Nada é por acaso: uma história sobre a importância das conexões
Você acredita em coincidências? Era fim de semana e um evento poderia fracassar. De última hora surge uma inscrição salvadora. Confira essa história.
De vez em quando você toma decisões e não sabe explicar bem o motivo. Na hora oportuna, do jeito certo, no local apropriado, assim, do nada, vai e faz. Depois fica pensando: como fui ter essa ideia? Embora não saiba a resposta, estou convencido de que nada é por acaso.
No início dos anos 1980 ocorreu um fato que foi providencial. Nós costumávamos ministrar cursos nas mais diversas localidades do país. Um dia pensei: puxa, essas pessoas que passam pelo nosso treinamento desaparecem. Seria interessante ter um registro desse pessoal.
Alguns dados
Resolvi preparar umas fichas simples, apenas para registrar o nome, endereço, telefone, local de trabalho e o cargo. Inauguramos esse procedimento com uma companhia do Polo Petroquímico de Camaçari, na Bahia. O evento foi realizado em um hotel em Salvador. Foram duas turmas, a primeira na quinta e sexta-feira, a segunda no sábado e domingo.
Na primeira estava o diretor de RH e outros profissionais que ocupavam postos elevados na hierarquia da organização. Um sucesso! No final, o responsável pelos Recursos Humanos foi efusivo em seu depoimento. Disse que nunca havia participado de um curso de tamanha qualidade. Estava impressionado em ver como todos passaram a falar com desembaraço e competência.
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Uma nova turma
Em seguida, recebemos a segunda turma. Um dos exercícios exigia envolvimento intenso dos participantes. Era um recurso para destravar as amarras da comunicação. Sempre repetíamos essa dinâmica e o resultado era ótimo em todas as ocasiões.
Um dos alunos, que atuava na área de treinamento, talvez preocupado em preservar a própria imagem, se mostrou resistente. Estávamos acostumados com esses episódios. Como a sua função era também a de ministrar cursos para os empregados da empresa, ficou com receio de se expor e se mostrar fragilizado. Tentei todas as formas para envolvê-lo. O sentido de autopreservação dele, porém, falava mais alto.
Faz parte do trabalho
Como também ocupava a função mais importante no grupo, havia o risco de que o seu comportamento contaminasse os outros. Para não demonstrar que a insegurança era só dele, passou, sutilmente, a tentar convencer outros colegas. Contornar essa situação faz parte do nosso trabalho.
A experiência mostra que os mais refratários acabam por se tornar depois os mais participativos. Em um treinamento de apenas dois dias, todavia, era muito arriscado. Perder tempo nessa tarefa de afastar resistências infundadas, talvez pudesse prejudicar o resultado.
Todos os argumentos
A cada tentativa de explicar o método utilizado ele ficava ainda mais na defensiva. Era só começar a conversa que nos interrompia e alegava ser psicólogo e, por isso, não concordava em participar. Os outros não apoiavam seus comentários, e já se mostravam incomodados.
Como seria possível resolver o transtorno mais rapidamente? Até àquela data sempre tínhamos tido êxito em contornar esse tipo de situação.
Na verdade, era até um prazer vencer esses desafios. O maior elogio que um professor pode receber é o de ser contratado novamente. E era sempre assim. Todas as empresas que recorriam ao nosso treinamento voltavam a nos procurar para novas turmas. Para dar ideia, só em uma grande organização financeira, ministramos mais de 60 cursos, com 20 participantes cada um.
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Ótimas avaliações
Uma que posso citar o nome, a CST (Cia. Siderúrgica de Tubarão), hoje ArcelorMittal, em Vitória ES, nos contratou para 51 cursos. No final do trabalho, recebemos o resumo das avaliações de todas as turmas, e um comentário adicional: foi a melhor avaliação feita para todos os cursos que ministramos até hoje na empresa. Dou esses exemplos para mostrar que a rabugice do aluno vinha de águas profundas.
Aquela experiência não seria a exceção. De que outros argumentos eu poderia lançar mão? Tive uma ideia para abreviar essa quebra de barreira. Por ser final de semana, não havia ninguém na empresa.
Graças às fichas com o registro dos alunos, tínhamos ali o número do telefone residencial do diretor de RH. Naquela época não havia telefone celular. Ele mesmo atendeu, Dei uma rápida explicação sobre o que estava acontecendo. Se ele pudesse repetir o depoimento que havia dado, talvez nos ajudasse. Imediatamente se prontificou a ir até o hotel e atender ao meu pedido.
Repetiu o depoimento
Assim que chegou, pediu a palavra e foi para a frente do grupo. Cumprimentou a todos pela iniciativa de desenvolver uma habilidade profissional tão relevante e falou dos resultados obtidos pelos diretores. Assim, sem fazer defesa ou algum tipo de crítica refutou as possíveis objeções.
Deixou claro que os exercícios propostos mostrariam sua eficácia no final. Ele se despediu e deixou um clima bastante favorável, inclusive por parte do aluno que se negava em participar. Foi a melhor decisão que poderíamos ter tomado para neutralizar as barreiras emocionais. O resultado foi tão positivo quanto o da turma anterior.
A mudança
No encerramento, como responsável por essa área, o psicólogo fez questão de também fazer alguns comentários. Seguindo o exemplo do chefe, cumprimentou a dedicação dos participantes e falou da sua satisfação pelo aprendizado. Nunca ninguém soube do que havia acontecido, só eu e o diretor de RH. Antes de partir, liguei para ele novamente para agradecer e contar do final feliz que tivemos. Fomos contratados para ministrar mais dois cursos.
Uma lição importante dessa história é a de que sempre pode existir um meio mais eficiente para atingirmos os objetivos pretendidos. Às vezes são recursos inusitados, mas que podem estar à nossa mão. Ligar para o diretor foi uma saída que não estava nos planos, mas ajudou muito naquela circunstância.
Nada é por acaso?
Quantas vezes após essa ocorrência pensei como teria sido mais difícil e arriscado se não tivéssemos aquela ficha de registro do diretor. Refleti também no que havia me levado a tomar a iniciativa de começar a registrar os alunos exatamente naquele momento. Foi providencial.
Teria sido alguma intuição? Ou apenas fruto dos pensamentos que se transformaram em sementes para aquela colheita tão oportuna?
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