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Existem emoções ruins ou mesmo emoções negativas?
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Nossa sociedade privilegia algumas emoções e desqualifica outras. Se não estivermos atentos, vamos assimilando e perpetuando esse padrão. Assim, acreditamos que existem emoções boas ou ruins, positivas ou negativas, e, sem perceber, seguimos fragmentados em nós mesmos.

Outro dia, enquanto brincava com minha filha no berçário, vi uma criança chorando e rolando no chão. Era uma típica cena que alguns chamariam de birra ou drama, talvez. A mãe dizia para a garotinha, que tinha menos de 2 anos de idade: “Shhh! Pare de chorar! Pare de chorar!”. E eu fiquei me perguntando: por que fazemos isso com nossas crianças? Por que as ensinamos a esconder suas emoções? Por que temos vergonha que elas chorem ou gritem na frente das pessoas? Por que achamos que crianças “bem-educadas” não devem se comportar dessa maneira? Onde foi que aprendemos isso?

Nesse mesmo dia, uma outra mãe me disse, toda encantada: “Ahhh, que lindo! Sua filha adora sorrir!”. E isso me tocou. Então sorrir pode e é admirado. Mas chorar, principalmente em público, não é tão bem aceito assim. Curioso, não?! Depois crescemos e reproduzimos esse padrão. Passamos a conter nossa raiva e nosso choro. Não choramos no trabalho, porque não é bem-visto. Muitos não choram na frente do parceiro, da parceira, dos pais ou dos filhos. E acabam chorando no banheiro, em silêncio, no carro ou quando não tem ninguém por perto.

Dessa forma, vamos acreditando que algumas emoções são boas e bem-vindas, enquanto outras, não. E é melhor que sejam evitadas. Mas será mesmo que isso é verdade?

Não existem emoções ruins

Quando fiz minha formação em Coaching Ontológico – uma abordagem que conecta linguagem, corpo e emoção – escutei uma frase que me marcou. Julio Olalla, um dos maiores mestres e pioneiro nessa área, disse logo na primeira conferência: “Permitam-se sentir tristeza”. Que convite poderoso e libertador! Especialmente para nós, adultos, que fomos aprendendo, com o passar dos anos, que sentir tristeza não é uma coisa boa. Pois afinal, como já cantava Vinícius de Moraes em seu Samba da Benção: “É melhor ser alegre que ser triste.”.

Felizmente, essa formação me deu a oportunidade de revisitar essa crença. E transformou a maneira como enxergo e lido com minhas emoções. Aprendi que não há emoção boa e ruim.

Na verdade, todas as emoções devem ser bem-vindas, porque cada uma delas nos traz uma mensagem. A grande questão é que muitos de nós não foram ensinados a ouvir as emoções.

E muito menos a compreender o convite que elas nos fazem. Assim, alguns acabam tentando evitar aquelas emoções que não são muito bem aceitas socialmente. Como a tristeza, o medo ou a raiva, por exemplo. E essa exclusão do domínio emocional é um dos grandes inimigos da nossa aprendizagem na vida.

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Qual a mensagem por trás de cada emoção?

Se quisermos mudar esse cenário, e, inclusive, a maneira como criamos nossas crianças, precisamos aprender mais sobre o nosso mundo emocional. Coisa que, aliás, deveria fazer parte do currículo escolar. Como podemos passar tantos anos na escola e sair de lá com tão pouco conhecimento emocional? Aprender a reconhecer nossas emoções, acolhê-las e decodificar as mensagens que estão por trás de cada uma delas é fundamental! Assim podemos usar todas as emoções a nosso favor.

Se nos permitirmos sentir a tristeza, ela vem nos contar que perdemos algo que era muito importante para nós. Ela pede um tempo de introspecção, recolhimento e silêncio. Esse tempo nos ajuda a aceitar a perda e aquilo que foi perdido pode finalmente ir. Isso é necessário para que possamos seguir em frente. A raiva, denuncia que algo é injusto e nos mobiliza a agir em busca da justiça. Ela nos dá forças para estabelecermos limites e nos respeitarmos. O medo, aponta para alguma ameaça. E, assim, nos ajuda a sermos mais cuidadosos e precavidos. A ternura nos dá condições de acolhermos os demais, algo tão necessário nesses tempos em que vivemos. E a famosa alegria, nos convida a festejar e a celebrar a vida.

Como você tem lidado com suas emoções?

Sinto que uma pausa para refletirmos um pouco sobre como temos lidado com nossas emoções, também pode ser bem-vinda. Não acha? Se aceitar esse convite, te proponho algumas questões.

  • Você julga que algumas emoções são boas e outras ruins?
  • Se sim, quais são as que você considera ruins?
  • O que você faz com elas? O que você perde ao fazer isso?
  • Gostaria de acolher alguma emoção que tem excluído? Qual?
  • Como você lida com a raiva? Sabe usá-la para impor limites?
  • Você se permite sentir tristeza? Se permite chorar? Ou veste uma armadura para se proteger e que é muito pesada de carregar?
  • Você usa o medo a seu favor? Consegue agir apesar dele ou ele te paralisa?
  • Você celebra suas conquistas e as coisas boas que têm na vida ou anda distante da alegria?
  • Sabe demostrar ternura ou sente dificuldade? O que precisa aprender com suas emoções?

Integrar o todo

Desejo que esse mergulho no seu mundo emocional possa lhe ajudar a ser cada vez mais coerente com o seu sentir.

Quando incluímos e respeitamos nossos sentimentos e emoções, passamos a ser mais íntegros, mais plenos.

Parece que Vinícius também sabia da importância de acolhermos todas as emoções, porque complementou a canção dizendo assim: “Mas pra fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza. É preciso um bocado de tristeza. Senão, não se faz um samba não”. Sábio poeta!

Leia todos os textos da coluna de Luana Fonseca em Vida Simples.


LUANA FONSECA (@almapelomundo) é terapeuta, autora do livro “Pode ser melhor” (Bambual Editora) e faz atendimentos à distância. Há alguns anos vem se dedicando a aperfeiçoar suas habilidades emocionais. E considera a chegada de sua filha Eva, uma bela escola.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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