença.

Além disso, essa abordagem também pode contribuir para a redução de custos para indivíduos, empresas, o SUS (Sistema Único de Saúde) e planos de saúde, tornando o tratamento mais eficaz e sustentável.

Atualmente, estou trabalhando em um livro que abordará esses temas em maior profundidade, oferecendo uma visão sobre como as emoções, o estresse e o estilo de vida influenciam a saúde.

O meu objetivo é mostrar como podemos construir uma verdadeira rota de cura integral, algo que venho comprovando ao longo de uma década de trabalho.

Acredito que a disseminação desse conhecimento pode transformar profundamente o cuidado com o câncer de mama, promovendo uma abordagem mais humana, consciente e integrada à saúde, indo além da “simples” cura da doença (como sintoma).

É importante lembrar que o cuidado emocional e o manejo do estresse são complementares ao tratamento médico convencional do câncer. Embora as emoções e o estilo de vida desempenhem um papel significativo em nossa saúde integral, eles não substituem as orientações e intervenções dos profissionais de saúde.

A abordagem integrativa busca unir práticas de autocuidado com o acompanhamento médico, promovendo uma rota de cura que contempla corpo e mente de maneira harmoniosa e eficaz.

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Vânia Castanheira (@minhavidacomigo) é medical & lifestyle medicine coach, mentora de saúde integral e pós-graduada em Neurociências do Comportamento. Autora de livros sobre câncer e burnout, ajuda mulheres a encontrarem equilíbrio físico, emocional e mental para viverem de forma plena e saudável. TEDx speaker. vaniacastanheira.com


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