O medo de mudar e a coragem de seguir um novo caminho
É preciso coragem para deixar para trás uma história e se reinventar. Mas isso é dar voz aos desejos do coração

Eu tenho, você tem, todos nós temos. O conforto às vezes engana, mascara e distorce a visão. “Estou bem, conquistei tudo que eu sonhei, tudo está no lugarzinho certo, não vamos mexer em nada. Vamos ficar aqui quietos, imóveis, seguros. Ninguém dá um pio!” Já cheguei a pensar assim. Tenho uma carreira felizmente bem-sucedida e até curiosa. Comecei vendendo cachorro-quente na rua e também fui a primeira chef do Palácio da Alvorada. Comandei a cozinha presidencial no mandato do Fernando Henrique Cardoso por sete anos.
Depois me mudei para o Rio de Janeiro e abri meu primeiro restaurante, o Roberta Sudbrack. RS para os íntimos. Foram 12 anos de sucesso e muitos prêmios. Ganhamos estrela Michellin e estivemos entre os dez melhores restaurantes da América Latina na prestigiosa lista do 50th best. No ano seguinte, fui eleita a Melhor Chef da América Latina pela revista britânica Restaurant, uma das mais celebradas na cena da gastronomia mundial.
Tudo estava aparentemente confortável. Aos olhos dos outros, pelo menos. Dentro de mim eu já vivia um grande desconforto. Uma enorme vontade de reescrever os próximos capítulos da minha história. Muitos me tacharam de louca – e cheguei a ser xingada pelos que não tinham alcance para enxergar lá na frente. Fechei o Roberta Sudbrack no seu auge. Mas estava na hora de deixar tudo que reverberava dentro de mim se expressar. E, para isso, era preciso ter coragem para mudar.
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Mudei. Não foi fácil. Abri um restaurante muito mais simples, descontraído, acessível e condizente com o que eu acreditava ali. Sem placa na porta, difícil de encontrar e com um nome que não quer dizer nada e ao mesmo tempo quer dizer tudo: Sud, o pássaro verde. O conteúdo se manteve fiel à minha filosofia: trabalhar junto aos pequenos produtores. Respeitar a sazonalidade. Ouvir a natureza. E, acima de tudo, trabalhar e viver com mais leveza e liberdade. Ah, e antes que eu me esqueça: escutar mais barulho e mais gargalhadas no salão!
A coragem de mudar também me fez voltar a ser criança junto às minhas panelas. Dessa maneira, eu reencontrei o prazer em cozinhar. Repensei conceitos. Me libertei. E, ao me libertar, consequentemente libertei o meu cliente. Hoje, ouvir o barulho da conversa alta no salão, as gargalhadas e a alegria sem regras, me faz mais cozinheira do que jamais sonhei ser.
ROBERTA SUDBRACK (@robertasudbrack) é uma cozinheira inquieta e contadora das histórias dos ingredientes invisíveis e dos pequenos produtores de todo o Brasil.
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