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É possível criar filhos sem feri-los com nossos próprios traumas
Gabe Pierce | Unsplash
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Neste artigo:

Quando temos filhos e estamos atentas a eles, aprendemos na prática que estar presente de corpo não significa criar um vínculo suficientemente bom com a criança. Também aprendemos que criar este vínculo depende de desconstruir muito do que aprendemos que era amor e cuidado na nossa própria vivência infantil, pois esta é a nossa referência vivida, corporificada. Afinal, como criar filhos sem feri-los com nossos traumas do passado?

Quebrando as crenças de infância

Lembro que quando criança odiava as explosões emocionais e o distanciamento da minha mãe, a violência verbal e o comportamento ameaçador do meu pai, mas lembro de normalizar completamente estas vivências. Para mim, famílias eram assim: oscilavam entre muito caos, medo e alguma paz momentânea.

Só comecei a questionar se precisava mesmo ser assim, quando comecei a ter contato com outras famílias, e a ter mais consciência das diferenças entre elas e a minha.

Veja, eu não duvido que minha mãe e meu pai me amavam. Mas, hoje, consigo ver que era um amor adoecido pelo próprio amor que eles receberam dos pais e não conseguiram questionar, destrinchar, enfim, elaborar. Como eles não deram contornos próprios ao amor que receberam, este foi repassado a mim com os tons transgeracionais do silêncio, do medo e da raiva reprimida.

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Perguntas fundamentais para criar filhos sem feri-los com traumas do passado

Que bom poder questionar:

  • Como é o vínculo que EU quero criar com a criança que veio de mim?
  • Que herança emocional quero deixar para a continuação desta família?
  • Preciso ser leal ao que eu não gostei de ter vivenciado, mas que era prática conhecida e aprovada?
  • E a pergunta mais dura: amor que se mistura com violência e negligência continua sendo amor?

Pode ser difícil quando percebemos que o amor que recebemos pode ter sido não aconchego, mas chão frio. Base, mas desprotegida. Ao mesmo tempo que é difícil, também é “liberta-dor“. E, com este espaço liberado, podemos criar algo mais próprio, mais autoral, menos engessado, sem precisar subscrever aos não-ditos familiares que sequer acreditamos ser bons, mas que seguimos porque não queremos desapontar.

Uma nova maneira de educar é possível

Apontando para o que é nosso e não do outro, podemos despontar numa relação mais respeitosa – não sem conflitos e dias ruins – e mais próxima, mais íntima, com nossos filhos.

O nosso desamparo pode estar escondido por uma fantasia de amparo. Acessar estas partes mais vulneráveis vai depender de certa generosidade e capacidade de recolher os próprios cacos para colar tudo de novo.

Poder contar com apoio (e, às vezes, o apoio vem em formatos diversos: uma música, um texto, a palavra de uma amiga, um colo do marido, a sessão com o analista, o olhar da filha, o grupo de mães), e poder olhar para as partes mais machucadas sem colapsar. Por fim, entender-se responsável por ensinar um amor saudável, porque aprendeu a aceitá-lo e a vivê-lo.

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