O perigo por trás de sempre achar que está “tudo bem”
Agimos como se tivéssemos todo o tempo do mundo. Será que está tudo bem mesmo? Valorizar a vida pode nos ajudar a mudar esse comportamento.
Quem nunca sofreu por amor na vida? Uma paixão não correspondida. Uma mensagem que nunca foi respondida. Um adeus sem muita explicação. Uma história de amor que se acaba lentamente. Alguém que rompe de repente. Como esses percalços doem. E podem doer muito. Às vezes, a dor é dilacerante, como se o coração latejasse pausadamente. Em outros casos, parece que o coração desapareceu e só deixou para trás o buraco. Se você já viveu uma dor assim, sabe que em algum momento, ela vai diminuir. E na maioria dos casos, vai passar. Há dores maiores do que essas e que passam. Por que, então, as dores do amor também não passariam? Acho que todas as dores passam de certo modo. Todos nós encontramos uma forma de lidar com elas.
Mas isso não diminui o impacto que as perdas, rupturas e tragédias que nos acometem têm em nossas vidas. A partida de um ente querido, o desenlace de um grande amor, uma doença grave. Uma série de histórias que são interrompidas ou têm seus traçados completamente mudados quando algo triste ou totalmente inesperado e difícil acontece.
Eu sei que a vida é criativa e ela sempre encontra novos caminhos. Mas também é verdade que nem sempre os novos caminhos são tão bonitos ou interessantes como os que a gente já encontrou ou percorreu. Em alguns momentos, parece mesmo que a gente perdeu o bonde. A ideia de que as coisas sempre acontecem para o bem é difícil de compreender em sua totalidade. Outra ideia difícil de aceitar é que tudo vai ficar bem. Não, nem sempre vai ficar tudo bem, pelo menos na dimensão do tempo de uma única vida.
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O que falamos para nos sentir melhor
Muitas vezes, montamos frases feitas para apaziguar o que sentimos. Além das já conhecidas, Deus sabe o que faz, isso foi livramento, vai ficar tudo bem, há males que vem para bem, há também a necessidade frequente de racionalmente abafarmos nossa raiva, tristeza ou indignação, tentando justificar que não foi tão ruim assim e que tudo tem um lado bom.
Quando uma pessoa morre e a gente diz: ah, pelo menos descansou. Quando alguém fica muito doente, a gente diz: ah, mas a família vai se unir.
Vão, sim, é verdade. Mas, não deixa de ser ruim, difícil.
A dor não é fácil e nem simples, mas para sobreviver acreditamos que ela é terapêutica e serve a um propósito maior. Mas, será que sempre conseguimos aprender com ela?
Será que de fato conseguimos aprender com as dores que colecionamos ou temos uma capacidade muito pequena de absorver e entender o que se passou?
A vida exige atenção
Ao minimizarmos as dores que sentimos, sob a batuta de “vamos em frente”, perdemos a capacidade de nos comprometer com a própria vida e com nossos comportamentos e escolhas. Existem coisas que são sérias. Escolhas que mudam toda uma vida. Nesses casos, é preciso tomarmos consciência de que estamos diante de algo grande, que exige toda a nossa atenção.
A vida é curta. Muito curta. Oitenta, noventa anos. Com os afazeres, o trabalho e o sono no meio, sobra pouco tempo para de fato a desfrutarmos. Perdemos pais, avós, amigos, oportunidades, amores e, mesmo assim, acreditamos que ainda temos tempo. Tempo para consertar. Tempo para pegar outro bonde. E outro, e outro. Mas será que temos tanto tempo assim? Uma quantidade de tempo tão grande, que justifique muitas vezes a nossa falta de sensatez, cuidado e atenção – para com os outros e com a gente mesmo?
Não deixemos que as coisas importantes simplesmente se percam. Não as deixemos para lá. Não sejamos descuidados ou displicentes. Por isso, o que dá para consertar, conserte. O que dá para perdoar, perdoe. Se der para sorrir, sorria. Se der para abraçar, abrace. Se der para sair mais cedo do trabalho, só para fazer um cafuné e uma surpresa boa, faça. Não se demore para ser a expressão do amor. Não se demore para ser gentil, cuidadoso, fraterno. Por outro lado, não se demore, onde não houver nada disso.
Então, não perca tempo em trabalhos que não te fazem feliz, em relações que não te fazem bem, em amizades que drenam sua energia, em trânsitos intermináveis, em voos que estão sempre atrasados, em objetivos vazios, em corridas malucas.
Será que tudo está bem mesmo?
Pare de achar que está tudo bem. Às vezes, não está tudo bem. Você é que talvez tenha se acostumado. Mas, a gente pode tentar fazer algo para mudar, melhorar. Aliás, essa é a única coisa que está sob nossa responsabilidade. As escolhas que fazemos, dia após dia. Essa é a parcela da história que não dá para deixar fluir ou deixar rolar. Também não dá para terceirizar para a vida ou para o Grande Um. Somos diretamente responsáveis pelo nosso bem. Não adianta achar que as coisas se organizam ou resolvem por obra divina. Sabemos tão pouco sobre os planos de Deus. Temos tão pouca consciência sobre seus desígnios. Temos que trabalhar na direção do nosso bem-estar todo dia, incansavelmente, já que o jogo não está ganho ainda.
Mesmo quando estamos pedidos, confusos ou sem saber o que fazer, podemos fazer. Mesmo que a gente não saiba qual caminho seguir, a gente pode pedir ajuda. Quando me sinto assim, coloco meu presente e minhas dores aos pés do altar do criador e peço para Ele me iluminar, proteger e abençoar. Ele cuida de mim. É provável que cuide de mim, mesmo que eu não peça. Mas, eu peço. Essa é a minha parte. Essa sou em ação, mesmo quando não sei o que fazer. Essa sou eu, dizendo: entendo a importância da vida, valorizo minhas relações e percebo o quanto tudo isso é sagrado.
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