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Maternidade: uma missão invisível
(Foto: Guillaume de Germain/Unsplash)
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Enquanto eu tentava equilibrar a panela de sopa com uma mão e acalmar o mais novo com a outra, minhas filhas começaram a discutir por um brinquedo na sala. A casa estava uma confusão – risadas, choros e a TV em volume alto.

Foi nesse caos cotidiano que, por um momento, me peguei pensando: “Será que alguém percebe realmente o quanto a maternidade pode ser desafiadora?”

Entre acalmar uma criança e servir o jantar, me dei conta de como essa rotina pode passar despercebida para o mundo exterior.

A jornada silenciosa da maternidade

Quando nos mudamos do Brasil, há quase sete anos, estava cheia de expectativas e sonhos, mas também enfrentando o desafio de criar meus filhos em um país estrangeiro, com uma cultura e idioma diferentes.

Ser mãe longe da família e dos amigos próximos intensificou muitas das dificuldades que já existiam.

E, com o tempo, percebi que, apesar de todo o meu esforço e dedicação, havia uma constante sensação de que meu papel como mãe era invisível para a sociedade ao meu redor.

Recentemente, me deparei com uma pesquisa que revelou algo que muitas de nós, mães, já sentimos na pele: a sensação de invisibilidade.

A não-existência da mulher

Essa sensação não é apenas minha. A pesquisa mostra que muitas mães ao redor do mundo se sentem assim, independentemente de onde vivam.

A maternidade, com todas as suas demandas emocionais, físicas e mentais, muitas vezes, parece ser uma jornada solitária.

No meu caso, lidar com a solidão, a saudade e o esforço diário para proporcionar o melhor para meus filhos em uma realidade culturalmente distinta, apenas reforçou esse sentimento de invisibilidade.

A dualidade entre o amor e a invisibilidade

Ser mãe é um ato de amor incondicional, mas também é um papel que pode nos deixar vulneráveis à invisibilidade.

Ao longo dos anos, aprendi a lidar com a dualidade de amar meus filhos intensamente e, ao mesmo tempo, sentir que meu esforço não é reconhecido ou valorizado como deveria.

Lembro-me de tantas noites sem dormir, preocupada com o bem-estar de meus filhos, ou das inúmeras vezes que sacrifiquei meus próprios sonhos e aspirações para garantir que eles tivessem o melhor.

No entanto, quando converso com outras mães, percebo que essa é uma realidade compartilhada. Muitas de nós sentimos que as demandas da maternidade são vistas como algo natural, quase como uma expectativa básica da sociedade. Essa percepção, porém, desconsidera o enorme peso emocional e físico que carregamos.

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Uma história de resiliência

Um episódio que me marcou profundamente foi quando, alguns anos atrás, passei por um período particularmente difícil. Estava tentando equilibrar as demandas da maternidade com o desafio de me adaptar a uma nova cultura e encontrar meu próprio espaço em um país estrangeiro e até mesmo dentro de mim.

Um dia, exausta e emocionalmente desgastada, sentei-me à mesa da cozinha, após colocar as crianças para dormir, e chorei. Chorei por me sentir sozinha, por estar longe de muitas pessoas que amo, e por sentir que todo o meu esforço passava despercebido.

Mas, foi nesse momento de vulnerabilidade que percebi algo importante: apesar de tudo, eu estava resistindo.

Eu estava fazendo o meu melhor, dia após dia, para criar meus filhos em um ambiente saudável e amoroso, mesmo que, às vezes, o mundo não parecesse notar. E isso, por si só, já era uma vitória.

Naquele instante, compreendi que, embora a sociedade muitas vezes não reconheça o valor do nosso trabalho como mães, ele não deixa de ser vital e transformador.

Reconhecendo o valor da maternidade

O que essa experiência me ensinou e o que a pesquisa confirma, é a importância de reconhecermos o valor do que fazemos.

Ser mãe é, sem dúvida, uma das tarefas mais difíceis e importantes que podemos assumir. E, embora a sociedade ainda precise evoluir muito para reconhecer plenamente o valor da maternidade, acredito que o primeiro passo é começarmos por nós mesmas.

Devemos valorizar nossas próprias conquistas, por menores que pareçam, e lembrar que o impacto que temos na vida de nossos filhos é imensurável.

Precisamos compartilhar nossas histórias, apoiar umas às outras, e continuar a lutar por um reconhecimento mais justo e real do nosso papel.

A visibilidade começa dentro de nós

A jornada da maternidade é única para cada mulher, mas o sentimento de invisibilidade é algo que muitas de nós compartilhamos. No entanto, acredito que a mudança começa dentro de nós. Ao reconhecermos e valorizarmos o que fazemos, damos o primeiro passo para reivindicar a visibilidade que merecemos.

Então, da próxima vez que você se sentir invisível, lembre-se: o seu trabalho é importante, seu amor é poderoso e sua presença na vida de seus filhos é insubstituível. Nós, mães, somos as verdadeiras heroínas de nossas histórias, e é hora de começarmos a nos enxergar assim.

Como reivindicar sua visibilidade

Cinco passos para redescobrir o valor da maternidade e reivindicar sua visibilidade

  • Reconheça seus esforços diários. Anote suas conquistas diárias, mesmo as pequenas. Ao final da semana, reveja sua lista e valorize o impacto positivo que você tem na sua própria vida e na de seus filhos.
  • Pratique o autocuidado. Encontre momentos para você mesma, mesmo que sejam apenas alguns minutos por dia. Cuidar de si é essencial para manter a saúde mental e emocional, permitindo que você continue a cuidar dos outros.
  • Converse com outras mães. Compartilhe suas experiências com outras mães, seja pessoalmente ou em grupos online. Essa troca pode ajudar a aliviar o sentimento de solidão e invisibilidade, além de fortalecer laços e criar uma rede de apoio.
  • Busque e ofereça reconhecimento. Celebre as conquistas das outras mães ao seu redor e não tenha medo de pedir reconhecimento pelo que você faz. Pequenas palavras de incentivo e gratidão podem fazer uma grande diferença.
  • Reafirme seu valor diariamente. Comece o dia com uma afirmação positiva sobre seu papel como mãe. Algo simples como “Eu sou uma mãe forte e tudo o que faço importa” pode ajudar a reprogramar sua mente para reconhecer seu próprio valor.

Por fim, convido você a conhecer mais sobre o universo da parentalidade e desenvolvimento pessoal, seguindo minhas duas indicações:

Cocoon Family:
o Cocoon Family é mais do que uma ferramenta; é um verdadeiro aliado para mães e pais que buscam equilibrar as demandas da maternidade e paternidade com a serenidade que suas famílias merecem.
Essa plataforma oferece um espaço seguro e intuitivo para organizar a vida familiar, desde a gestão de horários até a criação de momentos de conexão com os filhos. Em um mundo onde o tempo parece sempre escasso, o Cocoon Family nos convida a encontrar harmonia na rotina, ajudando a transformar as tarefas diárias em oportunidades de proximidade e cuidado.

Para assistir: dirigido por Anna Muylaert, o filme brasileiro Que Horas Ela Volta?, de 2015, explora as complexidades da maternidade através da história de Val, uma empregada doméstica que, ao longo dos anos, desistiu de criar sua própria filha para cuidar do filho dos patrões. O filme reflete sobre a invisibilidade do trabalho das mães e cuidadoras, os sacrifícios silenciosos que elas fazem, e as consequências emocionais dessas escolhas. A recomendação desse filme se conecta ao tema do artigo, destacando as nuances da maternidade e a invisibilidade que tantas mulheres enfrentam em diferentes contextos.

Newsletter: eu escrevo todos os meses em Vida Simples, mas se você quer acompanhar conteúdos que não aparecem por aqui, eu mantenho uma curadoria do que escrevo em meu site Correnteza, no Substack.

Lembre-se, cada dia é uma oportunidade única de aprendizado e crescimento. Desejo a você dias de luz e amor. Obrigada por estar aqui e até o mês que vem!

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