Indecências desnudas
Não, este ensaio não é sobre o que você poderia estar pensando. No nosso espaço editorial, não há lugar para nudez e muito menos para obscenidade. Mas ainda assim, estamos diante de coisas indecentes. E que estão totalmente visíveis. A descoberto. Nuas.
Não, este ensaio não é sobre o que você poderia estar pensando. No nosso espaço editorial não há lugar para nudez e muito menos para obscenidade. Mas ainda assim, estamos diante de coisas indecentes. E que estão totalmente visíveis. A descoberto. Nuas.
No dicionário, indecente é tudo que não é próprio, oportuno, adequado, incorreto, inconveniente, que fere o pudor, a moral, os bons costumes, que é obsceno, licencioso, chocante. E desnuda se refere a algo que está nu, despido, que se vê integralmente.
Chegou a hora de rever coisas que são realmente indecentes e estão diante dos nossos olhos. São totalmente visíveis porque estão despidas. Mas se você não parar para refletir sobre estas coisas, talvez nem note o quanto elas são indecentes.
A sugestão prática é que você comece fazendo a sua própria lista de coisas que considera indecentes. Não vai ser muito difícil e você nem terá muito trabalho. Mas é preciso praticar um certo desapego aos conceitos tradicionais de indecência, sempre relacionados com a nudez e o sexo. Atualmente, tem coisa muito mais indecente do que gente sem roupa se expondo ou se pegando. Mas se a gente não prestar atenção, pode nem notar.
Novas indecências
O ambiente ao nosso redor está cheio de novas indecências. De coisas que não são próprias nem oportunas. São inadequadas e incorretas. E muito inconvenientes. Como estão todas claramente visíveis sob a luz do sol, chegam a ser agressivas. Talvez seja por isto mesmo que a gente nem perceba. Ou se percebe, prefere ignorar para não se sentir agredido.
Aqui, vou ilustrar o que disse com um exemplo que, tenho certeza absoluta, já foi vivido por vocês! E o meu exemplo é bem simplório, até mundano. Mas igualmente indecente !
Relembre-se aí no tamanho das coisas que se compra, o volume, o peso, a quantidade do produto comprado. Está tudo cada vez menor. Indecentemente menor! Com menos quantidade, menos conteúdo. E o preço ou aumentou ou está aparentemente igual, mas, de fato, igual ao que comprava em uma embalagem com quantidade maior. Essa redução é posta visível sem nenhuma camuflagem. Estão aí, diante dos seus olhos, de forma desnuda. Sem nenhum disfarce! Uma indecência nua na prateleira do comércio mais próximo, ao alcance da sua mão.
Indecências ao quadrado
Sim, existem indecências em várias dimensões e que se multiplicam. Por isto, me refiro a elas ao quadrado.
Nesse campo particular, nada mais indecente do que as garrafas que contenham qualquer líquido, do refrigerante à água mineral. Elas estão cada vez menores, com menos conteúdo, e vão na absoluta contramão de tudo que queremos para melhorar o meio ambiente.
Puxa aí pela memória e você vai se lembrar que as garrafas de água eram de vidro e tinham um litro. Ou, no mínimo, 750 mililitros. Depois, nos restaurantes começaram a aparecer garrafas de plástico PET, de meio litro. Em seguida, as de 310 ml. E agora, chegamos às garrafas PET com 300 ml. Cada uma dessas garrafinhas, com conteúdo um pouco maior do que apenas um copo, gera uma enorme quantidade de lixo com reciclagem trabalhosa.
O conteúdo diminuiu, o preço provavelmente aumentou e a quantidade de poluentes ambientais também explodiu. Te entregam menos produto pelo seu dinheiro. E também entregam mais agressão ao meio ambiente. Realmente, uma indecência ao quadrado.
Não se entregue à sedução das indecências desnudas
A primeira atitude é estar atento a essas coisas indecentes que, apesar de desnudas, podem passar diante dos seus olhos sem que você as perceba. Ao notar uma delas, tente se desviar da sedução que podem representar. Seduções são menos óbvias e normalmente, essas sim, estão camufladas em grandes conveniências para o momento em que se apresentam. A sedução é apenas para te fazer ignorar a indecência.
É essencial perceber que alguma coisa está lhe parecendo indecente para que, se surgir uma oportunidade, você possa evitá-la. Por exemplo, procurar aquele restaurante que coloca uma jarra de água na sua mesa, usa copos de vidro e permite que você dispense o canudinho de plástico. Tudo bem mais decente.
Uma coisa é certa: indecências não fazem bem a ninguém!
FÁBIO GANDOUR é formado em Medicina e dedicou-se à pesquisa científica. Tem ampliado suas preocupações comportamentais e ambientais, na esperança de que uma modifique a outra. Se acontecer, teremos um mundo mais decente.
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